SANTIAGO, 3 de out de 2012 às 11:52
Joaquim Navarro-Valls, quem fora diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé ao serviço do Beato Papa João Paulo II por mais de 20 anos, afirmou que "quando o cristão se comporta como cristão sempre convence, e incide no âmbito institucional, coletivo ou familiar onde se encontra".
"Uma pessoa com convicções possui uma força imensamente superior a de quem somente tem interesses", assinalou, e acrescentou que "o cristianismo é, sobretudo um modo de viver, que pensa a vida, explica-a e a faz compreensível", durante sua intervenção na IV Jornada de Católicos e Vida Pública que organiza a Universidade de Santo Tomás, em Antofagasta (Chile), nos dias 1 e 3 de outubro.
Navarro-Valls advertiu que se formulam mal os temas da comunicação e o testemunho público, acham "que a transmissão da fé depende de possuir uma excelente técnica comunicativa. Isto tem algo de verdade, mas em seu conjunto é falso".
"Os primeiros cristãos comunicavam magnificamente, mas nenhum possuía uma licenciatura em comunicações, nem tinham um extraordinário nível cultural", indicou.
O antigo porta-voz vaticano remarcou que "os primeiros fiéis sabiam que a vida pública era muito mais que a vida pública política. A vida pública, nós a formamos ".
Navarro-Valls também assinalou em sua exposição que uma democracia deveria reconhecer acima de tudo a natureza religiosa do ser humano.
"Quando um Estado, por exemplo, respeita a religião, não deve fazê-lo como um fenômeno cultural, mas sim antropológico", sublinhou.
Ele assegurou que na história da humanidade "não existiu nunca uma cultura não religiosa. Existem pessoas que não acreditam, mas as culturas foram religiosas sempre".
"O agnosticismo é um fenômeno histórico recente, é a secularização do pensamento original humano que era religioso", indicou.
Citando ao pensamento de santos, Navarro-Valls, assinalou que "o próprio Santo Tomás sentia a necessidade de falar da importância social da religião, porque estava convencido de que a expulsão do religioso das leis do Estado seria assistir à extinção da justiça".
"O mesmo pensamento se repete em outros autores como Santo Agostinho, que considerava que sem religião o Estado não seria mais que um grande bando de ladrões", recordou.
Criticou a quem vê à fé católica como um fato cultural, pois "o erro desta visão é não ter em conta a enorme diferença que separa desfrutar de uma obra de arte da relação humana com Deus".
"Embora possa apreciar uma pirâmide egípcia sem ver nela nenhum elemento de verdade, não posso rezar se não creio que há Alguém que me escuta", indicou.
Ele também rechaçou que a fé católica seja exclusivamente um código moral, como alguns acreditam e difundem.
"Confio a Deus toda minha existência, a um código moral não concedo nem um quarto de hora da minha vida", assinalou.
Navarro-Valls advertiu que em meio da atual situação neopagã que se vive no mundo, "a fé não pode ficar na defensiva, não pode fazer um futebol à defensiva. Já não é uma tradição que temos que proteger, mas sim uma perspectiva de vida futura que temos que recriar e construir".
"Essa é a tarefa que temos nós. Uma possibilidade nova, grande e autêntica, muito parecida e similar a dos primeiros cristãos".
O antigo porta-voz do Beato Papa João Paulo II relatou que em uma ocasião, pouco antes de falar frente aos representantes das Nações Unidas e embora fosse celebrar a Missa pela tarde, no Yankee Stadium, o Santo Padre pediu que preparassem o necessário para a celebração eucarística porque sentiu a necessidade de suplicar a Deus uma força especial.
Com esta anedota, Navarro-Valls explicou que apesar de qualquer estratégia elaborada, falta essa necessidade do trato direto, pessoal, com Deus, pois sem isso "não se vai a nenhuma parte".
"João Paulo II tinha tal familiaridade com Cristo, uma união quase ideal, que lhe permitia praticamente atuar como Cristo em cada circunstância", assinalou.
Ele indicou que em sua convivência com "três santos, Jose Maria Escrivá, João Paulo II e a beata Teresa de Calcutá", encontrou algo em comum, "o sentido de responsabilidade da própria vida".
"Mas a coisa que se via imediatamente nos três era o bom humor, inclusive em situações nas que tudo fazia pensar que o mais adequado era chorar", disse.
O antigo porta-voz vaticano qualificou a este bom humor como uma "virtude que o cristão deve viver e propor como um traço definitivo do cristianismo".