VATICANO, 8 de set de 2013 às 20:31
Ante os fiéis congregados na Praça de São Pedro na tarde de ontem, com motivo do dia de Jejum e Oração pela Paz na Síria, Oriente Médio e no mundo, o Papa Francisco pediu "que se acabe barulho das armas!", pois "a guerra sempre significa o fracasso da paz, é sempre uma derrota para a humanidade".
O Santo Padre assinalou que, tal como se expressa no livro do Gênesis, "toda a criação constitui um conjunto harmonioso, bom, mas os seres humanos em particular, criados à imagem e semelhança de Deus, formam uma única família, em que as relações estão marcadas por uma fraternidade real e não simplesmente de palavra: o outro e a outra são o irmão e a irmã que devemos amar, e a relação com Deus, que é amor, fidelidade, bondade, se reflete em todas as relações humanas e dá harmonia para toda a criação".
"O mundo de Deus é um mundo onde cada um se sente responsável pelo outro, pelo bem do outro. Esta noite, na reflexão, no jejum, na oração, cada um de nós, todos nós pensemos no profundo de nós mesmos: não é este o mundo que eu desejo? Não é este o mundo que todos levamos no coração?", questionou.
O mundo que todos queremos, perguntou o Papa, "não é um mundo de harmonia e de paz, em nós mesmos, nas relações com os outros, nas famílias, nas cidades, nas nações e entre as nações? E a verdadeira liberdade para escolher entre os caminhos a serem percorridos neste mundo, não é precisamente aquela que está orientada pelo bem de todos e guiada pelo amor?".
"Perguntemo-nos agora: é este o mundo em que vivemos? A criação conserva a sua beleza que nos enche de admiração; ela continua a ser uma obra boa. Mas há também violência, divisão, confronto, guerra. Isto acontece quando o homem, vértice da criação, perde de vista o horizonte da bondade e da beleza, e se fecha no seu próprio egoísmo".
"Quando o homem pensa só em si mesmo, nos seus próprios interesses e se coloca no centro, quando se deixa fascinar pelos ídolos do domínio e do poder, quando se coloca no lugar de Deus, então deteriora todas as relações, arruína tudo; e abre a porta à violência, à indiferença, ao conflito".
Francisco assinalou que isso "é justamente o que nos quer explicar o trecho do Gênesis em que se narra o pecado do ser humano: o homem entra em conflito consigo mesmo, percebe que está nu e se esconde porque sente medo; sente medo do olhar de Deus; acusa a mulher, aquela que é carne da sua carne; quebra a harmonia com a criação, chega a levantar a mão contra o seu irmão para matá-lo".
"Podemos dizer que da harmonia se passa à desarmonia? Não. Não existe a "desarmonia": ou existe harmonia ou se cai no caos, onde há violência, desavença, confronto, medo".
Em meio deste caos, assinalou o Papa, "Deus pergunta à consciência do homem: ‘Onde está o teu irmão Abel?’. E Caim responde ‘Não sei. Acaso sou o guarda do meu irmão?’".
"Esta pergunta também se dirige a nós, assim que também a nós fará bem perguntar: Acaso sou o guarda do meu irmão? Sim, tu és o guarda do teu irmão! Ser pessoa significa sermos guardas uns dos outros!".
Entretanto, lamentou, "quando se quebra a harmonia, se produz uma metamorfose: o irmão que devíamos guardar e amar se transforma em adversário a combater, a suprimir".
"Em toda violência e em toda guerra fazemos Caim renascer. Todos nós! E ainda hoje prolongamos esta história de confronto entre irmãos, ainda hoje levantamos a mão contra quem é nosso irmão".
O Papa denunciou que também na atualidade "nos deixamos guiar pelos ídolos, pelo egoísmo, pelos nossos interesses; e esta atitude se faz mais aguda: aperfeiçoamos nossas armas, nossa consciência adormeceu, tornamos mais sutis as nossas razões para nos justificar".
"Como se fosse uma coisa normal, continuamos a semear destruição, dor, morte! A violência e a guerra trazem somente morte, falam de morte! A violência e a guerra têm a linguagem da morte!".
O Santo Padre perguntou se em meio destas circunstâncias "É possível percorrer outro caminho? Podemos sair desta espiral de dor e de morte? Podemos aprender de novo a caminhar e percorrer o caminho da paz?".
"Invocando a ajuda de Deus, sob o olhar materno da Salus Populi romani, Rainha da paz, quero responder: Sim, é possível para todos!".
"Queria que cada um de nós, desde o menor até o maior, inclusive aqueles que estão chamados a governar as nações, respondesse: – Sim queremos!" caminhar pelo caminho da paz.
O Papa Francisco expressou que "como eu queria que, por um momento, todos os homens e mulheres de boa vontade olhassem para a Cruz!", pois na Cruz "podemos ver a resposta de Deus: ali à violência não se respondeu com violência, à morte não se respondeu com a linguagem da morte".
"No silêncio da Cruz se cala o fragor das armas e fala a linguagem da reconciliação, do perdão, do diálogo, da paz".
"Queria pedir ao Senhor, nesta noite, que nós cristãos, os irmãos de outras religiões, todos os homens e mulheres de boa vontade gritassem com força: a violência e a guerra nunca são o caminho da paz!".
O Santo Padre exortou a "que cada um olhe dentro da própria consciência e escute a palavra que diz: sai dos teus interesses que atrofiam o teu coração, supera a indiferença para com o outro que torna o teu coração insensível, vence as tuas razões de morte e abre-te ao diálogo, à reconciliação: olha a dor do teu irmão e não acrescentes mais dor, segura a tua mão, reconstrói a harmonia perdida; e isso não com o confronto, mas com o encontro!".
Francisco recordou as palavras de seu predecessor Paulo VI ante as Nações Unidas, em outubro de 1965: "Nunca mais uns contra os outros, não mais, nunca mais… Nunca mais a guerra, nunca mais a guerra!".
As palavras da paz, assinalou Francisco, são "perdão, diálogo, reconciliação", tanto "na amada nação síria como no Oriente Médio e em todo o mundo".
"Rezemos pela reconciliação e pela paz, e nos tornemos todos, em todos os ambientes, em homens e mulheres de reconciliação e de paz. Amém", concluiu.