BEIRUTE, 15 de set de 2012 às 14:28
Hoje em seu discurso aos membros do governo, líderes religiosos e representantes do mundo da cultura, o Papa Bento XVI assinalou que "O Líbano é chamado, agora mais do que nunca, a ser um exemplo" para o Oriente Médio e para o mundo de autêntica paz e de defesa e promoção do direito sagrado à vida.
No salão 25 de maio do Palácio Presidencial da Baabda, Bento XVI dirigiu aos políticos, diplomatas, religiosos, homens e mulheres do mundo da cultura, um convite “dar testemunho ao vosso redor e com coragem, em tempo favorável e fora dele, de que Deus quer a paz, de que Deus nos confia a paz".
Antes de pronunciar seu discurso às 11:15 a.m. (hora local), o Papa participou de uma cerimônia na que, junto ao presidente libanês, Michel Sleiman, plantaram um cedro do Líbano.
Refletindo sobre as palavras de Cristo "A paz vos deixo, minha paz vos dou", o Santo Padre disse que na cerimônia "pedi a Deus que vos abençoe, abençoe o Líbano e abençoe todos os habitantes desta Região que viu nascer grandes religiões e nobres culturas”.
“Por que motivo escolheu Deus esta Região? Porque vive ela em turbulência? Parece-me que Deus a escolheu para servir de exemplo, para testemunhar ao mundo a possibilidade concreta que o homem tem de viver o seu anelo de paz e reconciliação", assinalou.
"O que faz rico um país são, antes de mais nada, as pessoas que nele vivem. De cada uma e todas juntas, depende o seu futuro e a sua capacidade de se comprometer pela paz. Tal compromisso só será possível numa sociedade unida. No entanto, a unidade não é a uniformidade. O que assegura a coesão da sociedade é o respeito constante pela dignidade de cada pessoa e a participação responsável de cada um segundo as próprias capacidades, pondo a render o que há em si de melhor".
Bento XVI ressaltou logo que "A fim de assegurar o dinamismo necessário para construir e consolidar a paz, é preciso retornar incansavelmente aos fundamentos do ser humano. A dignidade do homem é inseparável do caráter sagrado da vida, que o Criador lhe deu. No desígnio de Deus, cada pessoa é única e insubstituível. Vem ao mundo numa família, que é o seu primeiro lugar de humanização e sobretudo a primeira educadora para a paz. Por isso, para construir a paz, a nossa atenção deve fixar-se sobre a família a fim de facilitar a sua tarefa, para assim a apoiar e consequentemente promover por toda a parte uma cultura da vida.
“A eficácia do compromisso a favor da paz depende do conceito que o mundo possa ter da vida humana. Se queremos a paz, defendamos a vida. Esta lógica desabona não só a guerra e as ações terroristas, mas também qualquer atentado contra a vida do ser humano, criatura querida por Deus", frisou o Santo Padre.
Depois de assinalar que "a grandeza e a razão de ser de toda pessoa só se encontra em Deus", o Papa disse que "o reconhecimento incondicional da dignidade de cada ser humano, de cada um de nós, e do carácter sagrado da vida responsabiliza-nos a todos diante de Deus. Portanto, devemos unir os nossos esforços para desenvolver uma sã antropologia que integre a unidade da pessoa. Sem isso, não é possível construir a paz autêntica".
"Deste modo, a fim de patentear às novas gerações um futuro de paz, a primeira tarefa é educar para a paz, construindo uma cultura de paz. A educação, na família ou na escola, deve ser, antes de mais nada, educação para os valores espirituais que conferem à transmissão do saber e das tradições duma cultura o seu sentido e a sua força".
O Papa disse logo que "o espírito humano possui o gosto inato do belo, do bom e do verdadeiro; é o selo do divino, a marca de Deus nele! Desta aspiração universal deriva uma concepção moral firme e justa, que sempre coloca a pessoa no centro. Mas é só na liberdade que o homem se pode voltar para o bem, porque «a dignidade do homem exige que ele proceda segundo a própria consciência e por livre adesão, ou seja, movido e induzido pessoalmente desde dentro e não levado por cegos impulsos interiores ou por mera coação externa”.
Bento XVI sublinhou que "a tarefa da educação é acompanhar a maturação da capacidade de fazer escolhas livres e justas, que possam ir contra-corrente relativamente às opiniões generalizadas, às modas, às ideologias políticas e religiosas. A consolidação duma cultura de paz tem este preço. ".
"Obviamente é necessário banir a violência verbal ou física; é sempre um ultraje à dignidade humana, tanto do agressor como da vítima. Além disso, ao valorizar as obras de paz e o seu influxo no bem comum, cria-se também o interesse pela paz. Como testemunha a história, tais gestos de paz desempenham papel considerável na vida social, nacional e internacional".
Diante destes desafios, o Santo Padre recordou que "devemos estar bem cientes de que o mal não é uma força anônima que atua no mundo de forma impessoal ou determinista. O mal, o demônio, passa através da liberdade humana, através do uso da nossa liberdade; procura um aliado, o homem: o mal precisa dele para se espalhar. E assim, depois de ter violado o primeiro mandamento, o amor a Deus, vem para perverter o segundo, o amor ao próximo".
"Com ele, o amor ao próximo desaparece, deixando o lugar à mentira e à inveja, ao ódio e à morte. Mas é possível não se deixar vencer pelo mal, e vencer o mal com o bem (cf. Rm 12, 21). Somos chamados a esta conversão do coração; sem ela, as «libertações» humanas tão desejadas decepcionam, porque se movem no espaço reduzido que lhes concede a mesquinhez do espírito do homem, a sua dureza, as suas intolerâncias, os seus favoritismos, os seus desejos de vingança e os seus instintos de morte".
O Papa indicou ademais que "A liberdade religiosa tem uma dimensão social e política indispensável para a paz: promove uma coexistência e uma vida harmoniosas através do compromisso comum ao serviço de causas nobres e na busca da verdade que não se impõe pela violência, mas pela «sua própria força», aquela Verdade que é Deus. ".
"Eis o motivo por que a fé viva conduz invariavelmente ao amor. A fé autêntica não pode levar à morte. O obreiro de paz é humilde e justo. Por isso, os crentes têm hoje um papel essencial: dar testemunho da paz que vem de Deus e que é um dom concedido a todos na vida pessoal, familiar, social, política e econômica. A inércia dos homens de bem não deve permitir que o mal triunfe. O pior de tudo é não fazer nada!".
O Papa disse ao concluir seu discurso que "estas breves reflexões sobre a paz, a sociedade, a dignidade da pessoa, sobre os valores da família e da vida, sobre o diálogo e a solidariedade não podem permanecer ideais simplesmente enunciados; podem e devem ser vividos. Estamos no Líbano e é aqui que devem ser vividos".