MADRI, 15 de out de 2011 às 13:27
A líder das Damas de Branco de Cuba, Laura Pollán faleceu ontem às 19:50h, confirmaram à Europa Press o porta-voz da Comissão Cubana de Direitos humanos (CCDH), Elizardo Sánchez, e a porta-voz do movimento, Berta Soler.
Soler assinalou que o falecimento se deu a causa de uma parada respiratória às 19:10h e que o falecimento foi confirmado pelos médicos do hospital 40 minutos mais tarde.
"Foi uma grande perda para o movimento pró Direitos humanos e pró democracia em Cuba. Acreditam que adquiriu esta enfermidade, de suposta origem viral, por causa das condições de desvantagem que sofreu devido aos maus tratos físicos e psicológicos em sua luta impetuosa em favor da liberdade dos maridos, irmãos e filhos das mulheres membro do movimento", manifestou Sánchez.
Neste sentido, Sánchez acrescentou que no 24 de setembro ela sofreu uma "agressão física por parte de elementos extra-policiais instigados pela Polícia política secreta". "Esta doença, que pôde ter sido superada em outras circunstâncias”, não pôde sê-lo desta vez, acrescentou.
Por outra parte, Sánchez confirmou que neste momento estão em trâmite as conversações entre o pessoal do hospital Calixto García e a família para ver se procede realizar uma autópsia.
"Há consenso em que se realize", indicou, antes de assinalar que este procedimento "tardará o funeral em algumas horas, embora se espere que o velório comece ao redor da meia-noite (hora local)".
Por sua parte, Soler especificou que, no último informe dado a conhecer esta sexta-feira, o pessoal médico indicava que "tudo avançava bem" e que, apesar da gravidade, "encontrava-se estável".
"Todos os exilados e as Damas de Branco se estão movendo para chegar (a Havana) para honrar a nossa irmã e líder, Laura Pollán", afirmou Soler.
Do mesmo modo, acrescentou que a morte de Pollán não significará mudança alguma e que "tudo continua igual". Sobre sua mais imediata sucessora, Soler não quis precisar nenhum nome, embora asseverou que tanto ela como Pollán "trabalharam juntas sempre".
Por último, Berta Soler confirmou que funcionários e membros das delegações internacionais em Cuba já expressaram suas condolências. Neste sentido, afirmou que, até o momento, nenhum representante espanhol pôs-se em contato com ela para transmitir- lhe os pêsames.
Último informe médico
Segundo o último comunicado publicado esta sexta-feira pelo movimento em sua página Web, os médicos que a atendiam no hospital Calixto García tinham confirmado que Pollán sofria dengue, o que, unido ao vírus respiratório sincitial (VRS) que padecia, complicava sua situação.
"Está reportada de muito grave, estável com respeito à insuficiência respiratória", o qual quer dizer "que não teve nenhuma variação para piorar nem para melhorar", declarou Soler. Conforme Soler indicou, no informe confirmou-se que Pollán sofria dengue de tipo 4. Do mesmo modo, Pollán sofria diabetes crônica.
Os exames médicos prévios, cujos resultados foram publicados na terça-feira, indicaram que Pollán padecia de VRS, uma doença que afeta principalmente as crianças e pessoas mais velhas com baixa imunidade. "Os médicos disseram que não é uma dengue das más, mas ao combinar-se com o vírus complica a situação da Laura", indicou Berta Soler.
Obituário
Laura Pollán (13 de fevereiro de 1948, Manzanillo) foi internada no hospital Calixto García da capital cubana no último 7 de outubro afligida de uma insuficiência respiratória de origem viral, que levou aos médicos a conectá-la pouco depois a um respirador artificial e inclusive chegaram a praticar-lhe uma traqueotomia.
A líder das Damas de Branco, que chegou a trabalhar como professora de Literatura em um instituto até 2004, insistia em que ela não era uma "política", embora protagonizasse um ativo papel na dissidência interna de Cuba depois da detenção de 75 opositores em 2003 durante um processo conhecido como "Primavera Negra", no qual seu marido, Héctor Maseda, foi condenado a 20 anos de prisão.
Pollán, uma das mais proeminentes vozes da oposição cubana, descreveu sucessivamente as Damas de Branco como "defensoras dos Direitos humanos" que perseguem "a liberdade da pátria e a democracia", assim como "a união de suas famílias". Foi ela quem liderou até setembro as Damas de Branco, que foram secundadas pelas mães, as esposas e as irmãs dos dissidentes presos.
O movimento Damas de Branco surgiu de maneira "espontânea", conforme dizia Pollán, em cuja casa aconteciam semanalmente as reuniões, as conferências de imprensa e os atos comemorativos pelos dissidentes encarcerados, que foram condenados a penas de entre 6 e 28 anos de cárcere em 2003.
Em troca, o Governo Cuba considera Pollán e as demais damas de branco como "mercenárias" ao serviço dos Estados Unidos. Os caluniadores deste movimento chegaram a chamá-las "Damas de Verde", em alusão à cor das notas de dólares americanos.
Do mesmo modo, em numerosas ocasiões, as Damas de branco eram repreendidas por grupos de pessoas contrários ao movimento e também chegaram a denunciar agressões, segundo as Damas de Branco.
O último incidente no qual Pollán se viu envolvida ocorreu no último 9 de setembro quando 26 dissidentes cubanos, entre eles 22 damas de branco, foram detidos após celebrar manifestações em Havana e Santiago. A líder das Damas de Branco foi presa junto com sua filha, Laura María Lavrada Pollán, de 41 anos, que tem um filho de 13 anos, Alejandro García Lavrada.
As mulheres deste movimento sempre iam vestidas de branco. Pollán foi vista em contadas ocasiões utilizando roupa que não fosse de cor branca.
Laura Pollán era assídua às Missas que tinham lugar na igreja católica de um bairro residencial de Havana. Precisamente, a líder das Damas de Branco intercedeu em várias ocasiões por uma colaboração mais estreita entre o movimento e a Igreja com o fim de acelerar o processo de soltura de seus familiares.
De fato, o encontro que manteve Pollán com o Cardeal cubano Jaime Ortega impulsionou o diálogo entre as autoridades cubanas e a Igreja. Como conseqüência, meia centena de presos políticos foram liberados até agora, entre eles seu marido, que decidiu ficar em Cuba.
A maioria das fundadoras das Damas de Branco saíram do país com seus maridos, irmãos ou filhos depois das liberações no ano passado, mas o grupo cresceu com ativistas desconhecidas que são catalogadas como "damas de apoio".
As Damas de Branco ganharam em 2005 o prêmio Sajarov, que concede o Parlamento Europeu pelo desempenho na defesa dos Direitos humanos.