BRASILIA, 11 de mar de 2005 às 15:59
Mesmo após a aprovação na Câmara dos Deputados da Lei de Biossegurança, no último dia 2, que incentiva entre outras coisas a pesquisa com células tronco embrionárias, os Bispos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ainda não descartam uma última chance de impedir a pesquisa com embriões. A busca agora é pelo veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A assessoria de imprensa da CNBB está trabalhando para que os veículos de comunicação a divulguem e angariem ainda mais apoio da sociedade. Em entrevista concedida aos assessores da Conferência, o arcebispo de Salvador e presidente da CNBB, cardeal Geraldo Majella Agnelo alega que as pessoas doentes e portadoras de deficiências estão sendo usadas pelos políticos por conta da sua esperança de cura e o debate está só no campo emocional. Para o prelado é preciso que haja mais diálogo antes da aprovação de uma Lei deste porte: “Quem afirma que os cristãos são contrários ao progresso da ciência, anti-modernos e coisas semelhantes, não está querendo dialogar, assume uma posição arrogante, tentando desqualificar o interlocutor”, argumenta.
Na entrevista, Dom Geraldo indica que a postura da igreja sobre a vida não muda com a aprovação da Lei, e que segue compreendendo a dignidade da vida humana em todos os estágios de seu desenvolvimento, desde os momentos iniciais até os momentos finais. "A vida humana tem um valor sagrado, ela é inviolável. Quando se abre exceção a esta regra, a vida humana passa a ser considerada um bem do qual se pode dispor, passa a ser tratada de acordo com a utilidade que tem, podendo ser negociada, ferida, destruída, segundo os interesses dominantes", setenciou.
Sobre as conseqüências que podem gerar esta Lei para a sociedade Dom Geraldo explicou que "aprovar uma lei que fere a vida, permitindo o uso de embriões para retirar deles as células-tronco não somente terá como conseqüência a destruição de uma grande quantidade de vidas humanas em seu estágio inicial, quando é mais indefesa e vulnerável, mas cria uma mentalidade que se difunde e penetra no quotidiano: todos aprenderão que se pode destruir uma vida sempre que isto traga alguma vantagem".
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Sobre o assunto da votação da câmara o Bispo chamou a atenção à postura dos políticos cristãos que devem saber dar razão de suas opções e que não digam que uma opção deve sair da razão e outra da fé. Além disso, explicou que para muitos políticos é uma tentação querer economizar diálogo, ao dizer que o assunto não é de competência da Igreja. E acrescentou que é indispensável o respeito mútuo e diálogo para construir uma convivência verdadeiramente democrática. Insistiu também em que vale a pena seguir com o diálogo pois ainda não terminou o processo legislativo pelo qual uma proposta se torna efetivamente lei.
Perguntado sobre se a Igreja é contra a pesquisa com células tronco, o Bispo foi claro: "A Igreja tem grande estima pela pesquisa científica e aguarda com muita esperança as contribuições que dela poderão vir para aliviar sofrimentos e melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas. Nesse sentido, são bem vindas as pesquisas com células-tronco adultas (incluídas as células-tronco do cordão umbilical e da placenta), sendo já muitos os artigos científicos que comprovam experiências de curas".
E finalizou: "É necessária muita cautela quando estamos diante de terrenos não suficientemente explorados e, mais ainda, quando está em jogo a possibilidade de ferir a dignidade humana, com graves repercussões na formação da mentalidade, especialmente das novas gerações. É inadmissível eliminar um ser humano para aproveitar-se de seu corpo ou de parte dele, o que ocorre com a utilização das células-tronco embrionárias humanas, mesmo que a finalidade seja procurar curas para algumas doenças. "