HAVANA, 29 de fev de 2012 às 12:12
"Sempre acreditei que devemos estar no lugar que Deus quis e que devemos dar nossa contribuição como cristãos comprometidos", afirmou José Daniel Ferrer, coordenador da União Patriótica de Cuba (UNPACU), que encontrou nos Evangelhos e no magistério da Igreja as fontes de seu compromisso laical pela liberdade da ilha.
"Vejo nos Evangelhos que não podemos estar alheios à realidade do território onde vivemos, da nação onde nascemos, que devemos fazer todo o possível para que se respeite a liberdade e os direitos fundamentais das pessoas", expressou Ferrer em entrevista ao grupo ACI no dia 28 de fevereiro, logo depois de recuperar novamente sua liberdade após ser seqüestrado por agentes do Estado cubano, que o detiveram por seu ativismo político no leste do país.
Católico e pai de família, o líder da UNPACU afirmou que suas idéias políticas "sustentam-se em grande maneira nos Evangelhos e na Doutrina Social da Igreja", e por isso compartilha a "proposta de João Paulo II em sua encíclica Centesimus Annus, sobre a necessidade de que as nações sejam regidas por sistemas democráticos, por verdadeiros estados de direito".
Nesse sentido, criticou que o regime comunista dos irmãos Castro viole os direitos e liberdades que correspondem aos cubanos por serem filhos de Deus e existam leigos que se mantenham "completamente à margem", como esperando que outros se sacrifiquem. "Parece-me uma atitude pouco comprometida, por não dizer até de certa forma covarde", expressou.
Por isso, insistiu em seu chamado a que "todo leigo católico, todo cristão", comprometa-se "para que em toda a nação exista o marco legal necessário para que cada pessoa defenda suas idéias, não somente religiosas, não somente sua fé em Deus, mas também suas idéias, suas opiniões políticas, culturais, em todos os planos, da maneira mais livre possível. Com liberdade e responsabilidade".
Ferrer afirma que em Cuba, onde existe o sistema de partido único, as pessoas devem ter a liberdade de escolher sua opção política, liberal, democrata cristão ou inclusive comunista. Mas recordou que esta ideologia se contrapõe ao cristianismo porque "suas normas tendem ao totalitarismo, a suprimir os direitos e liberdades de outros". "Por isso meu compromisso e por isso meu desejo de que Cuba mude", acrescentou.
Sobre a realidade de Cuba logo da viagem de João Paulo II em 1998, Ferrer disse que "muito poucas coisas mudaram, e o que mudou se deve ao sacrifício de homens e mulheres heróicos, com um valor e uma fé ao estilo dos primeiros cristãos".
"Segue-se violando os direitos e liberdades fundamentais dos cubanos. No campo dos direitos sociais, econômicos e culturais houve muito pouco, para não dizer quase nada", indicou.
Entretanto, destacou as mensagens do agora Beato, cujos discursos foram "muito claros, muito precisos, e estão aí como tarefa pendente para nós os cubanos, para o cubano em geral, para o católico e crente também (…). Não podemos pedir ao Papa que faça o que nos corresponde fazer".
José Daniel Ferrer formou parte do grupo de 75 prisioneiros de consciência detidos em 2003 durante a Primavera Negra. Condenado a 25 anos de prisão, foi libertado em 2011 graças à intercessão da Igreja. Entretanto, não aceitou ser exilado a Espanha e agora lidera a UNPACU, que busca a transição pacífica de Cuba à democracia.