VATICANO, 2 de mar de 2011 às 13:49
Na Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Bento XVI falou sobre São Francisco de Sales, quem ensina com sua vida que "Deus atrai a si o homem com vínculos de amor, isto é, de verdadeira liberdade: "porque o amor não tem forçados nem escravos, mas reduz tudo à sua obediência com uma força tão deliciosa que, se nada é tão forte quanto o amor, nada é tão amável quanto a sua força".
Na audiência celebrada na Sala Paulo VI, o Papa falou sobre este santo bispo e Doutor da Igreja que viveu entre os séculos XVI e XVII. Nascido em 1567, de uma nobre família francesa, quando ainda era jovem, São Francisco, "refletindo sobre o pensamento de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, teve uma crise profunda que o levou a se interrogar sobre a própria salvação eterna e sobre a predestinação de Deus a seu respeito, sofrendo como verdadeiro drama espiritual as principais questões teológicas do seu tempo".
Assim "no ápice da provação, dirigiu-se à igreja dos Dominicanos, em Paris, abriu o seu coração e rezou assim: "Aconteça o que acontecer, Senhor, tu que tens tudo na tua mão, e cujas vias são justiça e verdade; seja o que for que tu tenhas estabelecido para mim...; tu que és sempre justo juiz e Pai misericordioso, eu te amarei, Senhor [...], te amarei aqui, ó meu Deus, e esperarei sempre na tua misericórdia, e sempre repetirei o teu louvor... Ó, Senhor Jesus, tu serás sempre a minha esperança e a minha salvação na terra dos vivos".
O Santo Padre explicou que Francisco foi ordenado sacerdote em 1593 e consagrado bispo de Genebra em 1602, "um período em que a cidade era fortaleza do Calvinismo, tanto que a sede episcopal encontrava-se "exilada" em Annecy. Pastor de uma diocese pobre e atormentada, em uma paisagem montanhosa da qual conhecia bem tanto a dureza quanto a beleza".
Com Santa Joana Francisca de Chantal, fundou a Ordem da Visitação, "caracterizada por uma consagração total a Deus vivida na simplicidade e humildade". São Francisco de Sales morre em 1622.
"Em sua obra 'Introdução à vida devota', dirige um convite que naquela época podia parecer revolucionária. É o convite a ser totalmente de Deus, vivendo em plenitude a presença no mundo e as tarefas do próprio estado".
"Nascia assim aquele apelo aos leigos, aquele cuidado pela consagração das coisas temporais e pela santificação do cotidiano, sobre as quais insistirão o Concílio Vaticano II e a espiritualidade do nosso tempo".
Referindo-se a outra obra fundamental do santo, "Tratado do amor de Deus", o Papa ressaltou que "em uma época de intenso florescimento místico, é uma verdadeira e própria 'summa', e ao mesmo tempo uma obra literária fascinante".
"Segundo o modelo da Sagrada Escritura, São Francisco de Sales fala da união entre Deus e o homem desenvolvendo toda uma série de imagens de relação interpessoal. O seu Deus é pai e senhor, esposo e amigo, tem características maternas e de zelo, é o sol que mesmo à noite é misteriosa revelação".
"Encontramos no tratado do nosso Santo uma meditação profunda sobre a vontade humana e a descrição do seu fluir, passar, morrer, para viver no completo abandono não somente à vontade de Deus, mas àquilo que a Ele apraz, ao seu “bon plaisir”, ao seu beneplácito. No ápice da união com Deus, além dos repentes de êxtase contemplativa, coloca-se aquele refluir de caridade concreta, que atenta para todas as necessidades dos outros e que ele chama de "êxtase da vida e das obra".
“Adverte-se bem, lendo o livro sobre o amor de Deus e ainda mais as outras tantas cartas de direção e de amizade espiritual, aquele conhecedor do coração humano que foi São Francisco de Sales. A Santa Joana de Chantal escreve: "[…] Eis a regra da nossa obediência que vos escrevo em letras maiúsculas: FAZER TUDO POR AMOR, NADA POR FORÇA - AMAR MAIS A OBEDIÊNCIA QUE TEMER A DESOBEDIÊNCIA. Deixo-vos o espírito de liberdade, não enquanto aquele que exclui a obediência, porque essa é a liberdade do mundo; mas aquele que exclui a violência, a ânsia e o escrúpulo", afirmou o Pontífice.
Bento XVI disse logo que "em uma época como a nossa, que busca a liberdade, também com violência e inquietudes, não deve escapar a atualidade deste grande mestre de espiritualidade e de paz, que entrega a seus discípulos o "espírito de liberdade", aquela verdadeira, no cume de um ensinamento fascinante e completo sobre a realidade do amor".
"São Francisco de Sales -conclui o Papa- é um testemunho exemplar do humanismo cristão; com o seu estilo familiar, com parábolas que têm às vezes o bater das asas da poesia, recorda que o homem traz inscrita no profundo de si a nostalgia de Deus e que somente n'Ele encontra a verdadeira alegria e a sua realização mais plena".
Ao final da Catequese, o Papa se dirigiu aos peregrinos de língua portuguesa nas seguintes palavras:
Queridos amigos vindos dos países de língua portuguesa,
sede bem-vindos! São Francisco de Sales lembra que cada ser humano traz inscrita no íntimo de si a nostalgia de Deus. Possais todos dar-vos conta dela e por ela orientar as vossas vidas, pois só em Deus encontrareis a verdadeira alegria e a realização plena. Para tal, dou-vos a minha bênção. Ide em paz!