PARIS, 13 de fev de 2011 às 13:32
A Conferência Episcopal da França (CEF) rechaçou a manipulação do primeiro "bebê-remédio" do país, concebido através da fertilização in vitro e a seleção genética, e cujo destino é curar o seu irmão mais velho.
O pequeno Umut Talha, cujo nome em turco significa esperança, nasceu há poucos dias com um peso de 3 quilogramas e 650 gramas no Hospital Antoine Béclère em Paris. Foi "desenhado" para curar um dos seus irmãos de uma enfermidade genética grave, a beta talassemia, que causa a anemia e exige repetidas transfusões de sangue.
O bebê nasceu logo de um duplo diagnóstico genético pré-implantacional que permite a seleção dos embriões -incluindo o aborto dos que os especialistas considerem "não aptos" - para que o bebê nasça sem a enfermidade e possa converter-se em doador compatível para seus irmãos.
No futuro, através das células extraídas do cordão umbilical de Umut Talha, será possível realizar o transplante que permitiria a cura do irmão maior.
Sobre este caso, os bispos franceses recordaram em um comunicado de 9 de fevereiro que "querer curar um irmão por humanidade honra o homem" e "acompanhar no sofrimento os pais que têm um filho gravemente doente é um dever da sociedade".
Os prelados compreendem a tristeza dos pais e sua esperança na medicina, mas "legalizar o uso dos seres humanos mais vulneráveis para curar outro não é digno do homem. Conceber um filho para utilizá-lo -embora seja para curar a outro ser humano- não é respeitoso à sua dignidade".
"O utilitarismo é sempre uma regressão. É perigoso para uma sociedade não respeitar os interesses primitivos da criança estipulados na Convenção dos direitos da criança", acrescenta o texto.
Finalmente fizeram um chamado "à correta investigação para que se encontre mais tratamentos terapêuticos apropriados".
O Arcebispo de Paris, Cardeal André Vingt-Trois, diante da assembléia nacional no último 8 de fevereiro reunida para tratar o projeto de lei sobre bioética, rechaçou o uso dos "bebês" já que isso "suporia a exploração de um ser humano a favor de outro".
Não se pode "utilizar alguém ao serviço exclusivo do outro, pois assim esta criança seria uma ferramenta para procurar a cura de outra criança. Nos converteremos em ferramentas?" questionou.
O primeiro “bebê remédio” nasceu nos Estados Unidos no ano 2000, posteriormente também a Espanha e a Bélgica utilizaram bebês com o mesmo fim.
A Igreja se opõe à manipulação de pessoas como ferramentas para a investigação científica, e diferencia o ato humano de querer ajudar o próximo do uso de pessoas indefesas como ferramenta de investigação.
Além disso, a doutrina católica se opõe à fecundação in vitro por duas razões primordiais: primeiro, porque se trata de um procedimento contrário à ordem natural da sexualidade que atenta contra a dignidade dos esposos e do matrimônio; segundo, porque a técnica supõe a eliminação de seres humanos em estado embrionário tanto fora como dentro do ventre materno, implicando vários abortos em cada processo.