O Papa Bento XVI dedicou a audiência geral desta quarta-feira a refletir sobre o Salmo 126 "que celebra as grandes coisas que o Senhor obrou com seu povo e que obra continuamente com cada fiel" e que recorda que Deus sempre faz maravilhas na história da humanidade.

Em espanhol o Santo Padre disse que "este canto nos fala da alegria do povo perante a obra de Deus, que o restaura depois de um momento de crise em que viveu um profundo sentimento de abandono".

O Salmo, explicou o Papa em italiano, "fala de uma ‘sorte restabelecida’, quer dizer, restituída ao estado originário". E é o que experimenta o Povo do Israel retornando à sua pátria do exílio de Babilônia que foi uma experiência devastadora não só desde o ponto de vista político e social, mas também, e sobre tudo, religioso e espiritual.

"As intervenções divinas freqüentemente assumem formas inesperadas, que vão além do que o ser humano possa imaginar (...) Deus faz maravilhas na história da humanidade (...) Revela-se como Senhor potente e misericordioso, refúgio do oprimido que não esquece o grito dos pobres"

Por isso, prossegue o Papa Bento XVI, "diante da liberação do povo do Israel, todos os povos reconhecem as grandes coisas que Deus cumpre para seu povo e celebram o Senhor como Salvador".

Mas o canto vai adiante do fator puramente histórico para abrir-se, sobre tudo em sua segunda parte, a uma dimensão mais ampla de tipo teológico, utilizando imagens sugestivas que evocam "a realidade misteriosa da redenção em que se entrelaçam o dom recebido e o ainda por esperar, vida e morte".

As correntes secas do Negheb simbolizam o obrar divino que como a água "é capaz de transformar o deserto em um imenso prado florido"; enquanto que na segunda imagem em que os camponeses cultivam os campos, "para falar da salvação se recorre à experiência que todos os anos se renova no mundo da agricultura: o momento difícil e fatigante do cultivo e depois a alegria da colheita (...) A semente germina e cresce".

"É o mistério escondido da vida, são as maravilhosas grandes coisas da salvação que o Senhor realiza na história dos homens, os quais os homens não sabem o segredo. A intervenção divina, quando se manifesta em plenitude, mostra uma dimensão imensurável, como as torrentes do Negheb e como o grão nos campos, o qual evoca também uma desproporção tipica das coisas de Deus: desproporção entre a fadiga do plantio e a imensa alegria da colheita, entre a ânsia da espera e a serena visão dos campos repletos, entre as pequenas sementes jogadas na terra e os grandes feixes dourados pelo sol. Na colheita, tudo é transformado, o pranto termina, dá  lugar para o grito de alegria exultante ".

O Papa disse logo que "a tudo isto se refere o Salmista para falar da salvação, da libertação, do restabelecimento da sorte, do retorno do exílio. A deportação à Babilônia, como qualquer outra situação de sofrimento e de crise, com a sua escuridão dolorosa feita de dúvidas e aparente distanciamento de Deus, na realidade, diz o nosso Salmo, é um como um semear".

" No mistério de Cristo, à luz do novo testamento, a mensagem se faz ainda mais explicita e clara: o fiel que atravessa a escuridao é como o grão caído na terra que morre, mas para dar muito fruto, ou pegando uma outra imagem muito cara para Jesus, é como uma mulher que sofre as dores do parto para chegar à alegria de ter dado à luz uma nova vida. ".

Bento XVI assinala ademais que "este salmo nos ensina que devemos permanecer sempre abertos à esperança e firmes na fé em Deus. Nossa história, embora freqüentemente esteja marcada por insipidezes, incertezas e momentos de crise, é uma história de salvação e de ‘restabelecimento das sortes’".

Em Jesus, conclui o Papa, "acaba nosso exílio, no mistério de sua Cruz, da morte transformada em vida, como a semente de trigo que se quebra na terra e se transforma em espiga".

“É importante não perder esta recordação da presença de Deus em nossa vida, esta alegria profunda que Deus entrou na nossa vida, libertando-nos: é a gratidão pela descoberta de Jesus cristo, que veio até nós. E esta gratidão se transforma em esperança, é a estrela da esperança que nos dá confiança, é a luz, porque exatamente as dores do semear são início de uma nova vida, da grande e definitiva alegria de Deus”, concluiu o Papa.


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