ROMA, 12 de mai de 2011 às 13:22
Um detalhado relatório revelou que William Morris, retirado de seu cargo pelo Papa Bento XVI no último 2 de maio, desobedeceu durante anos o Santo Padre e o Vaticano, e persistiu em seu apoio a posições contrárias à doutrina católica como a ordenação sacerdotal de mulheres e casados, assim como o exercício e promoção da absolvição grupal no sacramento da penitência.
Conforme informou a agência CatholicNewsAgency do grupo ACI no dia da sua retirada do cargo, Morris também prefere vestir camisa e gravata antes que a vestimenta dos bispos e tem feito muito para minar a identidade e os ensinamentos católicos durante seu mandato.
O documento que agora vem à luz foi preparado por dois sacerdotes leais a Dom Morris, o Pe. Peter Schultz, Vigário Judicial da diocese; e o Padre Peter Dorfield, Ex-vigário Geral, ambos membros do colégio de consultores do Bispo formado por outros seis membros.
O relatório foi filtrado à imprensa australiana e mostra passo a passo o processo seguido a Morris desde o Vaticano que começou em 2006, e revela que a decisão de sua remoção não foi "repentina" como sugeriu o Bispo em uma carta na semana passada, mas uma "dolorosa conseqüência" de sua rebeldia.
O documento leva por título "Resumo da disputa de Dom Morris com os dicastérios romanos" e é um anexo à defesa de sete páginas do Bispo que foi enviada em 29 de abril a sacerdotes e líderes de outras denominações cristãs na região de Toowoomba.
Ambos os textos são parte de uma campanha, descrita no resumo, orquestrada para desacreditar a investigação do Vaticano e apresentar o Bispo Morris como uma "vítima da injustiça" neste assunto.
Na carta de sete páginas, os consultores alentam os líderes pastorais a usar estes documentos para dar "explicações apropriadas e precisas" aos paroquianos. Os autores expressam ademais sua "grande tristeza" e manifestam ter sido "profundamente afetados" pelo resultado da investigação.
Não só isso, mas também prometem "atenção profissional" para todos aqueles que se encontrem em "profundo luto pela retirada do Bispo Morris".
O resumo mostra ademais uma detalhada linha de tempo que contradiz os argumentos de Morris, onde se explica que ele estava totalmente informado dos cargos que lhe imputavam e que teve mais de quatro anos para corrigir tais abusos.
Além disso, explica que diversas autoridades vaticanas, incluindo o mesmo Papa Bento XVI, dedicaram muito tempo e energia para buscar convencer o Bispo Morris de seus erros, e só assim poder deixá-lo em seu posto de serviço.
A detalhada linha de tempo mostra o seguinte:
Fevereiro de 1993: Nos dia 10 o Bispo Morris toma posse de sua sede na Catedral de St. Patrick em Toowoomba. Imediatamente introduziu mudanças dramáticas na liturgia e no governo da Igreja. De acordo ao relatório dos consultores, também "rompeu a tradição e usou uma gravata na que bordou seu brasão, em vez de usar o clergy romano".
O relatório dos dois sacerdotes diz ademais que "o Bispo entregou a cada sacerdote uma gravata negra com o escudo episcopal e lhes disse que daí em adiante ia ser considerada como vestimenta clerical".
1993-2005: Um grupo de católicos preocupados, descritos no relatório como "uma pequena mas barulhenta minoria" iniciou uma "crescente campanha de queixas" aos escritórios do Vaticano. As queixas se centravam na promoção do Bispo da absolvição geral como uma alternativa à confissão pessoal.
Apesar de distintos pedidos do Vaticano para detê-la, o Bispo seguiu promovendo esta prática. Segundo os consultores "o assunto do uso da absolvição geral levou a uma disputa entre o Bispo e o Cardeal Arinze, Prefeito da Congregação (Vaticano) para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos".
Novembro 2006: O Bispo Morris escreve uma carta pastoral de Advento na que propõe a necessidade de explorar a ordenação de homens casados, das mulheres e o reconhecimento dos ministros de outras igrejas cristãs.
