Roma, 9 de jun de 2011 às 17:44
O médico especialista em neonatologia e bioeticista italiano, Dr. Carlo Bellieni, assinala que a despenalização das drogas não resolve os muitos problemas que estas geram.
Em um artigo publicado no dia 8 de junho no L’Osservatore Romano titulado "A verdadeira cura é a prevenção", o perito responde assim ao chamado "Comitê Global de Políticas Antidrogas" que sugeriu no último 2 de junho despenalizar o consumo da maconha como uma medida para a luta contra as drogas.
Neste grupo participam o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso; o ex-secretário geral da ONU, Kofi Annan, o ex-presidente colombiano César Gaviria, o ex-presidente mexicano, Ernesto Zedillo, a ex-mandatária a Suíça Ruth Dreifuss, o escritor mexicano Carlos Fontes e o peruano que obteve o prêmio Nobel de Literatura 2011, Mario Vargas Llosa; entre outros.
O médico italiano explica que existem dois grupos de promotores da despenalização: uns que usam os meios televisivos para ter mais audiência e outros como o comitê, que acreditam que "liberalizando a droga se reduz o mercado da delinqüência".
"Ambos se equivocam: –precisa– os primeiros porque especulam de má fé com a debilidade da adolescência, os segundos porque a liberalização não tem feito desaparecer, por exemplo, os jogos de azar clandestinos e não reduziu o consumo de álcool".
Para o perito, "a droga não é em primeiro lugar um problema de delinqüência mas sim de um vazio de desesperança e de projeção, repleto de uma felicidade artificial que destrói o cérebro".
Depois de citar dois recentes estudos internacionais, um na Suíça e outro em Reino Unido, que mostram os efeitos nefastos da droga nos jovens, o Dr. Bellieni recorda que em julho de 2007 o jornal Lancet "mostrava que eliminando a maconha, a psicose da população diminuiria em 14 por cento".
Por estes motivos e pelo fracasso das políticas de despenalização, a American Academy of Pediatrics "pronunciou-se claramente contra a liberalização da cannabis (maconha). Por causa de seus efeitos nos jovens, além disso do risco de tumores, é contrária à idéia de uma cannabis terapêutica, que uma última análise a revela apenas como uma porta aberta à liberalização mais que como uma arma real contra a dor".
O perito explica logo que não se pode comparar a droga ao vinho ou ao tabaco porque o primeiro é um alimento e o segundo "não fazer perder a cabeça" como sim o faz a maconha.
Neste sentido, adverte, "a liberalização de uma substância nociva termina por fazer sentir injusta a luta contra as outras. E pode ser querida apenas por uma ideologia rançosa, a daqueles veteranos da resposta, que ainda pregam a falta de responsabilidade, ignorando o pranto das vítimas dos acidentes de trânsito causados por jovens drogados, os lamentos dos pais de suicidas ou as lágrimas dos intoxicados acabados, quando no melhor dos casos, estão em algum centro de reabilitação".
Para o médico italiano, esta perspectiva que busca a despenalização do consumo de maconha "é a ideologia de quem, como escrevia Pier Paolo Passolini, brincou de bancar o revolucionário e, chegado à velhice, lembra-se de ‘ter servido o mundo contra o qual, com zelo, levou adiante a luta’. E deixa aos jovens como presente apenas a solidão, cheia de droga".
O Dr. Bellieni qualifica esta maneira de pensar como uma "ideologia manca" que fracassa na luta e cujos resultados são vistos na Holanda, onde com políticas de abertura às drogas desde 1976 triplicou-se o consumo de maconha e heroína; ou na Suíça, onde experiências similares "acabaram em terminantes fracassos".
"A sede de significado e de amor –conclui– não se preenche com álcool ou droga. Assim só se gera marginalização".