HAVANA, 28 de mar de 2012 às 11:39
Na multitudinária Missa na Praça da Revolução de Havana, o Papa Bento XVI propôs as chaves da verdade e a genuína liberdade, cuja fonte é Cristo, para obter as mudanças que necessitam Cuba e o mundo.
Na homilia da Missa a que assiste o presidente cubano Raúl Castro, as autoridades cubanas, os bispos da ilha e outros prelados da América Latina, o Santo Padre assinalou que "Cuba e o mundo precisam de mudanças, mas estas só terão lugar se cada um estiver em condições de se interrogar acerca da verdade e se decidir a enveredar pelo caminho do amor, semeando reconciliação e fraternidade".
O Papa explicou que Deus sempre é próximo ao homem, cuja máxima expressão de amor é Cristo, que "revela-se como o Filho de Deus Pai, o Salvador, o único que pode mostrar a verdade e dar a genuína liberdade".
Em efeito, disse o Pontífice, “a verdade é um anseio do ser humano, e procurá-la supõe sempre um exercício de liberdade autêntica. Muitos, todavia, preferem os atalhos e procuram evitar essa tarefa. Alguns, como Pôncio Pilatos, ironizam sobre a possibilidade de conhecer a verdade, proclamando a incapacidade do homem de alcançá-la ou negando que exista uma verdade para todos".
"Esta atitude, como no caso do ceticismo e do relativismo, produz uma transformação no coração, tornando as pessoas frias, vacilantes, distantes dos demais e fechadas em si mesmas. São pessoas que lavam as mãos, como o governador romano, e deixam correr o rio da história sem se comprometer".
O Papa denunciou logo o fanatismo de quem chega à irracionalidade para procurar a verdade e tentam impor esta perspectiva aos outros, "na realidade, quem age irracionalmente não pode chegar a ser discípulo de Jesus", precisou.
"Fé e razão são necessárias e complementares na busca da verdade. Deus criou o homem com uma vocação inata para a verdade e, por isso, dotou-o de razão. Certamente não é a irracionalidade que promove a fé cristã, mas a ânsia da verdade. Todo o ser humano deve perscrutar a verdade e optar por ela quando a encontra, mesmo correndo o risco de enfrentar sacrifícios".
Além disso, prosseguiu o Santo Padre, "a verdade sobre o homem é um pressuposto imprescindível para alcançar a liberdade, porque nela descobrimos os fundamentos duma ética com que todos se podem confrontar, e que contém formulações claras e precisas sobre a vida e a morte, os deveres e direitos, o matrimônio, a família e a sociedade, enfim sobre a dignidade inviolável do ser humano".
Este patrimônio ético, explicou, "é o que pode aproximar todas as culturas, povos e religiões, as autoridades e os cidadãos, os cidadãos entre si, os crentes em Cristo com aqueles que não crêem Nele.".
O Papa Bento XVI falou depois: “Queridos amigos, não hesiteis em seguir Jesus Cristo. Nele encontramos a verdade sobre Deus e sobre o homem. Ajuda-nos a superar os nossos egoísmos, a sair das nossas ambições e a vencer o que nos oprime. Aquele que pratica o mal, aquele que comete pecado é escravo do pecado e nunca alcançará a liberdade. Somente renunciando ao ódio e ao nosso coração endurecido e cego é que seremos livres, e uma vida nova germinará em nós.".
O Papa se referiu logo ao direito humano à liberdade religiosa, "que consiste em poder proclamar e celebrar mesmo publicamente a fé, comunicando a mensagem de amor, reconciliação e paz que Jesus trouxe ao mundo".
Depois de reconhecer "com alegria os passos que se têm realizado em Cuba para que a Igreja cumpra a sua irrenunciável missão de anunciar, publica e abertamente, a sua fé.", o Papa disse que "entretanto é preciso avançar ulteriormente. E desejo encorajar as instâncias governamentais da Nação a reforçarem aquilo que já foi alcançado e a prosseguirem por este caminho de genuíno serviço ao bem comum de toda a sociedade cubana".
"O direito à liberdade religiosa, tanto na sua dimensão individual como comunitária, manifesta a unidade da pessoa humana, que é simultaneamente cidadão e crente, e legitima também que os crentes prestem a sua contribuição para a construção da sociedade", ressaltou.
Bento XVI explicou que "quando a Igreja põe em relevo este direito, não está a reclamar qualquer privilégio. Pretende apenas ser fiel ao mandato do seu Fundador divino, consciente de que, onde se torna presente Cristo, o homem cresce em humanidade e encontra a sua consistência".
"Por isso, a Igreja procura dar este testemunho na sua pregação e no seu ensino, tanto na catequese como nos ambientes formativos e universitários. Esperemos que também aqui chegue brevemente o momento em que a Igreja possa levar aos diversos campos do saber os benefícios da missão que o seu Senhor lhe confiou e que ela não pode jamais negligenciar".
O Papa se referiu logo ao legado do Padre da Pátria Cubana, o sacerdote Félix Varela cuja causa de beatificação está em processo e "que passou à história de Cuba como o primeiro que ensinou a pensar a seu povo".
"O padre Varela indica-nos o caminho para uma verdadeira transformação social: formar homens virtuosos para forjar uma nação digna e livre, já que esta transformação dependerá da vida espiritual do homem; de fato, «não há pátria sem virtude»".
Finalmente e depois de invocar o amparo da Virgem Maria que em Cuba veneram sob o nome da Virgem do Cobre, o Santo Padre alentou a caminhar "na luz de Cristo, que pode dissipar as trevas do erro. Supliquemos-Lhe que, com o valor e o vigor dos santos, cheguemos a dar uma resposta livre, generosa e coerente a Deus, sem medos nem rancores.”