HAVANA, 22 de mar de 2012 às 12:11
"O primeiro era manter a presença do sacerdote em todos os cantos, ainda que as pessoas não fossem às capelas por medo", afirmou o Pe. Jorge Palma, capelão do Santuário da Virgem da Caridade do Cobre, ao referir-se aos anos mais duros que viveu a Igreja em Cuba sob o regime de Fidel Castro.
Com motivo da visita do Papa Bento XVI a Cuba, a agência ACI Prensa do grupo ACI em espanhol, pôde dialogar com o sacerdote que recordou os primeiros anos do comunismo na ilha e como isto afetou a vida religiosa dos cubanos.
Nascido em Santiago de Cuba e ordenado presbítero em 1972, o Pe. Palma afirmou que para manter a fé foi necessário que os sacerdotes se mantivessem presentes em todos os cantos de Cuba "mesmo que ninguém fosse às capelas, ou ao que restou das capelas porque muitas vezes elas estavam destruídas".
"Então era uma presença muito simbólica, porque as pessoas que se atreviam a ir aos povoados pequenos podiam ser contadas com os dedos das mãos, eram poucas. Mas isto era indispensável: a presença do sacerdote, tendo pessoas ou não", afirmou.
Disse que a perseguição comunista também afetou a assistência dos fiéis ao santuário Mariano, que "permaneceu durante anos quase vazio porque havia muito temor de parte dos cubanos de perder o trabalho se fossem relacionados com a Igreja".
Entretanto, o Pe. Palma recordou que a Igreja começou a sair às ruas em 1986. Afirmou que um fato importante foi o Encontro Nacional Eclesial Cubano (ENEC), que foi realizado neste ano entre os dias dia 17 e 23 de fevereiro e que marcou o reinicio dos trabalhos de missão.
Nesse sentido, depois que o Natal foi restaurado como dia festivo em 1997 e as procissões foram permitidas desde 1998 –ano em que João Paulo II visitou Cuba-, a situação no aspecto religioso foi mudando na ilha.
O Pe. Palma indicou que o núcleo familiar e a devoção à Virgem da Caridade também foram fundamentais para manter a fé católica em Cuba. "O que cria comunistas, e o que cria católicos da mesma forma, é a família", afirmou.
O sacerdote disse que os cubanos que emigraram desde 1959 "e que foram muitos, aceitaram prudentemente a idéia de criar uma capela da Virgem da Caridade em Miami (Estados Unidos). Isso manteve a comunicação básica dos cubanos com as suas famílias em Cuba. Tinham um ponto comum de referência em ambos os lados do mar e em todos os países onde estivessem, pois embora não pudessem vir ao santuário, mantiveram a devoção à Virgem".
"Depois da etapa dos balseiros (cubanos que fugiram da ilha para os Estados Unidos), começaram a vir muitas pessoas de forma difícil de conter. E agora recentemente, depois que a Virgem peregrinou, romperam-se absolutamente todas as barreiras do temor e de vir aqui ao santuário. Inclusive até ateus e membros do Exército vêm por curiosidade (…). Gradualmente desde 1994 foi desaparecendo o temor de vir ao santuário", indicou.
Nesse sentido, disse ao grupo ACI que como capelão do santuário Mariano vê na devoção à Virgem da Caridade uma oportunidade para seguir evangelizando Cuba.
"Para nós, os sacerdotes, a visita dos peregrinos é uma exigência para de alguma forma levá-los ao conhecimento desse Menino que está nos braços da Virgem e ao mistério da Cruz (…). Esta é a exigência que tem qualquer sacerdote em Cuba, e de maneira especial é uma exigência que tem o Cardeal e o pároco do Santuário do Cobre", finalizou.