Na habitual audiência geral desta quarta-feira, o Papa Bento XVI animou aos católicos a rezarem confiando na vontade de Deus, colocando diante dele as fadigas, sofrimentos e sacrifícios cotidianos para aprender a segui-lo, como fez o Senhor Jesus antes de morrer na Cruz.

Diante de milhares de peregrinos de diversas partes do mundo na Sala Paulo VI, o Santo Padre refletiu sobre a oração do Jesus no Monte das Oliveiras. O evangelista Marcos narra que, depois da Última Ceia, Jesus se dirige ao monte e se prepara em oração pessoal.

"Mas desta vez acontece algo novo: Ele parece não querer estar só. Muitas vezes Jesus se retirava à parte da multidão e dos próprios discípulos, se refugiando em lugares desertos (Mar 1,35) ou subindo no monte (Mar 6,46). No Getsêmani, ao contrário, Ele convida Pedro, Tiago e João para ficarem mais próximos. Foram os mesmos discípulos que Ele chamou para estarem com Ele no monte durante a transfiguração".

O Papa disse logo que "esta proximidade dos três durante a oração do Getsêmani é significativa. (...) Se trata de uma proximidade em termos espaciais, um pedido de solidariedade no momento no qual se sente aproximar-se da morte, mas é sobretudo uma proximidade na oração, para exprimir, de algum modo, a sintonia com Ele, no momento em que se aproxima do cumprimento total da vontade do Pai e é um convite para que cada discípulo o siga no caminho da cruz".

“As palavras de Jesus aos três discípulos que os quer próximos durante a oração no Getsêmani, revelam como ele prova medo e angústia naquela hora e experimenta a ultima profunda solidão exatamente enquanto o desígnio de Deus se está atuando. E em tal medo e angústia de Jesus se recapitula todo o horror do homem diante da própria morte, a certeza da sua inexorabilidade e a percepção do peso do mal que perpassa a nossa vida”.

Depois de convidar aos discípulos a velar, Jesus se afasta um pouco. Citando a São Marcos, o Santo Padre recordou que "Jesus cai com o rosto no chão: é uma posição de oração que exprime a obediência à vontade do Pai, o abandonar-se com plena confiança nele".

Logo Jesus pede ao Pai que, se for possível, passe longe Dele essa hora. "Não é somente o medo e a angústia do homem diante da morte, mas é o envolvimento do Filho de Deus que vê a terrível massa do mal que assumirá sobre si para superá-lo, para privá-lo de poder".

“Caros amigos, também nós, na oração, devemos ser capazes de levar diante de Deus as nossas fadigas, sofrimentos de certas situações, de certos dias, o empenho cotidiano de segui-lo, de ser cristãos e também o peso do mal que vemos em nós e ao redor de nós, para que Ele nos dê esperança, nos faça sentir a sua proximidade, nos doe um pouco de luz no caminho da vida”, animou o Santo Padre.

Retornando à oração de Jesus, o Papa assinalou três "passagens reveladoras" nas palavras que dirige ao Pai: "Abbá! Pai! Tudo é possível a Ti: afasta de mim este cálice! Mas, que não seja aquilo que quero, mas aquilo que queres”".

Em primeiro lugar, a palavra aramaica "a palavra aramaica Abbá é aquela que vinha usada pela criança para dirigir-se ao papai e exprimir, portanto, o relacionamento de Jesus com Deus Pai, um relacionamento de ternura, de afeto, de confiança, de abandono".

Em segundo lugar aparece a “consciência da onipotência do Pai - “tudo é possível a Ti” - que introduz um pedido, no qual, mais uma vez aparece o drama da vontade humana de Jesus diante da morte e do mal".

A terceira expressão, explicou o Papa, "é aquela decisiva, na qual a vontade humana adere plenamente à vontade divina. (...) Assim Jesus nos diz que somente no conformar a sua vontade àquela divina, o ser humano chega à sua verdadeira altura, se torna “divino”".

"É isto que Jesus cumpre no Getsêmani: transferindo a vontade humana na vontade divina nasce o verdadeiro homem, e nós somos redimidos".

Quando rezamos o Pai Nosso "pedimos ao Senhor: “seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mat 6,10). Reconhecemos, isto é, que existe uma vontade de Deus conosco e para nós, uma vontade de Deus sobre a nossa vida, que deve se tornar cada dia mais uma referência do nosso querer e do nosso ser, reconhecemos ainda que é no “céu” onde se faz a vontade de Deus e que a “terra” se torna céu, local da presença do amor, da bondade, da verdade, da beleza divina, somente se na mesma é realizada a vontade de Deus.".

“Na oração de Jesus ao Pai, naquela noite terrível e estupenda do Getsêmani, a “terra” se torna “céu”; a “terra” da sua vontade humana, tomada pelo medo e pela angústia, foi assumida pela vontade divina, assim que a vontade de Deus se realizou sobre a terra. Isto é importante também na nossa oração: devemos aprender a confiar-nos mais à Providência divina, pedir a Deus a força de sairmos de nós mesmos para renovarmos o nosso “sim”, para repetir-lhe “seja feita a vossa vontade”, para conformar a nossa vontade à sua”.

A narração evangélica mostra que os discípulos não foram capazes de velar com Cristo. Por isso, o Papa respirou finalmente ao "Senhor que sejamos capazes de velar com Ele em oração, de seguir a vontade de Deus cada dia, inclusive se fala de Cruz, de viver uma intimidade cada vez major com o Senhor, para trazer para esta terra um pouco do céu de Deus".

“É uma oração que devemos fazer cotidianamente, porque nem sempre é fácil confiar-nos à vontade de Deus, repetir o “sim” de Jesus, o “sim” de Maria. As narrações evangélicas do Getsêmani mostram dolorosamente que os três discípulos, escolhidos por Jesus para estarem próximos dele, não foram capazes de vigiar com Ele, de partilhar a sua oração, a sua adesão ao Pai e foram envolvidos pelo sono”.

“Caros amigos, peçamos ao Senhor para que sejamos capazes de vigiar com Ele na oração, de seguir a vontade de Deus todos os dias também quando se fala de Cruz, de viver uma intimidade sempre maior com o Senhor, de trazer para esta “terra” um pouco do “céu” de Deus. Obrigado”, concluiu o Santo Padre.

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