LONDRES, 14 de jun de 2011 às 18:28
O escritor e produtor Terry Pratchett defendeu a transmissão do seu controvertido documentário deste 13 de junho na BBC chamado "Escolhendo morrer", sobre a eutanásia de Peter Smedley, um hoteleiro britânico multimilionário de 71 anos afetado de uma doença motora que foi à clínica Suíça Dignitas para acabar com sua vida.
A agência Efe assinala que para Pratchett, que apóia a legalização do suicídio assistido desde que foi diagnosticado com mal de Alzheimer em fase precoce, aqueles que sofrem uma enfermidade terminal deveriam poder decidir sobre sua vida. Ao ser perguntado sobre a razão de gravar o documentário, ele respondeu que "horroriza-lhe" a situação atual.
A transmissão do documentário na cadeia britânica BBC foi criticada por diversas organizações, que acusaram a emissora pública por promover o suicídio assistido e de alentar que outras pessoas sigam os passos de Smedley.
"Escolhendo morrer" começa quando Smedley abandona sua casa no Reino Unido e diz a Pratchett: "meu estado se deteriorou até o ponto de que preciso partir bastante cedo".
A produção termina com as imagens de Smedley ingerindo uma dose do fármaco Nembutal com chocolate, depois do qual se vê que respira com muita dificuldade e chama sua esposa Christine, com quem estiveram casado 40 anos, que sustenta sua mão enquanto morre.
O produtor também disse que apesar de ter presenciado como um homem era ajudado a morrer, seguia apoiando o suicídio assistido. Pratchett observou que "a falta de dignidade é motivo suficiente para algumas pessoas para matar a si mesmas”.
A cadeia britânica BBC também defendeu o documentário no qual se aprecia Peter Smedley tomando uma dose letal de barbitúricos na clínica Suíça Dignitas, onde nos últimos 12 anos foram assassinadas mais de 1 000 pessoas.
No último 3 de junho outro famoso ativista e colaborador de mais de 130 suicídios assistidos também foi notícia, o chamado "Doutor Morte", Jack Kevorkian, falecia em um hospital de Detroit (Estados Unidos) à idade de 83 anos.
Kevorkian, quem também filmou um dos suicídios assistidos nos quais colaborou, foi condenado a 25 anos de prisão por homicídio em segundo grau, saindo do cárcere em 2007.
Em sua juventude, o "Doutor Morte" fazia ronda especiais em busca de pacientes moribundos para manter-lhes as pálpebras abertas com fita adesiva e fotografar suas córneas com o fim de observar se os vasos sangüíneos mudavam de aspecto no momento da morte.
Convencido de que nenhuma experiência era exagerada, no princípio da década de 60 já ensaiava transfusões de sangue de cadáveres a pessoas vivas e buscava permissões para experiências com réus condenados à morte por considerar "um privilégio único realizar provas com um ser humano que vai morrer".
O que é a eutanásia?
Etimológicamente a palavra "eutanásia" provém do grego "eu" (bem) e "Thánatos" (morte), quer dizer "boa morte" ou "bem morrer". Entretanto, esta palavra adquiriu pouco a pouco outro sentido, um pouco mais específico: procurar a morte sem dor da pessoa que sofre.
A doutrina católica sobre a eutanásia está contida nos números 2276, 2277, 2278 e 2279 do Catecismo da Igreja nos quais se destaca com claridade que "Sejam quais forem os motivos e os meios, a eutanásia direta consiste em pôr fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inadmissível".
"Assim, uma ação ou uma omissão que, em si ou na intenção, gera a morte a fim de suprimir a dor constitui um assassinato gravemente contrário à dignidade da pessoa humana e ao respeito pelo Deus vivo, seu Criador. O erro de juízo no qual se pode ter caído de boa-fé não muda a natureza deste ato assassino, que sempre deve ser condenado e excluído".
Neles também se explica a necessidade dos cuidados paliativos ante o sofrimento, que constituem uma forma privilegiada da caridade desinteressada e por esta razão devem ser alentados.
No ano 2004 o então Presidente da Pontifícia Academia para a Vida, o agora Cardeal Elio Sgreccia, referiu-se à legalização da eutanásia infantil na Holanda assinalando que a Igreja sempre rechaça esta prática.
Em declarações ao jornal vaticano L’Osservatore Romano disse que "nada nem ninguém podem dar-nos permissão para matar um ser humano inocente, já seja um feto, um embrião, uma criança, um adulto, um ancião ou um doente em sua incurável agonia".
Também precisou que "ninguém pode reclamar uma responsabilidade tão homicida para si mesmo ou para outra pessoa. Nenhuma autoridade pode impô-lo ou permiti-lo legitimamente. Isto é uma violação da lei divina, uma ofensa para a dignidade da pessoa humana, um crime contra uma vida e um ataque contra a humanidade".
Mais recentemente, em fevereiro deste ano, o Pontifício Conselho para a Pastoral da Saúde, presidido pelo Arcebispo Zygmunt Zimowski, divulgou uma mensagem na qual animava os católicos que são médicos ou trabalham em centros de saúde a fazer uso do direito à objeção de consciência ante a eutanásia e o aborto, para enfrentar "uma cultura de morte que se difunde pelo mundo".