VATICANO, 1 de jul de 2011 às 13:39
Em seu discurso aos participantes da 37ª conferência da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o Papa Bento XVI fez um enérgico chamado a lutar contra a fome no mundo que é o resultado do egoísmo e da especulação.
Em seu discurso em francês na Sala Clementina do Palácio Apostólico, o Papa saudou o novo diretor geral desse organismo, o brasileiro José Graziano da Silva e agradeceu ao anterior, Jacques Diouf, o serviço que com "competência e dedicação" prestou à FAO durante seus anos à frente dela.
"A pobreza, o subdesenvolvimento e a fome –disse– são freqüentemente o resultado de atitudes egoístas que, partindo do coração do ser humano se manifestam em sua atividade social, nos intercâmbios econômicos, nas condições do mercado e se traduzem na negação do direito primário de toda pessoa a nutrir-se e, portanto, a não padecer fome".
"Como podemos ignorar o fato de que até os mantimentos se converteram em objeto de especulação, ou estão ligados à marcha de um mercado financeiro que, sem regras claras e carente de princípios morais, rege-se apenas pelo objetivo do benefício? A alimentação é uma condição que afeta o direito fundamental à vida".
"A situação internacional caracterizada pela instabilidade e o aumento de preços exige respostas concretas e necessariamente unitárias para conseguir resultados que os Estados sozinhos não podem garantir".
Isto significa fazer que a solidariedade seja um elemento essencial para todas as políticas e estratégias. "Nesta perspectiva –prosseguiu– as instituições da comunidade internacional devem atuar em linha com seu mandato de defender os valores da dignidade humana eliminando as atitudes de fechamento e não deixando espaço a instâncias particulares que se fazem passar por interesses gerais".
Bento XVI recordou que também a FAO "está chamada a relançar sua estrutura removendo os obstáculos que a afastam do objetivo indicado em sua Constituição de garantir a nutrição, a disponibilidade da produção de mantimentos, o desenvolvimento das zonas rurais com o fim de garantir à humanidade a liberdade da fome".
O Papa falou em seguida da situação “situação das milhões de crianças, que são as primeiras vítimas dessa tragédia, condenadas a uma morte precoce, a um retardo no seu desenvolvimento físico e psíquico ou forçadas a formas de exploração para receber um mínimo de alimento" e assinalou que "A atenção às jovens gerações pode ser uma forma de combater o abandono das áreas rurais e do trabalho agrícola, de modo a consentir que comunidades inteiras, cujas sobrevivências são ameaçadas pela fome, olhem com mais confiança para o futuro".
Deste modo lamentou que "não obstante os compromissos assumidos e as consequentes obrigações, a assistência e os auxílios concretos limitam-se frequentemente às emergências, esquecendo-se que uma coerente concepção de desenvolvimento deve ser capaz de planejar um futuro para cada pessoa, família e comunidade, favorecendo os objetivos de longo prazo".
Portanto, assinalou o Papa, deve-se apoiar aquelas iniciativas "devem ser apoiadas as iniciativas que se gostariam de tomar também em nível de Comunidade internacional para redescobrir o valor da sociedade familiar rural e apoiar o seu papel central para se alcançar uma estável segurança alimentar".
"A segurança alimentar é uma exigência autenticamente humana, disso estamos conscientes. Assegurá-la às gerações presentes e àquelas que virão também significa proteger de uma frenética exploração de recursos naturais, pois a corrida para o consumo e os resíduos parecem ignorar qualquer atenção para o patrimônio genético e diversidades biológicas, tão importante para as atividades agrícolas".
Finalmente o Papa indicou que "Neste momento em que os muitos problemas que afetam a atividade agrícola acompanham novas oportunidades para contribuir no alívio do drama da fome, vós podeis agir para que, através da garantia de uma alimentação adequada aos necessitados, cada pessoa possa crescer segundo a sua verdadeira dimensão de criatura feita à imagem de Deus".