RIO DE JANEIRO, 11 de fev de 2010 às 15:13
Em um recente artigo aparecido na página da Arquidiocese do Rio de Janeiro, da qual é Arcebispo Emérito, o Cardeal Eugênio Araújo Sales escreveu que certas Teologias da Libertação, em especial as que mais espaço ocupavam na opinião pública, caíram em um grave unilateralismo, afastaram-se deste verdadeiro Evangelho libertador. Reconhecendo que a Igreja no Brasil sofre ainda devastadoras sequelas de tal desvio doutrinário, o Cardeal compartilha algumas reflexões importantes tomadas de mensagens e documentos dos Papas Bento XVI e João Paulo II.
“O apelo urgente que o Papa Bento XVI endereçava aos Bispos dos Regionais 3 e 4 da CNBB, em visita “ad límina” a 5 de dezembro 2009, não se limitou aos Bispos que estavam presentes, mas, como sempre nessas visitas, se dirige ao Episcopado inteiro e a toda a Igreja no Brasil”, manifestou o Cardeal Sales.
Fazendo memória da orientação da Santa Sé no Documento “Libertatis Nuntius”, Dom Eugênio destacou que “este, já na primeira linha, afirma que “o Evangelho é a mensagem da liberdade e a força da libertação”. Daquele documento, a Igreja recebia grande luz; mas não faltava a animosidade dos que queriam obscurecer e difamar essa doutrina”.
“Com palavras claras e sempre muito mais convidativas para uma reflexão serena do que repreensivas, o Papa lembrou a gravidade da crise, provocada, também e essencialmente na Igreja no Brasil, por uma teologia que tinha, em seu início, motivos ideais, mas que se entregou a princípios enganadores. Tais rumos doutrinários da Teologia chamavam-se Teologia da Libertação”, explicou o purpurado.
Dom Eugênio recalcou também que “Hoje ainda, a Igreja no Brasil, em alguns lugares, sofre consequências dolorosas daqueles desvios”. Ademais, o arcebispo emérito afirmou que “ao relativizar, silenciar ou até hostilizar partes essenciais do “depósito da fé”, a Teologia da Libertação negligenciava “a regra suprema da Fé da Igreja, que provém da unidade que o Espírito Santo estabeleceu entre a Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério vivo”, diz Bento XVI, citando as palavras do Papa João Paulo II”.
Em seu artigo o Cardeal Sales também esclareceu que “com palavras concisas e fortes, o documento “Libertatis Nuntius” sobre a Teologia da Libertação falava da justa “aspiração à libertação como um dos principais sinais” do tempo moderno. Especialmente “nos povos que experimentam o peso da miséria”,
explicou.
“Infelizmente, certas Teologias da Libertação, as que mais espaço ocupavam na opinião pública, caíram em um grave unilateralismo. Para o Evangelho da libertação é fundamental a libertação do pecado. Tal libertação exige “por consequência lógica a libertação de muitas outras escravidões, de ordem cultural, econômica, social e política”, todas elas derivadas do pecado. Muitas Teologias da Libertação afastaram-se deste verdadeiro Evangelho libertador. Identificaram-se, coisas em si muito boas, com as graves questões sociais, culturais, econômicas e políticas, mas já não mostrando seu real enraizamento no Evangelho, embora vagamente citado, e chegaram até a apelar explicitamente à “análise” marxista”, assinalou o Cardeal.
Estas teologias, afirma Dom Araújo Sales que “silenciavam, ou ignoravam, que “na lógica marxista não é possível dissociar a «análise» da «práxis» e da concepção da história”. Assim, “a própria concepção da verdade encontra-se totalmente subvertida”, explicou.
Mais adiante referindo-se ao necessário compromisso com os pobres, Dom Eugênio Sales explica que “se este compromisso não se enraíza na dignidade que Deus dá ao homem, tal Teologia, que se apresenta como Libertadora, é na realidade traidora dos pobres e de sua real dignidade (Introdução). “Certo número de teses fundamentais (da TL) não são compatíveis com a concepção cristã do homem”, manifestou.
Finalmente o Cardeal Sales destaca que “é quase um juramento que o Papa conclama os Bispos e agentes de Pastoral de todo o Brasil: “Que, no âmbito dos entes e comunidades eclesiais, o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras da Santa Cruz”, conclui o Arcebispo Emérito do Rio citando o final da mensagem de Bento em seu Discurso aos Bispos brasileiros do Grupo V em visita “ad limina” em dezembro de 2009.
O artigo de Dom Eugênio na íntegra pode ser lido em: http://www.arquidiocese.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm