A HAIA, 31 de mai de 2012 às 16:36
O Substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, Arcebispo Angelo Becciu, assinalou que a publicação dos documentos reservados da Santa Sé, constitui "um ato imoral de inaudita gravidade".
Assim o indicou o Arcebispo em uma entrevista concedida ao diretor de L’Osservatore Romano, Giovanni Maria Vian, e publicada em sua edição de hoje, 31, sobre o assunto das cartas roubadas supostamente pelo mordomo do Papa, Paolo Gabriele, e reunidas em uma publicação chamada “Sua Santidade. As Cartas Secretas de Bento XVI”, do jornalista italiano Gianluigi Nuzzi.
O Arcebispo explicou que a publicação das cartas roubadas é particularmente grave "sobre tudo porque não se trata unicamente de uma violação, já em si mesmo muito grave, da reserva à qual qualquer um tem direito, mas também de um vil ultraje à relação de confiança entre Bento XVI e aqueles que a ele se dirigem, também para expressar em consciência um protesto".
"Não foi simplesmente um roubo de algumas cartas ao Papa, violentou-se a consciência de quem se dirigiu a ele como ao Vigário de Cristo, foi um atentado ao ministério do Sucessor do Apóstolo Pedro", acrescentou.
Para o Arcebispo, não se pode tratar de justificar a publicação das cartas com uma "pretensão de transparência e reforma da Igreja" pois não é lícito roubar nem aceitar o que outros roubaram.
"Princípios simples, possivelmente muito simples para alguns, mas o certo é que quando alguém os abandona, perde-se facilmente e também leva outros à ruína. Não pode haver renovação que pisoteie a lei moral, possivelmente fundamentando-se no fato que o fim justifica os meios, um princípio que além do mais, não é cristão", explicou.
O Prelado explica ademais que viu o Santo Padre "doído, porque, por causa disso pôde ver-se até agora, alguém próximo a ele (referindo-se a Paolo Gabriele) que parece responsável por comportamentos injustificáveis sob qualquer ponto de vista. Com certeza, no Papa prevalece a piedade pela pessoa implicada. Mas fica o fato de que sofreu uma ação brutal".
"Bento XVI viu publicadas cartas roubadas de sua casa, cartas que não eram mera correspondência privada, mas informações, reflexões, manifestações de consciência, inclusive desabafos que recebeu unicamente em razão de seu ministério. Também por isso o Pontífice está particularmente doído, pela violência que sofreram os autores das cartas ou os escritos dirigidos a ele".
Uma parte dos artigos publicados pela imprensa nestes dias insiste em que as cartas roubadas revelam um mundo turvo dentro dos muros do Vaticano. Dom Angelo Becciu observa a respeito que "por uma parte, acusam a Igreja de governar de modo absolutista; por outra, escandalizam-se de que alguns, escrevendo ao Papa, expressem idéias ou queixas sobre a organização do governo mesmo".
"Os documentos publicados não revelam lutas ou vinganças, e sim essa liberdade de pensamento que, em troca, diz-se que a Igreja não permite. (…) Os diversos pontos de vista, inclusive as valorações contrastantes, são na verdade algo normal. Se alguém se sentir incompreendido, tem todo o direito de dirigir-se ao Pontífice. Onde está o escândalo?"
O Substituto da Secretaria de Estado do Vaticano ressalta logo que "obediência não significa renunciar a ter um juízo próprio, mas manifestar com sinceridade e até o fundo o próprio parecer, para logo aceitar a decisão do superior. E não por cálculo, mas sim por adesão à Igreja querida por Cristo".
Em relação à imagem do Vaticano que está sendo transmitida ultimamente, o Arcebispo afirma que sente muito que esta esteja tão deformada, mas que "isso deve nos fazer refletir e estimular-nos a todos nós a nos esforçarmos profundamente a fazer que se veja uma vida mais de acordo com o Evangelho".
Para terminar, o Arcebispo diz aos católicos que "no Papa não diminuiu a serenidade que o leva a governar a Igreja com determinação e clarividência. (…) Façamos nossa a parábola evangélica que o Papa Bento recordou há poucos dias: o vento abate sobre a casa, mas esta não será derrubada. O Senhor a sustenta e não haverá tempestades que possam abatê-la".