VATICANO, 10 de jan de 2005 às 15:33
O Papa João Paulo II constatou a situação de uma humanidade golpeada mas cheia de esperança, durante sua esperada avaliação da situação mundial, que realiza habitualmente ao início de ano em um discurso que dirige ao Corpo Diplomático na Santa Sé.
Durante o encontro com os embaixadores nesta manhã na Sala Régia, o Santo Padre assinalou que os sentimentos de alegria, próprios do encontro de hoje, “foram ofuscados pela enorme catástrofe natural que em 26 de dezembro passado afetou diversos Países do sudeste asiático, alcançando inclusive parte da costa leste africana”.
“Esta catástrofe –continuou o Papa- marcou com uma grande dor o ano que terminou: um ano provado também por outras calamidades naturais, como são outros furacões devastadores no Oceano Índico e no mar das Antilhas, assim como a praga de lagostas que desolou vastas regiões da África do Norte”.
O Santo Padre se referiu em seguida a “outras tragédias” de ação humana, como “as bárbaras ações de terrorismo que ensangüentaram o Iraque e outros Estados do mundo, o cruel atentado de Madri, o massacre terrorista de Beslan, as violências desumanas sobre a população de Darfur, as atrocidades perpetradas na região dos Grandes Lagos na África”.
João Paulo II comentou em seguida “o grande panorama da humanidade com os graves problemas comuns que a atormentam, mas também com as grandes e sempre viva esperanças que a animam. A Igreja católica, universal por natureza, está sempre implicada diretamente e participa das grandes causa pela quais o homem atual sofre e espera”.
A alimentação
Ao referir-se ao tema da alimentação, o Pontífice destacou que a terra “tem recursos abundantes e variados para alimentar a todos seus habitantes, presentes e futuros”.
“Apesar disto –continuou-, os dados publicados sobre a fome no mundo são dramáticos: centenas de milhões de seres humanos sofrem gravemente desnutrição e, cada ano, milhões de crianças morrem de fome ou por suas conseqüências”.
Para responder a esta situação, disse o Papa, “requer-se uma vasta mobilização moral da opinião pública e, mais ainda, dos homens responsáveis pela política, principalmente naqueles países que alcançaram um nível de vida satisfatório e próspero”.
Terrorismo e paz
O Pontífice fustigou duramente o “fenômeno cruel e desumano do terrorismo, flagelo que alcançou uma dimensão planetária desconhecida pelas gerações anteriores”.
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O Papa lamentou também a que, apesar de que a paz seja o sonho de todas as gerações, “Quantas guerras e conflitos armados -entre Estados, entre etnias, entre povos e grupos que vivem em um mesmo território estatal- que de um extremo ao outro do globo causam inumeráveis vítimas inocentes e são origem de outros muitos males!
“Seguirei intervindo –advertiu o Sucessor de Pedro- para indicar as vias da paz e para convidar às percorrer com valentia e paciência. À prepotência se deve opor a razão, ao enfrentamento da força o enfrentamento do diálogo, às armas apontadas a mão estendida: ao mal o bem”.
O Papa adicionou que como exemplo, “certamente privilegiado, de uma paz possível, bem pode mostrar-se a Europa: nações que há um tempo eram cruelmente inimizades e enfrentadas em guerras mortais se encontram hoje juntas na União Européia”.
“Deus ama o homem e quer para ele a paz. Nós estamos convidados a ser instrumentos ativos da mesma, vencendo o mal com o bem”, insistiu.
O desafio da liberdade
Sobre o desafio da liberdade, João Paulo II recordou a Declaração Universal dos Direitos do Homem em que se destaca que “todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança de sua pessoa”.
“Certamente, a liberdade dos Estados é também sagrada porque devem ser livres e, precisamente, para poder levar a cabo de maneira adequada seu dever primitivo de proteger, além da vida, a liberdade de seus cidadãos em todas suas justas manifestações”.
O Papa aproveitou para recordar que “no núcleo mais íntimo da liberdade humana está o direito à liberdade religiosa, porque se refere à relação mais essencial do homem: sua relação com Deus”.
“Não há que temer –concluiu o Papa- que a justa liberdade religiosa seja um limite para as outras liberdades ou prejudique a convivência civil. Ao contrário, com a liberdade religiosa se desenvolve e florece também qualquer outra liberdade".
“Não há que temer que a liberdade religiosa, uma vez reconhecida à Igreja católica, interfira no campo da liberdade política e das competências próprias do Estado. A Igreja sabe distinguir bem, como é seu dever, o que é do César e o que é de Deus”, concluiu.