BRASILIA, 19 de jul de 2011 às 13:49
No mesmo dia em que a Associação Patriótica Católica Chinesa (APC), um órgão subordinado ao governo comunista que rejeita a autoridade do Vaticano, ordenava um bispo sem a permissão do Papa, o Secretário Geral da CNBB, Dom Leonardo Steiner recebeu na sede da entidade uma delegação de funcionários do governo chinês encabeçada pelo Sr. Jiang Jianyong, vice-ministro para Assuntos Religiosos do governo da China, o órgão estatal encarregado de supervisionar as atividades da APC.
Segundo a nota preparada pela CNBB (e logo retirada do seu site e blog oficiais) na sexta-feira 15 de julho, o objetivo da visita do vice-ministro e outros 11 funcionários do governo chinês foi o de “conhecer o trabalho realizado pela Igreja Católica no Brasil” e “propor um intercâmbio entre as duas Conferências Episcopais”.
Na nota desaparecida do site da conferência episcopal, afirma-se que no encontro com os representantes chineses “Dom Leonardo explicou a atuação da Igreja no Brasil, toda sua estrutura e funcionamento; o cuidado especial com os pobres; a ligação entre as Conferências Episcopais da América Latina; as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil; sobre as congregações de religiosos e religiosas e suas atividades, principalmente na área social, entre outros”.
A nota também afirmava que “o vice-ministro Jiang Jianyong falou que essa é a primeira vez que a delegação visita a América do Sul e que foram convidados a virem pela Sociedade Bíblica do Brasil”.
A Sociedade Bíblica do Brasil, não é um órgão da CNBB e atualmente é presidida por um pastor jubilado da igreja presbiteriana do Brasil (IPB).
“Essa comitiva quis conhecer as características do catolicismo no Brasil e constatamos a relevância da Igreja para o país”, ressaltou o vice-ministro chinês na ocasião. A China permite o culto católico unicamente à Associação Patriótica Católica Chinesa, subordinada ao Partido Comunista da China, e rechaça a autoridade do Vaticano. A Igreja Católica fiel ao Papa não é completamente clandestina; porém é constantemente assediada.
É preciso destacar o fato de que ao propor um “intercambio entre as duas conferências episcopais”, o vice-ministro Jianyong falava em nome da Associação Patriótica Chinesa e não dos bispos fiéis ao Vaticano. Segundo explica uma edição da Revista 30 Giorni de junho de 2007, no contexto do envio da Carta de Bento XVI aos fiéis católicos na China, a Santa Sé não reconhece a existência de uma conferência episcopal neste país, pois isto implicaria reconhecer as ordenações ilícitas ocorridas desde que os comunistas chegaram ao poder em 1951.
Dois dias depois da reunião em Brasília entre um membro da presidência da CNBB e funcionários do governo chinês, a Santa Sé emitiu um comunicado no qual o Diretor do Escritório de Imprensa da Santa Sé, o Pe. Federico Lombardi, qualificou a ordenação ilícita do sacerdote Huang Bingzhang para a diocese de Shantou como algo "doloroso e preocupante" para a Igreja Universal.
No texto publicado no dia 16 de julho em inglês, italiano e chinês, se precisa ademais que o Pe. Huang Bingzhang, não é reconhecido pela Santa Sé “como Bispo da diocese de Shantou” e que ademais não possui “a autoridade de governar a comunidade católica diocesana". O texto reitera que por ter sido ordenado sem o mandato pontifício o Pe. Bingzhang se encontrava excomungado.
Seguidamente o comunicado recorda que o sacerdote já havia sido informado há bastante tempo que "não podia ser aprovado pela Santa Sé como candidato episcopal, dado que a diocese de Shantou já tem um Bispo legítimo, por isso em distintas ocasiões se solicitou ao reverendo Huang não aceitar a ordenação episcopal".
O texto também destaca que o Vaticano sabia por distintas fontes que alguns bispos, contatados pelas autoridades civis, "tinham manifestado a própria vontade de não participar de uma ordenação ilegítima, realizando algumas formas de resistência, diante das quais os prelados teriam sido obrigados a participar".
Anteriormente, no dia 4 de julho, a Santa Sé também declarava que o Pe. Lei Shiyin, quem é ademais, Vice-presidente da Associação Patriótica Católica da China e um deputado católico da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (um importante órgão de assessoria para o governo) foi ordenado bispo "sem o mandato Papal” e, logo, “não tem autoridade de governar a comunidade católica diocesana” de Leshan. Assim a Sé Apostólica declarou também que “não o reconhece como bispo" desta diocese.
O mesmo Rev. Lei Shiyin havia sido informado, há um bom tempo, de que ele não podia ser aceito pela Santa Sé como candidato ao episcopado, por comprovadas e gravíssimas razões. O sacerdote além de ser membro de um órgão do governo comunista, o qual rejeita a autoridade papal para ordenar bispos ou governá-los, também estava impedido de ser bispo porque após uma relação com uma mulher o sacerdote se tornou pai de um filho.
O documento vaticano declarava sobre o Pe. Shiyin que “permanecem fixos os efeitos da sanção na qual incorreu através da violação da norma do cân. 1382 do Código de Direito Canônico”, ou seja, a excomunhão latae sententiae (automática).
O texto expressava também o pesar do Santo Padre pelo fato, pois “uma ordenação episcopal sem mandato Papal se opõe diretamente ao rol espiritual do Soberano Pontífice e danifica a unidade da Igreja. A ordenação em Leshan foi um ato unilateral que semeia divisão e, infelizmente, produz fraturas e tensões na comunidade Católica na China”.
Blogs católicos no Brasil e outros países também noticiaram a reunião e lamentaram a retirada da notícia do site oficial da CNBB e o fato de que enquanto Pequim ordenava um bispo sem permissão do Papa, um membro da presidência da conferência episcopal brasileira recebia um representante do órgão que regula a atividade de uma organização cismática na China.