Dezembro 2006: O Bispo Morris recebe um fax no que se pede que vá a Roma em fevereiro de 2007 para reunir-se com os cardeais Giovanni Battista Re, então Prefeito da Congregação para os Bispos, William Llevada, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e Francis Arinze. O Prelado rechaçou viajar aduzindo "razões pastorais" que não especificou. Disse que estava em seus planos viajar a Roma mas recém em maio de 2007 e que então, poderia se reunir com os cardeais.
Janeiro 2007: O Cardeal Arinze envia uma carta para insistir neste assunto por sua urgência e em que assinala que o Bispo Morris devia apresentar-se em Roma em fevereiro. Novamente declinou a solicitude e disse que logo estaria disponível em maio, não antes.
Março 2007: O Bispo Morris recebe uma notificação da Congregação dos Bispos na que se explica que teve início um processo conhecido como visita apostólica (investigação), tarefa para a qual foi nomeado o Arcebispo de Denver (Estados Unidos), Dom Charles Chaput.
Abril 2007: Dom. Chaput chega a Toowoomba em 23 de abril para realizar a visita apostólica. O relatório dos sacerdotes consultores leais a Morris assinala que "o visitador chegou a Toowoomba, reuniu-se informalmente com o Bispo Morris, logo com o Conselho de Sacerdotes. Logo começou uma série de reuniões com várias instituições diocesanas, autoridades, sacerdotes, diretores de agências e fiéis locais (…) Os deslocamentos dentro da diocese prosseguiram na quarta-feira e quinta-feira (25 e 26 abril) As entrevistas se retomaram na sexta-feira e a manhã do sábado (27 e 28). Logo depois de uma entrevista final com o Bispo Morris ao meio dia do sábado, o visitador partiu e preparou seu relatório"
Maio 2007: Líderes da diocese se reúnem para conversar sobre a visita apostólica e como responder a ela. Segundo o documento "o clero e os líderes pastorais da diocese" decidiram enviar ao Vaticano uma carta de apoio a Dom. Morris. Três sacerdotes se negaram a assiná-la. Enquanto isso o Bispo está em Roma como havia anunciado. O relatório indica que "não houve nenhuma reunião com cardeais".
Setembro 2007: A Congregação para os Bispos no Vaticano envia a Morris um memorando com data 28 de junho no qual se solicita sua renúncia. O Bispo responde indicando que responderá antes de seu descanso de outubro.
Outubro 2007: A Congregação para os Bispos lhe envia outra carta, esta vez lhe informando que o pedido para que renuncie se faça em nome do Papa Bento XVI.
Novembro 2007: O Bispo Morris envia uma carta ao Cardeal Re, Prefeito da Congregação para os Bispos, na que oferece "cooperação e diálogo". Nela solicita uma reunião em Roma para janeiro de 2008. O Cardeal Re respondeu estabelecendo como data para tal reunião no 19 de janeiro de 2008.
Dezembro 2007: Morris reúne um grupo de conselheiros para recolher sugestões sobre como lutar com o Vaticano. Segundo o relatório dos consultores "o grupo também consultou a canonistas internacionais".
Janeiro 2008: No dia 19, conforme programado, o Bispo Morris se reúne em Roma com os Cardeais Re, Llevada e Arinze. Enfatizam que o mesmo Papa já solicitara a renúncia de Dom Morris. Em 24 de janeiro, o Bispo escreve uma carta aos cardeais dizendo-lhes que se sente incapaz de renunciar.
Fevereiro 2008: O Cardeal Re responde a carta do Morris de 24 de janeiro. Novamente se solicita a renúncia. O Bispo Morris responde então explicando que tem um grupo de conselheiros que o estão ajudando a preparar uma "Declaração de posição" para responder às críticas do Vaticano e ao pedido de renúncia.
Março 2008: O Bispo Morris envia sua "Declaração de posição" aos cardeais Re, Arinze e Llevada. Envia uma carta ao Tribunal da Signatura Apostólica, considerada a Corte Suprema do Vaticano. Nela solicita que lhe seja concedido o direito a defender-se dos cargos contra ele. Escreve também ao Pontifício Conselho para os Textos Legislativos pedindo uma definição do que constitui uma "causa grave" para remover a um Bispo sob o Direito Canônico (canon 401, 2)
Abril 2008: A Signatura Apostólica responde informando ao Bispo Morris que seu caso não é de competência do tribunal porque não se realizou procedimento legal algum.
