DENVER, 11 de jan de 2012 às 09:24
Um novo estudo revelou o caso de 500 judeus que se salvaram de ser mortos pelos nazistas durante a Segunda guerra mundial, graças à intervenção direta do Papa Pio XII.
Este grupo forma parte dos quase 900 mil judeus que o Papa Pacelli ajudou de maneira direta e indireta durante a década dos 40s’ e que habitualmente são ignorados pela maioria dos meios de comunicação que, ao contrário, difundem a "lenda negra" do Pontífice que fez em 1941 um tributo público ao judaísmo.
William Doino, autor de uma série de livros sobre o Papa Pacelli e autor do artigo "O Papa Pio XII: Amigo e resgate dos judeus" publicado no número de janeiro do Inside the Vatican, relata a conversa sobre uma audiência de um judeu chamado Howard "Heinz" Wisla em 1941 com Pio XII.
Wisla se reuniu com o Santo Padre em representação de 500 refugiados judeus que foram enviados por militares italianos à ilha de Rodas aonde sofreram fome e que mais tarde seriam salvos pela intervenção direta do Papa.
"Fez bem, meu amigo judeu, em vir para ver-me e dizer-me o que está acontecendo nessas ilhas italianas. Já tinha ouvido falar disso", disse o Papa naquela oportunidade segundo o relato de Wisla.
Pio XII pediu voltar com um relatório escrito e entregá-lo à Secretaria de Estado, que estava ajudando esses refugiados. O Papa não só prometeu sua ajuda, mas elogiou o povo judeu em umas palavras a Wisla: "meu filho (…) você é tão valioso como qualquer outro ser humano sobre a terra e perante o Senhor. Agora, amigo judeu, vá com a proteção do Senhor Todo poderoso e nunca se esqueça: sinta-se sempre orgulhoso de ser um judeu".
Doino disse no dia 9 de janeiro ao grupo ACI que com estas palavras o Papa "reconhece o profundo vínculo que judeus e católicos compartilham. Acredito que isso é muito, muito importante porque muitos acreditam que só depois do (Concílio) Vaticano II vimos uma mudança significativa no papado. Não acredito que isso seja verdade, acredito que a mudança começou muito antes e isto é uma clara mostra".
As palavras do Papa foram ainda mais significativas já que na audiência com Wisla estiveram presentes algumas autoridades alemãs, explicou o estudioso.
O perito explicou que "se esses judeus não tivessem saído de Rodas, eventualmente os alemães os teriam matado", do contrário teriam morrido de fome. Os alemães chegaram à ilha em 1944 aonde assassinaram imediatamente 1.400 judeus.
As memórias de Wisla foram publicadas sob um pseudônimo no Palestinian Post em 1944, ali expressou sua gratidão ao Papa Pacelli.
Doino contou ademais que "a história me intrigou porque foi publicada anonimamente. Por anos tinha tentado averiguar quem era. Também queria saber se o Papa tinha ajudado realmente esses judeus que sofriam fome".
Em seus escritos do inverno entre 1941 e 1942, Wisla deu fé da "intervenção pessoal" do Papa Pio XII pela chegada da Cruz Vermelha com um navio para recolher as centenas de judeus que estavam ali para levá-los ao território continental italiano.
Outro judeu que esteve em Rodas, o tchecoslovaco Herman Herskovic, recorda o relato de Wisla em um número especial de L’Osservatore Romano de 1964. Segundo Herskovic, o Papa "o escutou atentamente e prometeu-lhe sua intervenção ante o governo italiano".
Herskovic também defendeu o Papa das acusações da peça de teatro "O Vigário", na qual se mostra o Papa supostamente indiferente ante a perseguição nazista. Sem o Papa Pacelli, assinala Herskovic, ele nunca teria chegado aos Estados Unidos onde se converteu em um comerciante de móveis em Cleveland, Ohio.
Graças a Wisla e o Papa Pio XII, Herskovic e outros judeus foram transferidos a um campo na Calábria e finalmente salvos. Outros documentos do Vaticano mostram que deste grupo vários enviaram presentes ao Santo Padre em agradecimento.
"Não quero subtrair importância ao mal do anti-semitismo ou os pecados de alguns cristãos, mas da mesma maneira, quando acontecem coisas boas (como com Pio XII), isso deve ser celebrado e reconhecido", disse Doino ao grupo ACI.
Gary Krupp, historiador judeu que estudou sobre o Papa Pio XII e a Segunda guerra mundial, assinalou que a nova informação de Doino "é outro exemplo sobre como o Papa Pacelli diretamente intercedeu para salvar as vidas dos judeus quando a maioria dos líderes religiosos do mundo não fizeram nada".
"E Pio XII o fez rodeado de forças hostis que planejavam invadir o Vaticano e seqüestrá-lo em 1943. É hora de que o mundo aprecie tudo o que fez este homem", acrescentou. Krupp, fundador da fundação Pave the Way fez ademais um chamado às autoridades da organização Yad Vashem para que "tomem em conta seriamente" este material e outras evidências para declarar o Papa Pio XII"justo entre as nações".