BUENOS AIRES, 30 de jul de 2008 às 23:07
Argentina experimentou uma versão diluída de todas as ideologias, e já é hora de optar por caminhos apoiados na urgência de servir à população, disse Dom Carmelo Giaquinta, Arcebispo Emérito de Resistência (Argentina).
“A Argentina fez uma experiência diluída de quase todas as ideologias. Sem chegar ao extremo que estas conheceram em outras latitudes, não por isso deixamos que provar seu amargor. O terror de Estado da década de 70 emulou as masmorras e torturas da SS nazista e da polícia soviética. Ainda se olha para um balcão onde apareça um líder a quem aclamar para e ficar em formação em colunas detrás dele, como faziam muitos países europeus nos anos 30. Melhor que nenhum regime soviético, inventamos várias fórmulas para confiscar em um instante as economias das pessoas. E podemos oferecer receitas do mais cru capitalismo para colocar num instante a milhões por baixo da linha da pobreza”, disse o Arcebispo em uma recente homilia.
O Prelado denunciou ao político que “esmaga, humilha, grita, cala, atemoriza”, a quem “tememos, mas não respeitamos como autoridade” porque “é um impaciente, que pode parecer eficaz, mas logo cairá pelo chão, junto com aqueles que se submetam a ele de maneira servil”.
Dom Giaquinta explicou a respeito que “a impaciência tem graus. Em algum caso pode chegar ao paroxismo e incapacitar para exercer a autoridade” e “deste grau de impaciência há um passo ao ‘gorilismo’”. Mas como “este ‘gorilismo’ primitivo não fica bem nos círculos cultos”, advertiu, “reveste-se muitas vezes com as vestes de uma ‘ideologia’”.
O Prelado advertiu que “se as ideologias são fruto da impaciência, a política o é da paciência”. E sublinhou que “a vocação política particular é talvez a mais nobre de todas as vocações seculares. Pois, ao procurar o bem comum, facilita o cumprimento das demais vocações: à vida, ao trabalho, à ciência, à arte. Facilita, inclusive, a vocação religiosa”.
Entretanto, lamentou que “depois do retorno da democracia, o Congresso, que aboliu as leis de obediência devida, atribua poderes desmedidos ao Poder Executivo”.
“Facilmente caímos no messianismo”, disse o Prelado, “apenas se elege um novo presidente, fala-se do ‘modelo de país’ que este propõe, em vez de falar do modelo de país que se elabora permanentemente no parlamento”.
Por último fez menção ao bicentenário e manifestou que “aos cidadãos toca decidir se em 2016 celebraremos o Bicentenário de uma República seriamente representativa e federal. Ou se nos contentaremos com uma formalidade verbal”.
“Os cidadãos cristãos também têm uma palavra a dizer, cada um segundo sua consciência, iluminada pela fé”, concluiu.