Roma, 7 de mar de 2011 às 10:51
O Arcebispo siro católico de Mossul, Dom Georges Casmoussa, deixará em breve este serviço pastoral após alcançar o limite de idade de 75 anos com a esperança de que os fiéis desta Igreja obtenham a liberdade e segurança que garantam a permanência dos cristãos no Iraque.
Dom Casmoussa, que guiou os católicos iraquianos do noroeste do país desde 1999, foi testemunha tanto da repressão política como do extremismo religioso que ameaça extinguir os rastros católicos de uma terra marcada pelo Evangelho desde as origens da Igreja.
A Santa Sé anunciou sua retirada no dia 1º de março, mas o pastor ainda seguirá trabalhando pela Arquidiocese de Mossul, a capital cristã histórica de uma região com uma rica mistura de caldeus sírios, assírios e católicos de rito latino que convivem com cristãos sírios e armênios ortodoxos em meio a uma maioria muçulmana.
Em uma entrevista com o Grupo ACI no último 25 de fevereiro, Dom Casmoussa recordou que a população cristã foi reduzida à metade na última década, principalmente devido à emigração causada pela violência e a insegurança.
Dom Casmoussa acredita que o Iraque está agora em um ponto de quebra e urge que as autoridades encontrem uma maneira de garantir a igualdade das pessoas de todas as religiões, ou considerem a criação de uma nova região autônoma onde os cristãos possam viver e praticar sua religião livremente.
O Arcebispo explicou que os cristãos no Iraque procuram uma solução que lhes dê igualdade de direitos e igualdade de acesso aos serviços, a infra-estrutura, o emprego e principalmente liberdade e a segurança.
A vida se tornou mais difícil para os cristãos iraquianos que permanecem no país pois têm cada vez menos poder para exigir seus direitos. As terras e propriedades dos cristãos que deixaram o país são vendidas ao governo e aos não cristãos.
"Se perdermos nossas casas e nossas terras, temos que escolher ser uma minoria ou sair. É um grande problema", explicou e reiterou a urgência de "mudar algumas leis no Iraque, para ter direitos como outros".
Do mesmo modo, explicou que os cristãos estão apanhados no fogo cruzado do poder das lutas políticas. "O extremismo islâmico não é a única parte que comete atos terroristas", disse.
"Não podemos negar que no Iraque exista um projeto para ter um Estado islâmico, é uma realidade. Mas, não tudo é feito por eles. Vivemos junto com os muçulmanos durante centenas de anos sem nenhum temor. Sim, cada comunidade está separada pela religião, mas não pela vida", indicou.
Em Mossul, o número de cristãos foi reduzido à metade desde o começo do conflito e hoje são aproximadamente 50 000 pessoas. O número total de cristãos no Iraque também foi reduzido à metade e hoje restam entre 400 000 e 500 000 fiéis.
"Quando as pessoas perdem a confiança em seu país, perde-se a confiança em si mesmo em sua história e futuro", acrescentou.
Tudo o que pedem os cristãos, é obter "uma base para uma vida digna, com liberdade, os direitos e a segurança... para continuar a reconstrução de nosso país com nossos vizinhos, com nossos compatriotas muçulmanos".
"Negamo-nos a estar separados, pela lógica da vida e pelo respeito de um ao outro. Os cristãos são uma minoria no Iraque, na Síria, na Jordânia. Mas, não é uma boa razão, ou razão suficiente, que por ser uma minoria tenhamos menos direitos que outros", assinalou o Arcebispo.
O "grande projeto" agora é a reconstrução do país depois de tantos anos de guerra. "E, não podemos reconstruir sem paz, sem segurança. É a chave para o futuro, para os cristãos, os muçulmanos, para todos os cidadãos", concluiu.