ROMA, 23 de nov de 2012 às 12:08
Um ato de vandalismo seguido de desculpas e um momento de reconciliação. Foi o que aconteceu em Qara, na diocese de Homs ao oeste da Síria, onde em 19 de novembro foi profanada a antiga igreja dos Santos Sergio e Baco, do século VI.
Conforme assinala a agência vaticana Fides, os vândalos roubaram mais de 20 ícones do século XVIII e XIX, manuscritos antigos e vestimentas. Também profanaram o altar e trataram de roubar um famoso afresco do século XII, a "Madonna do leite". Na tentativa de arrancá-lo da parede o danificaram, deixando dois cortes na imagem da Virgem.
Logo após a difusão da notícia em Qara, uma cidade sob o controle total da oposição síria, surgiu uma cadeia de solidariedade em todas as comunidades.
Os chefes de família, líderes tribais, líderes muçulmanos e de outras confissões visitaram a igreja para mostrar sua solidariedade ao sacerdote grego católico Georges Luis que, com um sacerdote grego-ortodoxo, continua celebrando Missa para as poucas famílias cristãs de Qara, mantendo acesa a chama da fé.
O Patriarca grego-ortodoxo Ignacio IV Hazim e o Patriarca grego-católico Gregorios III Laham foram informados e exortaram tanto ao governo como à oposição para que garantam a segurança no país que, como já disseram, "está se afundando no caos", devido aos atos de bandidagem, sequestros, assaltos, massacres, bombardeios de zonas residenciais.
Os fiéis cristãos e muçulmanos de Qara se reuniram em vigílias de oração. No dia 21 de novembro, festa da Apresentação da Virgem no templo, aconteceu algo que a comunidade local definiu como "um milagre".
De manhã, um caminhão com homens mascarados parou em frente à igreja. O grupo pediu para reunir-se com o padre Georges. Conforme o sacerdote informou à agência, os homens lhe disseram que "não achamos que está bem o que os nossos companheiros fizeram. Pedimos-lhe que nos perdoem. Somos uma comunidade, um povo, uma nação. Sua segurança é a nossa. Está sob nossa responsabilidade".
A maior parte dos objetos roubados –que, se não fossem recuperados, já estavam destinados ao mercado de contrabando– foram restituídos para a alegria e o alívio de todos.
O Padre Georges serviu um café arábico aos homens e muitas outras pessoas do bairro se uniram ao momento de compartilhar. Um final marcado pela reconciliação que o movimento local "Mussalaha" felicitou.