Na Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Bento XVI ressaltou que Santa Joana D’Arc  -condenada a morrer na fogueira em 1431 por juízes "incapazes de ver a beleza de sua alma-, constitui "um exemplo de santidade para os leigos comprometidos na vida política, sobre tudo nas situações mais difíceis".

Na Sala Paulo VI o Papa destacou que Joana D’Arc é uma "das “mulheres fortes” que, no fim da Idade Média, levaram sem medo a grande luz do Evangelho nos momentos complexos da história".

Filha de camponeses acomodados, sua vida se emoldura no conflito bélico que se conhece como a Guerra dos Cem Anos, entre a França e a Inglaterra. Aos 13 anos, Joana sentiu através da "voz" de São Miguel Arcanjo "a chamada do Senhor a intensificar sua vida cristã, e também a comprometer-se em primeira pessoa pela libertação de seu povo".

Joana fez voto de virgindade e redobrou suas orações, participando com um novo empenho na vida sacramental. "A compaixão e o empenho da jovem camponesa francesa diante do sofrimento do seu povo tornou mais intenso o seu relacionamento místico com Deus", destacou Bento XVI.

Ao princípio de 1429 Joana começa sua ação e superando todos os obstáculos encontra o futuro rei da França, Carlos VII, quem em Poitiers a submete a um exame por parte de alguns teólogos que "expressam um juízo positivo; nela não há nada mau, é uma boa cristã".

Em 22 de março desse mesmo ano Joana dita uma carta ao Rei da Inglaterra e aos seus homens que assediavam a cidade de Orleans. "sua proposta é de verdadeira paz na justiça entre dois povos cristãos, invocando os nomes do Jesus e Maria", disse o Papa. Mas esta é rechaçada e Joana deve lutar pela liberação da cidade. Outro momento importante é a coroação do Rei Carlos em Rheims no dia 17 de julho de 1429.

O Papa Bento recorda logo que a paixão da Joana começa no 23 de maio de 1430 quando cai prisioneira de seus inimigos em Compiegne e é conduzida à cidade de Rouen, onde terá lugar seu longo e dramático processo que conclui com a condenação à morte.

O Santo Padre indica que à frente do processo estiveram dois importantes juízes eclesiásticos: o Bispo Pierre Cauchon e o inquisidor Jean le Maistre, mas na realidade é conduzido por um grupo de teólogos da Universidade de Paris, "eclesiásticos franceses que pertencem ao grupo político oposto ao de Joana e que têm um juízo a priori negativo sobre sua pessoa e sua missão".

"Este processo é uma página terrível na história da santidade e também uma página que ilumina o mistério da Igreja, que ao mesmo tempo é sempre Santa e sempre necessitada de purificação".

"À diferença dos Santos teólogos que tinham iluminado a Universidade de Paris, como Boaventura, Tomás de Aquino ou Duns Escoto, estes juízes são teólogos que carecem de caridade e humildade para ver nesta jovem a ação de Deus" e não vêem "que os mistérios de Deus são revelados no coração dos pequenos enquanto permanecem ocultos aos sábios e doutos. Os juízes de Joana são radicalmente incapazes de compreender, de ver a beleza de sua alma, não sabiam que condenavam uma santa".
Joana morre na fogueira no dia 30 de maio de 1431, com um crucifixo nas mãos e invocando o nome de Jesus. Vinte e cinco anos depois, o Processo de Anulação aberto por Calisto III "conclui com uma sentença solene que declara nula a condenação e ressalta a inocência de Joana e sua perfeita fidelidade à Igreja. Joana D’Arc seria canonizada em 1920 por Bento XV".

"O Nome de Jesus, invocado por essa santa até os últimos momentos de sua vida terrena, era como o contínuo respiro da sua alma, como um hábito do seu coração, o centro da sua vida. Esta santa tinha entendido que o Amor abraça toda a realidade de Deus e do ser humano, do céu e da terra, da Igreja e do mundo".

"A liberação de seu povo é uma obra de justiça humana que cumpre em caridade, por amor de Jesus. O seu é um formoso exemplo de santidade para os leigos comprometidos na vida política, sobre tudo nas situações mais difíceis".

"Em Jesus, Joana contempla também a realidade da Igreja, a ‘Igreja triunfante’ do Céu, como a ‘Igreja militante’ da Terra. Segundo suas palavras, ‘é tudo uma coisa só: o Nosso Senhor e a Igreja’. E no amor de Jesus, Joana encontra a força para amar a Igreja até o fim, também no momento de sua condenação”, enfatiza o Santo Padre.

Finalmente o Santo Padre assinalou que "com seu luminoso testemunho Joana convida a uma medida alta da vida cristã: fazer da oração o fio condutor dos nossos dias, tendo plena confiança no cumprimento da vontade de Deus, seja ele qual for; viver a caridade sem favoritismos, sem limites, e atingindo, como ela, no Amor de Jesus, um profundo amor pela Igreja".

Finalmente o Papa saudou os presentes em vários idiomas, entre eles o português:
“Saúdo, com afeto, a todos vós, amados peregrinos de língua portuguesa, desejando que esta peregrinação a Roma vos encha de luz e fortaleza no vosso testemunho cristão, para confessares Jesus Cristo como único Salvador e Senhor da vossa vida: fora Dele, não há vida nem esperança de a ter. Com Cristo, ganha sentido a vida que Deus vos confiou. Para cada um de vós e vossa família, a minha Bênção!”.

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