WASHINGTON DC, 16 de abr de 2012 às 22:06
Quase exatamente cem anos após o Titanic ter afundado se multiplicam as histórias sobre os seus passageiros contadas pelos sobreviventes, como aquela dos três sacerdotes que por distintos motivos se encontravam a bordo do navio na noite em que este colidiu fatalmente com um iceberg, e ajudaram heroicamente os passageiros a subir nos botes salva-vidas e, nos momentos finais, acompanharam com os sacramentos e a oração as vítimas do desastre.
O Pe. Juozas Montvila, sacerdote nascido em 1885 em Lituânia, o mais jovem dos três presbíteros a bordo do transatlântico, dirigia-se aos Estados Unidos para servir pastoralmente às comunidades de imigrantes lituanos em Nova Iorque ou em Massachusetts. O presbítero foi sedo proibido de exercer seu ministério católico em sua terra natal, em meio da repressão religiosa dos czares russos.
De acordo ao testemunho de sobreviventes, o Pe. Montvila "serviu seu chamado até o fim", recusando-se a escapar para ajudar outros passageiros a chegar até os botes salva-vidas. O Pe. Montvila considerado um herói em Lituânia.
Por sua parte o Pe. Joseph Peruschitz , sacerdote beneditino alemão, viajava aos Estados Unidos para assumir o cargo de diretor da escola preparatória dos beneditinos em Collegeville, Minnesota.
Durante a viagem, e à semelhança dos outros dois sacerdotes, o presbítero escutou confissões e celebrou Missa cada dia.
Segundo o testemunho de um sobrevivente que os viu à distância enquanto seu bote se afastava, nos últimos minutos da tragédia, o P. Peruschitz junto ao P. Thomas Byles dirigiram a reza do Rosário junto às vítimas que tinham ficado a bordo, ao tempo que as ondas chegavam à coberta.
O Pe. Thomas Byles viajava rumo a América do Norte para presidir o matrimônio de seu irmão, William. No momento da colisão do Titanic contra o iceberg que ocasionou a catástrofe, Byles se encontrava rezando seu breviário.
Todos os testemunhos dos sobreviventes coincidem em destacar a grande liderança e o valor demonstrado pelo sacerdote britânico.
Às 2:20 da madrugada de 15 de abril, hora em que afundou completamente o navio, o Pe. Byles, rezou o Ato de Contrição junto aos fiéis que permaneciam de joelhos junto a ele, e lhes deu a absolvição geral.
Uma história particular é a do P. Francis Browne, que viajou a bordo do Titanic mas como seminarista jesuíta e se livrou da tragédia. Apesar de que um casal de milionários que conheceu no navio se ofereceu a pagar a viagem até Nova Iorque, seu superior ordenou que ele abandonasse a nave no último porto europeu no que se deteve o Titanic, antes de dirigir-se aos Estados Unidos, em South Hampton.
"Saia já dessa nave" dizia claramente o telegrama que recebeu o Pe. Browne e que devido à "Santa obediência", salvou-se da catástrofe. O sacerdote jesuíta manteve essa nota em sua carteira até o último de seus dias.
Entretanto, durante o pouco tempo que esteve ao interior do Titanic, o então jovem seminarista, aficionado à fotografia, retratou o estilo de vida dos passageiros e a tripulação do transatlântico.
O Pe. Browne serviu logo como capelão das forças irlandesas durante a I Guerra Mundial, demonstrando grande valor e foi recompensado com várias condecorações, entre elas a Cruz Militar.
Percorreu pastoralmente toda a Irlanda e Austrália, fotografando tudo ao seu redor. No momento de sua morte, em 1960, suas imagens chegavam a mais de 40 mil.
O Pe. Edward O’Donnell, companheiro do Pe. Browne, colocou à luz suas fotografias esquecidas e as qualificou como um "equivalente em termos de fotografia ao descobrimento dos manuscritos do mar morto".