BRASILIA, 29 de out de 2010 às 17:43
Depois do discurso do Papa aos bispos brasileiros do Regional Nordeste V, no qual o Santo Padre recordou que seria falsa qualquer defesa dos Direitos Humanos que não compreendesse a defesa do direito à vida, a candidata do PT, Dilma Rousseff ofereceu algumas declarações à imprensa nas quais defende que as “3 milhões e 500 mil mulheres” que abortam anualmente no Brasil não deveriam ir ao cárcere. “Não acredito que ninguém em sã consciência recomende que se prenda esses milhões de mulheres”, defendeu a presidenciável. Dilma alegou que “a cada dois dias morre uma mulher nessa circunstância”, ou seja, provocando o aborto. Segundo cifras oficiais, o sacerdote Berardo Graz, o “Padre pela Vida” desmente o dado da petista.
Ao ser perguntada em Brasília sobre a mencionada alocução do Papa Dilma afirmou que não via relação entre este discurso e a sua campanha, na qual reiteradas vezes a candidata afirmou que no seu governo o aborto será tratado como tema de saúde pública.
“Eu acho que é a posição do Papa e tem de ser respeitada. Encaro que ele tem direito de se manifestar sobre o que ele pensa, é a crença dele, e ele está encomendando uma orientação”, afirmou.
O jornalista católico Reinaldo Azevedo criticou esta afirmação da candidata dizendo que a posição do Papa não é “a crença dele”, mas a posição da Igreja Católica.
“É a crença de mais de um bilhão de católicos no mundo inteiro, para os quais o papa é a máxima autoridade religiosa”, afirmou o blogger da Veja.
O discurso de Dilma é contraditório. A candidata se diz “pessoalmente contra” o aborto, mas defende sua despenalização, como o fez anteriormente em entrevista à Folha em 2007 e à Revista Marie Claire em 2009. A petista, em sua carta aos evangélicos, se comprometeu a manter a legislação que penaliza o aborto com reclusão de 1 a 3 anos para a mulher que realiza o aborto em si mesma ou consente que outra pessoa o faça e 3 a 10 anos de cadeia para a pessoa que faz o aborto em uma mulher sem seu consentimento, exceto no caso de estupro ou no caso de risco à vida da mãe.
No primeiro turno da campanha Dilma afirmou no debate da UOL que aborto deveria estar disponível, e portanto de forma legal, para as mulheres porque recorrem a ele “no desespero”.
Dilma alega que por ser ilegal as mulheres pobres morrem por terem que realizar o aborto de forma insegura “com agulhas de tricô” e “chás absurdos”. Na entrevista de ontem Rousseff afirmou ainda: "sei que morre a cada dois dias uma mulher nessa circunstância e não acredito que ninguém em sã consciência recomende que se prenda esses milhões de mulheres". A candidata afirmou que o número de mulheres que abortam no Brasil é de 3.5 milhões e que “outros dizem que são 5 milhões e 300 mil”. Dilma defendeu ainda que nem sequer existem prisões suficientes para tantas mulheres no país, criticando a atual legislação perante a qual o aborto é um crime.
Os números da candidata do governo não coincidem com os números do próprio governo, no DataSUS.
Se fizermos as contas com as cifras de Dilma, a candidata estaria afirmando que no Brasil a cada ano morreriam 182 mulheres (uma a cada dois dias) por aborto provocado. Em um recente vídeo o Padre pela vida, o sacerdote Berardo Graz, coordenador da Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB, denuncia a falsidade destes números. Segundo o “Padre Pela Vida” das 1.590 mortes maternas registradas pelo DataSUS no período 2007 “só 200” foram por causa de aborto”. O Pe. Graz faz uma ressalva explicando: “Aborto ainda não especificado, porque dentre destas 200, várias morrem por aborto espontâneo”, ou por alguma patologia da reprodução como por exemplo, a gravidez ectópica”. “Na realidade vítimas de morte por aborto clandestino ou aborto provocado não chegam a 100, ou até menos”, assevera o sacerdote, assegurando que “dentre todas as causas de morte de mulheres, o aborto é a última”.
Segundo o portal de notícias G1, “a curetagem após aborto foi a cirurgia mais realizada no Sistema Único de Saúde (SUS) entre 1995 e 2007, segundo levantamento do Instituto do Coração (InCor), da Universidade de São Paulo. Com base em dados do Ministério da Saúde, os pesquisadores analisaram mais de 32 milhões de procedimentos nesse período”. No entanto a própria autora do estudo adverte que "as informações disponíveis no DataSUS não permitem diferenciar a curetagem resultante do aborto espontâneo da do provocado". Mesmo supondo que estes 32 milhões de aborto realizados em um período de 12 anos, foram provocados teríamos uma média de 2.6 milhões abortos anuais, quase 1 milhão a menos do que a candidata afirmou. Portanto, as cifras superiores a 3 ou até 5 milhões de mulheres citadas por Dilma, não têm fundamento nos números oficiais.
Não seria a primeira vez que membros do governo Lula, como a ex-ministra da Casa Civil e agora candidata, Dilma Rousseff, oferecem dados aumentados sobre o número de mortalidade de mulheres culpando a atual legislação pela suposta morte de centenas ou até milhares de mulheres que devem realizar o aborto na clandestinidade. Em um recente envio o boletim Situação da Defesa da Vida (SDV) afirma que estas mortes, "não são milhares, como afirma (o Ministro da Saúde) Temporão à imprensa, nem 115, 152 ou 156, como foi afirmado pela Ministra Nilcéia em documento oficial entregue ao CEDAW. (...) As mortes por falhas de tentativa de aborto provocado (às quais se referia Dilma Rousseff), as únicas realmente registradas como tais nos dados do DataSUS, foram, respectivamente nestes anos de 2002, 2003 e 2004, em número de 6, 7 e 11 mortes”, afirma o boletim do SDV.
Para ver estes números de mortalidade materna segundo o DataSUS recomendamos o seguinte vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=WwFmp2g3bHY&feature=email
Para ver o vídeo do Pe. Berardo Graz, coordenador da Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB:
http://www.youtube.com/watch?v=mvvfe0YOwf4&feature=player_embedded