MADRI, 1 de mar de 2011 às 13:33
Em todos os anos que leva trabalhando com doentes terminais, o médico Jordi Valls -um dos mais destacados peritos espanhóis em cuidados paliativos- nunca recebeu um único pedido de eutanásia.
Em uma entrevista concedida ao jornal ABC, Valls relata os desafios de enfrentar diariamente a morte de seus pacientes, todos doentes terminais, da Fundação Instituto São José, dos Irmãos de São João de Deus, onde dirige a equipe de atenção psicossocial para doentes avançados da Obra Social de La Caixa, que já atendeu onze mil pacientes.
Para Valls a eutanásia não é, "de nenhuma forma", um pedido freqüente. "Trabalhei durante anos em atenção direta a pacientes terminais, e ninguém jamais me pediu a eutanásia. Costuma-se se dizer que o melhor tratamento contra a eutanásia é um bom cuidado paliativo, pois a maioria dos que dizem 'eu não quero viver' resulta que estão dizendo na verdade: 'eu não quero viver desse jeito, e assim que se trata o ‘desse jeito’, habitualmente já se não repete o 'não quero viver'. É preciso ser sensíveis, caridosos, e atender desde o lado mais humanista da medicina", afirma.
O médico sustenta que sua Unidade de Cuidados Paliativos não é um lugar triste. "Ninguém nesta casa nem em nenhum outro centro recebe mais recompensa e cuidados que aqueles que trabalham nela. As pessoas (tanto o doente como seus familiares) sentem-se agradecidas porque os escuta, os acompanha e fazem mais agradável o processo da morte", revela o doutor.
Valls considera que "é injusto morrer sem saber que está morrendo, porque talvez há muitas coisas a serem resolvidas. Cada um gosta de encerrar seus assuntos, e situar a pessoa nesta esfera de realidade pode acrescentar paz a sua morte. Se você, por exemplo, tem uma irmã com quem você não fala há anos e você está morrendo, pois certamente o melhor tratamento que a ser aplicado é ligar para sua irmã, fazer as pazes e ficar tranqüilo. Em cuidados paliativos se aprende que às vezes o melhor tratamento da dor não é a morfina".
Além disso, recorda que "não só é preciso cuidar dos que vão morrer, mas também prestar atenção aos quem sobrevivem. Essa é uma carência que possivelmente os hospitais têm, onde se faz um trabalho de cuidados físicos muito bom, mas muitas vezes nem as necessidades sociais nem as psicológicas estão atendidas. E muito menos as espirituais, sejam de tipo religioso ou não".