Roma, 4 de set de 2010 às 07:09
Segundo o Dr. Carlo Bellieni, um médico italiano da área de neonatalidade, a “pedofobia”, ou temor às crianças, é um obstáculo para a realização plena dos direitos das crianças na sociedade de hoje. Em um artigo publicado no L'Osservatore Romano para marcar o 20º aniversário de uma convenção da ONU sobre os direitos da criança, ele apresentou argumentos para fazer que as crianças, nascidas e por nascer, sejam mais aceitas pela sociedade.
O Dr. Carlo Bellieni é um colaborador freqüente do jornal L'Osservatore Romano em questões de saúde, especialmente de bioética. Em um artigo nesta quinta-feira, escrito para marcar o aniversário da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, ele enviou um relatório recente que disse que as crianças ainda são "invisíveis" mesmo depois de duas décadas da adoção do documento. A Convenção de 1990 das Nações Unidas promoveu 54 artigos descrevendo proteção e cuidados especiais para as crianças do mundo.
Comentando um artigo de maio de 2010 na revista médica britânica "The Lancet" que afirmava que a criança permanece "invisível" no mundo de hoje, o Dr. Carlo Bellieni escreveu que isto se deve à falta de políticas comuns entre as nações que assegurem a proteção das crianças . Mas acima de tudo, disse ele, é devido ao "fato de que nós respiramos propaganda anti-natal em todos os lugares. Nós transformamos a criança em um 'direito', nós só a aceitamos se ele ela estiver “na medida certa”, antes e depois de nascida."
Segundo a visão de hoje, exagerou o Dr. Carlo Bellieni, a criança só tem direito se ela responde a certas normas estabelecidas, uma idéia que ele chamou de uma "premissa terrível para os direitos universais."
A incapacidade de muitos em aceitar a criança, disse o médico, se deriva do fato de que hoje os adultos têm dificuldade em reconhecer a dependência humana. Uma criança, explicou, "nos obriga a reconhecer a nossa fragilidade e dependência pessoal - algo que no fundo nos assusta."
Sublinhando que se trata de "uma sociedade com medo e fóbica que rejeita a criança", ele listou vários sinais do temor às crianças (pedofobia) existente na cultura contemporânea.
As crianças, segundo ele, há muito tempo deixaram de " simplesmente brincar" por conta própria e "de sujarem-se", por exemplo. "É uma sociedade pedofóbica", ressaltou ele, que só permite que uma criança nasça depois de ser submetida a uma bateria de testes, que as vê como um "direito dos pais", e que assiste os pais "congelá-las como pequenos embriões só para (depois) sufocá-los com brinquedos com tal de encobrir a própria incapacidade deles de estarem presentes", afirmou.
A "cultura pedofóbica" atinge também as escolas, asseverou o médico, apontando a forma como as crianças são bombardeadas com informações como se fossem adultos, quando as crianças estão unicamente "desesperadamente em busca de jogos sociais e criativos."
Dr. Carlo Bellieni também culpou a mídia por uma mentalidade infantil e temerosa, afirmando que esta promove a idéia de que "começar uma família é proibido" e a atitude de que só as crianças que são geneticamente e culturalmente homogêneas são aceitáveis. Dadas essas idéias, o médico italiano neonatal disse que não deveria ser surpreendente o fato de que os pais sejam "incapazes de aceitar a criança."
O Dr. Carlo Bellieni, acrescentou: "a sociedade pedofóbica por sua natureza, seleciona e discrimina, e se reconhece os direitos, acaba por reconhecê-los seletivamente ..."
Comentando sobre a arena política, ele disse que os políticos devem tomar cuidado para que tendências ou idéias "pedofóbicas"não sejam incorporadas em suas contas ou nas maneiras que o planejamento urbano é empreendido.
A criança, concluiu o médico, "tem todos os direitos humanos e o primeiro direito é que (os adultos) saibam escutá-lo e entendam seus verdadeiros pedidos, mesmo quando ela não possa falar."