REDAÇÃO CENTRAL, 15 de ago de 2013 às 16:59
Em 1984 uma ecografia mostrava que no ventre da chilena Rosa Silva se gerava um bebê com três braços e duas cabeças. Os médicos insistiram em que se pratique um aborto, mas ela se negou, pois estava disposta a receber "o que Deus lhe mandasse" e Deus não lhe enviou um bebê com má formação, mas lhe enviou filhos gêmeos, os hoje sacerdotes Felipe e Paulo.
Idênticos em corpo e vocação, Felipe e Paulo Lizama sempre compartilharam tudo: a mesma educação, amizades, gostos esportivos -jogaram e se destacaram juntos nas ligas menores do clube Colo Colo- e uma profunda fé. Entretanto, que os dois respondessem ao chamado à vida sacerdotal surpreendeu a mais de um.
Em uma entrevista concedida ao Grupo ACI, os agora Padres Felipe e Paulo narraram a surpreendente história de seu nascimento.
Seus pais Humberto Lizama e Rosa Silva, eram paramédicos e já tinham a sua irmã Paola, que tinha apenas quatro anos quando Rosa ficou novamente grávida.
A família vivia no povoado de Lagunillas de Casablanca em Valparaíso, Chile. Fazendo o seu trabalho de paramédica, Rosa -que não sabia que estava grávida- expôs-se aos raios x em um procedimento. Por isso, assim que soube de seu estado, realizou a sua primeira ecografia.
O médico lhe advertiu que via "algo estranho", disse-lhe que "o bebê vem com três braços e os pés estão um pouco enredados", e, além disso, "tinha duas cabeças", conforme relata Paulo.
Embora o aborto por razões "terapêuticas" fosse permitido no Chile e os médicos lhe dissessem que sua vida corria perigo em uma gestação tão estranha, Rosa se opôs a esta prática e lhes disse que aceitava o que "Deus mandava".
"O Senhor obrou e produziu uma gravidez de gêmeos, não sei se o médico se equivocou", assegura. Felipe e Paulo adicionam que "sempre penso com especial carinho e ternura no coração da minha mãe que dava a sua vida por mim, por nós".
Os irmãos Lizama nasceram em 10 de setembro de 1984. Primeiro nasceu Felipe e como a placenta não saía, os médicos sugeriram à mãe realizar uma raspagem, mas ela não aceitou porque ela sentia que o outro bebê estava por vir. Paulo nasceu 17 minutos depois.
"Este último episódio é muito significativo para mim, os médicos introduziriam uns utensílios para tirar a placenta que demorava a sair. Minha mãe sabia que eu estava aí. Demorei, mas saí", se fizessem a raspagem "o mais provável é que teriam me prejudicado gravemente", expressou Paulo.
Os gêmeos conheceram a história de seu nascimento quando cursavam o sexto ano de formação no Seminário. "Sem dúvida a sabedoria da mãe e seu coração permitiram que no momento oportuno soubéssemos de tão belo acontecimento", afirma Paulo.
Sempre tinha pensado que a vocação ao sacerdócio vinha desde quando era adolescente, mas depois se deu conta que a sua vocação sacerdotal, Deus a gerou sempre e foi possível graças ao sim de sua mãe.
"Como não defender a vida? Como não pregar o Deus da vida? Este acontecimento potencializou a minha vocação, deu-lhe uma vitalidade específica e, pelo mesmo, pude me entregar existencialmente ao que acreditei. Estou convencido do que acredito, do que sou e do que falo, claramente por Graça de Deus", adicionou.
O chamado ao sacerdócio
A infância dos irmãos Lizama transcorreu entre o estudo, a formação católica de casa, as catequeses na capela do povoado e a paixão pelo futebol.
Desde pequenos "íamos à Missa aos domingos e fomos levados à oração do mês de Maria, que no Chile se celebra em novembro".
Receberam a Primeira Comunhão, mas por jogar futebol deixaram de ir a Missa. A separação de seus pais marcou suas vidas e tomaram a decisão de deixar o futebol, então tinham 16 anos de idade.
Neste momento de dor pela ruptura familiar, os Lizama começaram a participar mais ativamente na paróquia "Virgem de Nossa Senhora das Mercedes" de Lagunillas, onde se prepararam para receber o sacramento da Crisma.
Para Paulo participar de um grupo paroquial significava novos amigos e ter algo que fazer no fim de semana. "Não tinha bem enraizadas as minhas convicções em Deus e na pureza do sacramento", afirma e recorda que em "uma adoração ao Santíssimo, entrei na Igreja, cantos gregorianos, a custódia, o incenso, o silêncio, o Senhor. Disse a mim mesmo: isto é para mim".
Felipe por sua parte, desenvolveu um "gostinho" pelas coisas de Deus ao conhecer mais a Igreja desde dentro, assim como "a figura próxima de um sacerdote, o Pe. Reinaldo Osorio, quem fora o formador do Seminário, ao que depois assistiram.
"Deus estava me chamando. Dei-me conta que era em Deus e nas coisas de Deus onde eu era feliz, não houve lugar a dúvidas: queria ser sacerdote", explicou.
Apesar de serem muito próximos, não comentaram estas inquietações vocacionais entre eles. "Não sei quem dos dois sentiu primeiro o chamado. Acredito que Deus fez muito bem as coisas, para proteger a liberdade na resposta. (…) Se eu considerava o sacerdócio como uma realidade possível, que preenchia o meu coração por que o meu irmão não poderia fazê-lo também?", recorda Paulo.
Aos 18 anos de idade terminaram a escola e ingressaram em 8 de março de 2003, ao Pontifício Seminário Maior San Rafael de Lo Vásquez.
Para a família não foi fácil aceitar esta dupla decisão. Entretanto, ao terminar o primeiro ano de formação a atitude de Rosa mudou. "Minha mãe me confessou que estava tranquila porque nos via contentes", assegura Felipe.
Os gêmeos foram ordenados diáconos em setembro de 2011 e em 28 de abril de 2012 foram ordenados sacerdotes pelo Bispo de Valparaíso, Dom Gonzalo Duarte García. Nesse mesmo dia, os gêmeos celebraram sua primeira Missa juntos em sua paróquia de origem, "Nossa Senhora das Mercedes" em Lagunillas. Felipe presidiu e Paulo concelebrou.
A pouco mais de um ano de sua ordenação, o Padre Felipe serve na Paróquia San Martín de Tours de Quillota e o Padre Paulo na Paróquia Assunção de Maria de Achupallas, Viña del Mar, onde por encargo do Bispo é o assessor da Pastoral Juvenil diocesana.
Dirigindo-se aos jovens que descobrem o chamado do Senhor para segui-lo mais de perto, o Padre Felipe explica que "Deus não brinca conosco. Quer que sejamos felizes e o sacerdócio é uma vocação bela e que nos faz plenamente felizes".
O Padre Paulo adiciona que seguir Jesus não é fácil, mas é belo. "Jesus, a Igreja e o Mundo nos necessitam. Mas não necessitam qualquer jovem: necessitam jovens cheios da verdade de Deus, de modo que sua vida mesma transpareça vida, o sorriso mostre esperança, o olhar mostre fé e suas ações mostrem amor", afirma.
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