ROMA, 7 de ago de 2009 às 09:18
O Subsecretário Geral das Nações Unidas, Giandomenico Picco, destacou a importância da Encíclica Caritas in veritate para a sociedade atual, precisando como esta encíclica social de Bento XVI ressalta, no meio do processo de globalização, a importância da fraternidade da família humana e como expõe propostas concretas nas quais ressoa a esperança para construir um mundo melhor.
Ao iniciar seu artigo publicado no L'Osservatore Romano, Picco explica como a encíclica adverte que embora a globalização aproxime as pessoas não as torna fraternas necessariamente; e como este conceito da fraternidade deve ser tomado em conta para transformar as estruturas sociais.
"Nos olhos –a única parte do rosto que podia ver– do libanês mascarado que eu tive que encapuzar e levar de noite pelas ruas de Beirute, procurava uma proximidade humana. Teriam me servido muito naquela ocasião outras palavras da encíclica que são muito queridas pelo Papa Bento: e estas são, 'a religião sempre deve ser purificada pela razão para mostrar seu autêntico rosto humano", relata.
"Na Caritas in veritate encontrei sementes de uma visão do futuro ordenado internacional que também estão em meu modo de ler a realidade e na minha história pessoal multicultural como filho de zonas limítrofes e trabalhadores da mediação entre pessoas em conflito", prossegue Picco.
Depois de indicar que o Santo Padre explica o importante papel que deve desempenhar cada uma das pessoas individuais e os governantes, o Subsecretário destaca que "a encíclica promove o conceito de 'responsabilidade de proteger', inclusive se os estados não estão em capacidade de fazê-lo".
E esta, acrescenta Picco fazendo referência ao tratado de Westafalia que, explica, em 1648 permitiu o nascimento do Estado-nação moderno e que se plasmou com as revoluções da França e Estados Unidos, "é a nova fronteira do direito internacional que vai além de Westfalia. Inclusive mais importante porque se refere ao futuro ordenado do mundo e o chamado a liberar-nos daquelas ideologias que 'simplificam com freqüência de modo artificial a realidade'. Uma esperança que encontra hoje, em várias partes do mundo, uma resistência forte devida talvez ao temor que a nova complexidade de um mundo globalizado de fato provocou em muitos".
Entre estes, indica logo, estão os fundamentalismos que em distintos países se opõem à fraternidade através do conflito. "A isto –precisa– a encíclica responde: 'A esperança alenta a razão e lhe dá a força para orientar a vontade'. Daqui nasce a necessidade de gerar esperança".
Bento XVI axorta também, diz Picco, a "uma reforma do sistema das Nações Unidas e das estruturas internacionais econômicas e financeiras. Espero que isto não se faça somente em um nível numérico: um Conselho de segurança muito grande, por exemplo, seria uma reforma modesta e poderia gerar também uma redução de sua eficácia. Antes de nada, deveria estar na reforma o método de trabalho de vários órgãos das Nações Unidas".
Ao final falou sobre a necessidade de entender o mundo como uma grande "família humana" como sublinha o Papa em sua encíclica, Picco considera que "o emergir da identidade múltipla, em minha opinião, não só mudará o sistema internacional, mas também o próprio Estado-nação e fará mais realizável o conceito de família humana. Então, talvez tenhamos líderes que saibam sê-lo inclusive sem necessidade de um inimigo".