LONDRES, 3 de jul de 2012 às 09:42
O marido de Feng Jianmei, a mulher de 23 anos cuja foto junto ao cadáver de seu bebê abortado à força deu a volta ao mundo e despertou o interesse público sobre a cruel política do filho único na China, denunciou que sofreu maus tratos das autoridades governamentais logo depois de que a denúncia saiu à luz.
Em declarações recolhidas pelo jornal britânico The Daily Telegraph, Deng Jiyuan, de 29 anos, assinalou que depois da difusão das fotografias de sua esposa e o cadáver do seu bebê, a família foi posta sob vigilância e não pôde sair do hospital.
Deng Jiyuan disse que foi golpeado e chamado de traidor pelas autoridades de seu país, por ter falado sobre o crime do seu bebê. Tentou escapar três vezes, e só teve êxito na terceira ocasião.
"Não estamos satisfeitos com os resultados das investigações", indicou Deng, em referência às pesquisas que resultaram na demissão de duas autoridades do governo chinês.
Segundo os relatórios, a polícia da China levou à força a cidadã Feng Jianmei para obrigá-la a abortar o seu segundo bebê porque não pôde pagar a tempo os 40.000 yuanes (6.200 dólares) com os que o governo pune aqueles que ousam ter mais de um filho.
Para o pai do bebê abortado, "o governo não se comunicou muito comigo depois do acontecido. Eles só disseram ‘o que está feito, feito está. Esta situação já passou’".
"Depois que escapei, escutei as notícias de que eles tinham pendurado cartazes me chamando de traidor. Aparentemente, eles fizeram isso para me ameaçar", assinalou.
No domingo 24 de junho, autoridades de sua aldeia, Zengjiazhen, convidaram Deng Jiyuan para jantar, e ele encontrou sua melhor oportunidade para escapar.
"Inclusive antes de que começasse o jantar, o líder da aldeia recebeu uma ligação do chefe do condado, e partiu antes de que comêssemos. (Nesse momento) me dei conta de que essa era a minha chance de escapar", recordou.
Só uma mulher o seguiu, a bordo de uma motocicleta. "Ela teve que descer de sua moto em uma passarela de pedestres, e facilmente a despistei", disse.
"Fiquei na casa de um amigo no condado Zhenping por dois dias, tendo tirado o cartão SIM e a bateria de meu celular. Não dormi nem consegui roupa nova, porque não me podia arriscar-me a ser preso. Então, na noite do 26 (de junho), aluguei um automóvel e dirigi até Ankang".
Deng Jiyuan conseguiu evitar aos policiais até chegar à capital do país, Beijing. Durante todo esse tempo, esteve em contato com sua família, a quem ligou todos os dias, e temem uma vingança das autoridades.
A irmã de Deng Jiyuan esteve no dia 30 de junho no hospital, junto a Feng Jianmei, e indicou que as autoridades do governo cessaram de persegui-los.
Entretanto, indicou que "estamos preocupados, de todas formas, porque a situação de Feng está piorando outra vez. Ela tem baixa pressão sangüínea, e freqüentes dores de cabeça e estômago", indicou.
"Ela esteve um tanto triste nestes dias", indicou.
A irmã de Deng Jiyuan denunciou que muitos aldeãos ajudaram o governo local a seqüestrar Feng Jianmei e abortar a seu bebê, e indicou que a investigação do incidente com a prisão dos dois membros do governo havia sido como "uma lição na qual o professor pune seus alunos sem realmente castigá-los de verdade".