ROMA, 25 de jul de 2011 às 15:58
O vaticanista italiano Sandro Magister assinala que graças ao Concílio Vaticano II, no qual participou o jovem Joseph Ratzinger, agora Bento XVI, o Papa "desarma" os bispos ilegitimamente ordenados na China sem seu mandato, e contém o cisma das autoridades do país.
Ao explicar a situação atual de tensão que o governo chinês gerou com várias ordenações ilegítimas nos últimos meses, e com outras 40 em agenda, Magister descreve como o Papa luta com os "mandarins", nome com o qual designa estes prelados que não têm autoridade para governar as dioceses que "lideram".
O vaticanista explica que "o sacramento que ordenou bispos estes ‘mandarins’ é válido. Sacramentalmente válidas são também as missas que estes celebrem. O que lhes falta é a comunhão hierárquica com a Sé de Pedro. E isto é o que os priva de autoridade em sua respectivas dioceses, sobre o clero e sobre os fiéis".
Este, explica, é um ponto que no Concílio Vaticano II teve um enfrentamento fortíssimo entre duas posições: "havia quem sustentava a tese segundo a qual é suficiente a ordenação sacramental para conferir ao novo bispo a plenitude de seus poderes, incluindo o de governo, sem necessidade de um ulterior mandato do Papa: quer dizer precisamente a tese que tanto agrada as autoridades chinesas hoje".
O debate foi dado em novembro de 1964, no qual se tratou o capítulo da constituição dogmática Lumen Gentium sobre o papel do Bispo, quando foi lida uma "nota explicativa prévia" nesse então pelo secretário geral do Concílio, o Arcebispo Pericle Felici, e querida pela "autoridade superior", o Papa Paulo VI.
O texto assinalava que "alguém se converte em bispo em virtude da consagração episcopal. Mas para que um bispo possa exercer a ‘potestade’ que lhe foi conferida com as sagradas ordens deve intervir a ‘iuridica determinatio’ por parte da suprema autoridade da Igreja (o Papa)".
Esta nota gerou a crítica de alguns progressistas e também a do então sacerdote Joseph Ratzinger que era o teólogo de confiança do Cardeal alemão Josef Frings.
Entretanto, explica Sandro Magister, Ratzinger reconheceu "que a nota tinha tido o mérito de derrotar o ‘maximalismo’ dos progressistas e de tranqüilizar a minoria conciliar tradicionalista, obtendo que a Lumen gentium fosse aprovada quase por unanimidade".
E escreveu, quando o Concílio tinha terminado há pouco, que a nota deixava de todos os modos "um gosto amargo", pelo modo como tinha sido imposta e por seu conteúdo, expressão "de um pensamento jurídico-sistemático que tem como medida a figura jurídica atual da Igreja", em contraste com "uma aproximação histórica que parta de toda a amplitude da revelação cristã".
Magister assinala que agora, já como Papa, Joseph Ratzinger "tem um olhar muito mais crítico sobre a convicção de que ‘a Igreja não deve ser uma Igreja do direito, e sim uma Igreja do amor’, livre de vínculo jurídicos".
Bento XVI criticou esta posição em várias ocasiões. E com uma série importante de disposições normativas mostrou que considera essencial o papel da lei canônica no governo da Igreja.
Finalmente Magister indica que "se hoje Bento XVI não reconhece autoridade aos bispos chineses ordenados sem seu mandato e obrigado também a esta regra ‘confirma a fé’ dos católicos da China, o deve precisamente àquela ‘Nota explicativa prévia’ que quando foi promulgada lhe pareceu tão difícil de digerir".
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