Vaticano, 23 de jun de 2011 às 19:17
Ao presidir hoje a Missa pela Solenidade do Corpus Christi (Corpo e Sangue de Cristo), o Papa Bento XVI ressaltou que a Eucaristia é o caminho e a força imprescindível para transformar o mundo desde seus alicerces.
Na homilia da Missa que presidiu na Basílica de São João de Latrão em Roma (Itália), o Papa explicou que a festa de hoje é inseparável da Quinta-feira Santa, da Missa da Ceia do Senhor, na qual se celebra a instituição da Eucaristia.
Em sua homilia o Papa assinalou que no Corpus Christi, "o Santíssimo Sacramento é levado em procissão pelas ruas da cidade e povoados para manifestar que Cristo ressuscitado caminha em meio a nós e nos guia rumo ao Reino dos céus".
"Na Missa in Caena Domini da última Quinta-feira Santa, sublinhei que na Eucaristia acontece a transformação dos dons desta terra – o pão e o vinho – destinada a transformar a nossa vida e a inaugurar assim a transformação do mundo. Nesta noite, gostaria de retomar tal perspectiva.".
O Papa explicou que tudo começa no coração de Cristo que na Última Ceia deu graças a Deus e se ofereceu para a salvação de todos os homens e mulheres da história da humanidade, converteu-se em "dom de um Amor mais forte que a morte, Amor divino que o fez ressuscitar dos mortos.".
Então, do coração de Cristo brota "surge aquele dinamismo que transforma a realidade nas suas dimensões cósmicas, humana e histórica. Tudo procede de Deus, da onipotência do seu Amor Uno e Trino, encarnado em Jesus”.
“Nesse Amor está imerso o coração de Cristo; por isso Ele sabe agradecer e louvar a Deus também frente à traição e à violência, e desse modo transforma as coisas, as pessoas e o mundo".
Bento XVI explicou logo que com freqüência se chama de comunhão o ato de comer o pão eucarístico porque quando se realiza, "entramos em comunhão com a vida mesma de Jesus, no dinamismo dessa vida que se dá a nós e por nós. De Deus, através de Jesus, até nós: uma única comunhão se transmite na Santa Eucaristia".
“Enquanto, portanto, o alimento corporal é assimilado pelo nosso organismo e contribui para o seu sustento, no caso da Eucaristia trata-se de um Pão diferente: não somos nós a assimilá-lo, mas esse que nos assimila a si, até que nos tornemos configurados a Jesus Cristo, membros do seu corpo, uma coisa somente com Ele", afirmou o Papa.
"A comunhão eucarística me une à pessoa que tenho ao lado, e com a qual talvez não tenha sequer um bom relacionamento, mas também aos irmãos distantes, em todas as partes do mundo", acrescentou.
Dessa forma a Eucaristia se converte na base da presença social da Igreja: "Quem reconhece Jesus na Hóstia Santa reconhece-o no irmão que sofre, que tem fome e sede, que é forasteiro, nu, doente, encarcerado; e está atento a cada pessoa, compromete-se, de modo concreto, com todos aqueles que estão em necessidade", assegurou.
"Do dom de amor de Cristo provém, portanto, a nossa especial responsabilidade de cristãos na construção de uma sociedade solidária, justa, fraterna. Especialmente no nosso tempo, em que a globalização torna-nos sempre mais dependentes uns dos outros, o Cristianismo pode e deve fazer sim que essa unidade não se construa sem Deus, isto é, sem o verdadeiro Amor, o que daria espaço à confusão, ao individualismo, à opressão de todos contra todos".
O Papa Bento afirmou logo que "o Evangelho procura sempre a unidade da família humana, uma unidade não imposta do alto, nem por interesses ideológicos ou econômicos, mas sim a partir do senso de responsabilidade de uns com relação aos outros, porque nos reconhecemos membros de um mesmo corpo, do corpo de Cristo, porque aprendemos e aprendemos constantemente do Sacramento do Altar que a partilha, o amor é o caminho da verdadeira justiça".
Quando Jesus se entrega, explicou, aceita por amor a paixão e a morte, transformando-a em um ato de doação: "Essa é a transformação da qual o mundo tem mais necessidade, porque o redime pelo interior, abre-o às dimensões do Reino dos céus".
"Mas essa renovação do mundo Deus quis realizá-la sempre através da mesma via seguida por Cristo, aquela via, antes, que é Ele mesmo. Não há nada de mágico no Cristianismo. Não existem atalhos, mas tudo passa através da lógica humilde e paciente do grão de trigo que se quebra para dar vida, a lógica da fé que move as montanhas com a força suave de Deus".
Por eles, ressaltou o Papa, "Deus quis continuar a renovar a humanidade, a história e o cosmo através dessa cadeia de transformações, da qual a Eucaristia é o sacramento".
Com a Eucaristia, disse logo Bento XVI, e "sem ilusões, sem utopias ideológicas, nós caminhamos pelas estradas do mundo, levando dentro de nós o Corpo do Senhor, como a Virgem Maria no mistério da Visitação".
"Com a humildade de saber-nos simples grãos, preservamos a firme certeza de que o amor de Deus, encarnado em Cristo, é mais forte que o mal, a violência e a morte. Sabemos que Deus prepara para todos os homens céus novos e terra nova, em que reinam a paz e a justiça – e na fé entrevemos o mundo novo, que é a nossa verdadeira pátria".
O Papa concluiu recordando a promessa de Cristo " Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo" e disse em agradecimento: Obrigado, Senhor Jesus! Obrigado pela tua fidelidade, que sustenta a nossa esperança. Permanece conosco, porque já é noite. "Bom Pastor, verdadeiro Pão, ó Jesus, piedade de nós; nutri-nos, defendei-nos, levai-nos aos bens eternos, na terra dos viventes!". Amém.".