VATICANO, 26 de set de 2012 às 14:32
O Papa Bento XVI fez hoje um especial chamado aos católicos a terem uma disposição fundamental: dirigir o coração e abri-lo docilmente a Deus para rezar na liturgia da Igreja.
Em sua habitual catequese da audiência geral celebrada esta manhã junto de milhares de fiéis na Praça de São Pedro, o Papa refletiu sobre a oração na liturgia, um espaço "precioso" que é ademais "um âmbito privilegiado no qual Deus fala a cada um de nós, aqui e agora, e espera nossa resposta".
“O que é a liturgia? Se abrirmos o Catecismo da Igreja Católica – subsídio sempre precioso, direi, e imprescindível – podemos ler que originalmente a palavra “liturgia” significa “serviço da parte do povo e em favor do povo”. Se a teologia cristã tomou esta palavra do mundo grego, o fez obviamente pensando no novo Povo de Deus nascido de Cristo que abriu os seus braços na Cruz para unir os homens na paz do único Deus. “Serviço em favor do povo”, um povo que não existe por si só, mas que se formou graças ao Mistério Pascal de Jesus Cristo. De fato, o Povo de Deus não existe por laços de sangue, de território, de nação, mas nasce sempre da obra do Filho de Deus e da comunhão com o Pai, concedida por Ele (Jesus)”, explicou o Papa .
O Papa recordou a aprovação no Concílio Vaticano II, em 4 de dezembro de 1963, do documento Sacrosanctum Concilium, sobre a liturgia, com o que ficou de manifesto "muito claramente a primazia de Deus e sua prioridade absoluta. Em primeiro lugar, Deus: isto é o que nos diz precisamente a opção conciliar de começar pela liturgia".
“Mas podemos nos perguntar: qual é esta obra de Deus à qual somos chamados a participar? A resposta que nos oferece a Constituição conciliar sobre a sagrada liturgia é aparentemente dupla. O número 5 nos indica, de fato, que a obra de Deus são as suas ações históricas que nos levam à salvação, culminada na Morte e Ressurreição de Jesus Cristo; mas no número 7 a mesma Constituição define a própria celebração da liturgia como “obra de Cristo”. Na verdade, esses dois significados são inseparavelmente ligados”, ensinou Bento XVI.
“Se nos perguntamos quem salva o mundo e o homem, a única resposta é: Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo, crucificado e ressuscitado. E onde está presente para nós, para mim hoje o mistério da morte e ressurreição de Cristo, que traz a salvação? A resposta é: na ação de Cristo através da Igreja, na liturgia, em particular no Sacramento da Eucaristia, que torna presente esta oferta do sacrifício do Filho de Deus, que nos resgatou; no Sacramento da Reconciliação, no qual se passa da morte do pecado à vida nova; e nos outros sacramentos que nos santificam (cfr Presbyterorum ordinis, 5). Assim, o Mistério Pascal da Morte e Ressurreição de Cristo é o centro da teologia litúrgica do Concílio”, afirmou Bento XVI.
"Vamos dar um passo adiante e perguntar: de que modo se faz possível esta atualização do Mistério Pascal de Cristo? O beato Papa João Paulo II, 25 anos após a Constituição Sacrosanctum Concilium, escreveu: “Para atualizar o seu Mistério Pascal, Cristo está sempre presente na sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas. A liturgia é, por consequência, o lugar privilegiado do encontro dos cristãos com Deus e com aquele que Ele enviou, Jesus Cristo".
“Nesta linha, gostaria apenas de mencionar um momento que, durante a própria liturgia, nos chama e nos ajuda a encontrar tal concordância, esta conformidade a isso que escutamos, dizemos e fazemos na celebração da liturgia. Refiro-me ao convite que faz o Celebrante primeiro da Oração Eucarística: “Sursum corda”, elevar nossos corações fora do emaranhado de nossas preocupações, nossos desejos, nossos anseios, nossa distração. O nosso coração, o íntimo de nós mesmos, deve abrir-se obediente à Palavra de Deus e recolher-se na oração da Igreja, para receber sua orientação a Deus pelas palavras que escuta e diz. O olhar para o coração deve dirigir-se ao Senhor, que está no meio de nós: é uma disposição fundamental”.
Finalizando seu discurso de hoje o Papa disse aos fiéis e peregrinos na manhã de hoje em Roma: “celebramos e vivemos bem a liturgia somente se permanecemos em atitude de oração, não se queremos “fazer qualquer coisa”, vermos ou agir, mas se voltamos o nosso coração a Deus e estamos em atitude de oração que nos une ao mistério de Cristo e ao seu diálogo de Filho com o Pai. O próprio Deus nos ensina a rezar, afirma São Paulo. Ele mesmo nos deu as palavras adequadas para nos dirigirmos a Ele, palavras que encontramos no Livro dos Salmos, nas grandes orações da sagrada liturgia e na própria Celebração eucarística”.
“Rezemos ao Senhor para sermos cada dia mais conscientes, de fato, de que a Liturgia é ação de Deus e do homem; oração que vem do Espírito Santo e de nós mesmos, inteiramente voltada ao Pai, em união com o Filho de Deus feito homem”, concluiu Bento XVI.