ROMA, 23 de mar de 2011 às 12:51
O jornal vaticano L'Osservatore Romano (LOR) explicou o que realmente
aconteceu com um memorando de 1970 no qual alguns teólogos alemães
consideravam avaliar o celibato voluntário, e precisou que o então
professor Joseph Ratzinger e agora Papa Bento XVI não se uniu a esta
corrente, diante das versões jornalísticas que 40 anos depois o vinculam
a esta postura.
O artigo -publicado na edição de 19 de março do LOR- explica que o memorando de 9 de fevereiro de 1970 foi escrito pelo jesuíta Karl Rahner e logo foi enviado a todos os bispos da Alemanha.
Nesse texto estava escrito à mão os nomes de nove dos onze teólogos membros da Comissão Doutrinal da Conferência Episcopal Alemã, entre eles "Joseph Ratzinger, Regensburg".
O memorando, explica o LOR, "queria suscitar entre os participantes na (assembléia) plenária da Conferência Episcopal Alemã, que se reuniria em Essen entre o 16 e 19 de fevereiro desse ano, uma nova discussão sobre o celibato, em reação à difusão, em janeiro de 1970, de uma carta dos bispos de língua alemã sobre o ministério sacerdotal. Uma diretiva bíblico-dogmática na qual o tema do celibato tinha apenas um papel secundário".
Na sessão da Comissão Doutrinal de 30-31 de janeiro de 1970 discutiram as primeiras reações a esta carta dos bispos. Os professores Karl Rahner e Joseph Ratzinger, entre outros, desculparam-se por não participar de tal reunião.
Uma semana e meia mais tarde, o memorando promovido por Rahner, foi enviado aos bispos para persuadi-los sobre a "necessidade de uma profunda revisão e um exame mais detalhado da norma do celibato na Igreja latina na Alemanha e em todo o mundo".
Em um primeiro momento, prossegue o LOR, não se fez público o memorando. Mas como não obteve a reação que esperava dos bispos, Rahner decidiu difundi-lo e assim apareceu no fascículo de março de 1970 da revista Orientierung dos jesuítas suíços.
O dado chave desta publicação é que no texto do memorando só se mencionava o nome de três teólogos, entre os quais não se encontrava o de Joseph Ratzinger.
Além desta explicação que esclarece a postura do professor Ratzinger, o LOR reproduziu um extenso artigo de sua autoria publicado originalmente no dia 28 de maio de 1970, poucos meses depois do episódio do memorando, no qual o então teólogo de 42 anos de idade aprofundava sobre o ministério sacerdotal.
Uma das principais ideias desenvolvidas no texto é que o fundamento sacerdotal está no sacrifício da Cruz de Cristo, que morreu crucificado tendo vivido o celibato toda sua vida, obediente e fazendo a vontade de Deus.
O então sacerdote, professor de teologia dogmática de Ratisbona (Alemanha) e membro da Comissão Teológica Internacional explicava que embora em alguns momentos da história alguns questionaram e questionam alguns dos acentos sacerdotais, "isso não põe em dúvida o sacerdócio como tal, menos para nós a quem foi irradiado como tarefa".
"A Cruz é e segue sendo o fundamento e o contínuo centro do sacerdócio cristão que só pode encontrar seu cumprimento na disponibilidade do próprio eu pelo Senhor e pelos homens. Nisso está o peso da ordem deixada por Cristo a sua Igreja".
"A medida é Ele, o Senhor mesmo", prossegue.
"Disto é também testemunha São Paulo (o Apóstolo das gentes que foi martirizado e viveu celibatário), primeiro perseguidor de Cristo que pôs à disposição da força de Deus a própria debilidade e por isso se converteu no testemunho mais forte daquela graça cujo anúncio e cuja representação é e seguirá sendo a tarefa mais alta do ofício sacerdotal de todos os tempos".