Uma jovem de 23 anos sofreu um enfarte cerebral detrás tomar a pílula abortiva do dia seguinte, que na Espanha se vende a varejo sem receita médica desde setembro de 2009. Depois do fato uma equipe do Hospital La Paz (em Madrid) aonde a jovem foi atendida, publicou um artigo alertando que esta situação poderia repetir-se.

A jovem, cuja identidade não foi divulgada, tomou a pílula abortiva doze horas antes de que os sintomas do enfarte cerebral se manifestassem. Na unidade de urgências, aonde chegou porque a sensibilidade na parte direita do corpo tinha diminuído, foi possível constatar a doença.

Conforme informa o jornal La Gazeta, a gravidade do assunto fez que a Unidade de Ictus do Hospital La Paz (Madrid) publicasse um artigo na revista científica Medicina Clínica alertando da "relação causa-efeito entre a pílula pós-coital e o enfarte cerebral".

"Com os dados que temos não podemos afirmá-lo rotundamente, mas sim podemos dizer que há uma relação temporária causa-efeito e uma possível associação entre esta pílula e o enfarte", disse o chefe do Serviço de Neurologia do Hospital La Paz, Exuperio Díez-Tejedor, autor do artigo.

Por este motivo, este perito considera que "a vigilância destes efeitos adversos é cada dia mais necessária, devido à maior disponibilidade destes fármacos".

Díez-Tejedor explica que a substância que poderia estar atrás destes enfartes cerebrais é o levonorgestrel (estrogênios sintéticos), o princípio ativo que compõe a pílula abortiva do dia seguinte e outros anticoncepcionais hormonais orais.

"O que ocorre é que a dose de levonorgestrel na pílula do dia depois é mil vezes maior à utilizada no resto de anticoncepcionais", indica.

A Europa Press divulgou nesta quinta-feira que a ministra de Saúde, Leire Pajín, assegurou que se estudará este caso, embora tenha considerado que "está falando-se apenas de suspeitas e em nenhum caso de uma análise conclusiva e objetiva que relacione este consumo com o enfarte cerebral".

Deste modo recordou que a venda do fármaco "foi autorizada na Espanha em 2001, com um governo do Partido Popular", apesar de que foram Trinidad Jiménez e Bibiana Aído, quando ocuparam os cargos de ministra de Saúde e de Igualdade, respectivamente, quem aprovaram sua venda sem receita em farmácias.

A decisão de seu estudo foi produzida depois da denúncia de que a Associação Estatal de Advogados Cristãos interpôs contra a anterior ministra de Saúde, Trinidad Jiménez e a que ex-titular do ministério de Igualdade, Bibiana Aído, por delitos contra a saúde pública.

Ambas foram denunciadas "por ter aprovado a distribuição da pílula do dia seguinte sem receita médica, e sem considerar os graves riscos que este fármaco tem para a saúde".

Dentro do escrito remetido ao Ministério Fiscal, assinalam que "se um médico tivesse revisado o histórico clínico da paciente falecida é evidente que não teria receitado a ela o consumo da mencionada pastilha".

Mais casos

O Hospital La Paz decidiu tornar público o caso da jovem de 23 anos porque, tal como explicam os médicos da Unidade do Ictus, "embora seja apenas um caso isolado, pouco a pouco podem ir acumulando-se".

De fato, no artigo se informa que vários estudos "demonstraram um incremento significativo de enfarte cerebral em pacientes que tomavam anticoncepcionais orais diariamente".

Também se relacionaram diretamente com o consumo da pílula abortiva do dia seguinte em outras duas ocasiões: "houve outro caso em Santander (Espanha) e outro país europeu notificou também um fato similar", afirma Díez-Tejedor.

Os especialistas suspeitam que, como ocorre com os anticoncepcionais tradicionais, a maior concentração de estrogênios nas pílulas de emergência favorecem a aparição de complicações cardiovasculares e trombose arteriais em mulheres, sobre tudo, com certa predisposição.

Entre estas pode-se contar as fumantes, as que sofrem de enxaqueca, maiores de 35 anos ou as que apresentam outros fatores de risco como hipertensão ou obesidade. Entretanto, o prospecto da pílula abortiva do dia seguinte não inclui nenhuma destas precauções.

"O problema é que a livre distribuição impede que o médico informe sobre todos estes riscos", destaca Díez-Tejedor.

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