Setembro 2008: O Pontifício Conselho para os Textos Legislativos responde indicando que a interpretação de "causa grave" deixa-se à determinação da Congregação para os Bispos.
Outubro 2008: O Cardeal Re envia uma carta em que solicita novamente ao Bispo Morris sua renúncia, caso contrário terá que ser removido se não o faz até novembro desse ano.
Dezembro 2008-março 2009: Em 19 de dezembro o Bispo Morris escreve ao Cardeal Re informando que não vai renunciar. Em 24 de dezembro escreve, separadamente, ao Papa Bento XVI solicitando uma audiência. Mais tarde foi informado que o Santo Padre o receberia em 4 de junho de 2009.
Junho 2009: Em 4 de junho o Bispo Morris é recebido pelo Papa. Assiste acompanhado pelo Arcebispo Phillip Wilson, Presidente da Conferência Episcopal Australiana. O Papa reitera seu pedido de que renuncie. O Bispo não responde. De acordo aos consultores autores do relatório: "o Bispo saiu da reunião indicando ao Arcebispo Wilson que não tinha intenção de renunciar a seu cargo de Bispo de Toowoomba".
Julho 2009: O Cardeal Re envia uma nova carta a William Morris exigindo novamente sua renúncia.
Novembro 2009: Dom Morris escreve ao Papa dizendo que, por questões de consciência, não renunciará.
Dezembro 2009: Em uma carta do dia 22, o Papa Bento XVI responde ao Bispo Morris recordando que não existem apelações às decisões papais. Os consultores assinalam em seu relatório o seguinte: "O Papa repetiu suas sérias preocupações em relação à posição de Dom Morris relacionadas à ordenação de mulheres e ao reconhecimento de outros clérigos como anglicanos e outras igrejas".
Janeiro 2010: O Arcebispo Wilson leva a Roma uma proposta do Bispo Morris de renunciar quando fizer 70 anos, em outubro de 2013 (A idade de retiro de um Bispo, conforme estabelece o Código de Direito Canônico, é 75 anos).
Fevereiro 2010: O Cardeal Re volta a escrever ao Bispo Morris indicando que o Papa aceitou esperar até maio de 2011 por sua renúncia.
Dezembro 2010: O Bispo Morris escreve ao Papa lhe solicitando permanecer em seu cargo mais tempo para poder lutar com um caso de suposto abuso sexual por parte de um ex-professor em uma escola católica em Toowoomba.
Fevereiro 2011: O Arcebispo Guiseppe Lazzarotto, Núncio Apostólico na Austrália, escreve ao Bispo Morris solicitando sua renúncia imediata. O Núncio informa ao Prelado que o Vaticano anunciará sua renúncia no dia 2 de maio.
Março 2011: O Bispo Morris escreve ao Núncio insistindo que não renunciará, mas que aceitará o anúncio do Vaticano em 2 de maio sobre seu "retiro antecipado".
Abril 2011: O Bispo Morris reúne a seu colégio de consultores quem unanimemente decide apoiar sua decisão de escrever uma carta pastoral para que "a diocese saiba do anúncio sobre o Prelado antes que pelos meios".
O relatório dos consultores diz ademais que o Bispo é inocente e criticam o Vaticano por negar-lhe a "justiça natural". Em 27 de abril fez-se o anúncio aos sacerdotes de sua diocese. Incluindo uma carta pastoral que ordena que deve lida em todas as Missas no fim de semana entre o dia 30 de abril e o 1 de maio.
Maio 2011: O Vaticano anuncia o retiro do Dom Morris de seu cargo. O anúncio foi feito em uma nota muito breve que dizia: "O Santo Padre retirou o Bispo William M. Morris do governo pastoral da diocese de Toowoomba, Austrália".
No dia 5 de maio, diversos sacerdotes e líderes pastorais se reuniram na Catedral St. Patrick para decidir como expressar seu apoio ao Bispo Morris. Decide-se então que as paróquias contarão a quem assiste às Missas para registrar qualquer possível oposição. Além disso, serão colocados livros em branco para escrever mensagens de apoio a Morris.