O novo Secretário de Estado Vaticano nomeado recentemente e atual núncio apostólico na Venezuela, Dom Pietro Parolin foi entrevistado por Carlos Zapata do Jornal Católico da Venezuela. O Prelado destacou que a razão de ser da diplomacia da Santa Sé é a busca da paz.

A seguir o grupo ACI reproduz a tradução de amplos extratos da entrevista com o Jornal Católico da Venezuela. Na primeira parte o Arcebispo fala dos esforços de Bento XV, Pio XII e João Paulo II para conseguir a paz. Um esforço compartilhado pelo Papa Francisco.

É essa a finalidade da diplomacia?

Eu diria também que a razão de ser de uma diplomacia da Santa Sé é a busca da paz. E se a diplomacia da Santa Sé teve tanto renome e tanta aceitação em todo o mundo, no passado e no presente, é precisamente porque está além dos interesses nacionais, que às vezes são interesses muito particulares. Ela se põe nesta visão do bem comum da humanidade.

E em sua opinião, a propósito do que menciona de João Paulo II e considerando sua aliança com Lech Walesa Quais são os novos muros de Berlim que a Igreja deveria derrubar?

Acho que hoje, obviamente, o muro de Berlim fundamental é conseguir fazer a paz em meio da diversidade que temos em um mundo pluripolar.

Já não estão os blocos como antes. Isto é uma análise de geopolítica comum. Há distintos poderes. Surgiram poderes diferentes, com todos os problemas que estes trazem. Porque nós pensávamos em nossos desejos de paz e de felicidade, que a queda dos muros tradicionais: o muro de Berlim e o bloco entre países comunistas e Ocidente, ia trazer paz e felicidade ao mundo. E não foi assim. Desatou-se todo o problema do terrorismo.

Então, eu acho que o muro que se deve derrubar é como conseguir que todas estas diferentes realidades consigam entrar em acordo e trabalhar juntas para o bem de todos. Colocar juntas as diferenças para que não sejam divisões, mas que se tornem colaborações em prol de toda a humanidade.

E qual é o papel que joga neste aspecto a Secretaria de Estado do Vaticano?

A Secretaria de Estado do Vaticano tem que reinventar sua maneira de presença; porque os cenários são diferentes; temos as grandes atuações do cardeal Casaroli no tempo dos grandes blocos. Todo o tema da "aus politik", mas também todo o relacionado com a defesa dos Direitos Humanos, o tema do Helsinki que na Santa Sé teve um papel muito, muito importante. Agora me parece que as coisas se complicaram um pouco.

Muda de estilo… Também de finalidade?

Não. O que quero dizer é que se tem que reinventar a forma de presença, mas o objetivo sempre é o mesmo. E falando dos grandes desafios, superando este relativismo que é uma praga! Porque eu o veria dentro do discurso que estava fazendo: de compor as diferenças.

Se não há um piso comum onde se possa pisar; quer dizer, se não há uma verdade objetiva na que todos nos reconhecemos, já será muito mais difícil procurar pontos comuns. E este piso comum é a dignidade da pessoa humana em todas as suas dimensões, onde não se exclui a dimensão transcendente; não é apenas a dimensão pessoal, social, política, econômica, mas também a transcendente, pela qual se reconhece que o homem está feito a imagem e semelhança de Deus, e que Deus é a sua fonte.

Assim o vê o Santo Padre?

O Papa Francisco insistiu muito sobre isso: esta é a fonte mais sólida para assegurar o respeito dos Direitos Humanos, o respeito da dignidade do homem e dos povos em uma pacífica convivência.

Então, o problema é também de relativismo. O relativismo é fonte de conflito. E para lutar contra o relativismo, assim como para alcançar a paz, podemos esperar com Pietro Parolin uma ofensiva diplomática mundial mais férrea?

Esta é uma pergunta complicada. Vi que a Secretaria de Estado foi impulsionada pelas iniciativas do Papa, que tomou também um movimento diplomático. Eu sim espero que possamos retomar, porque nós temos esta grande vantagem respeito a outras Igrejas, a outras religiões: o contar com uma presença institucional internacional através da diplomacia. Então, nós temos que aproveitá-la!

Aproveitá-la em que sentido?

De utilizar estes instrumentos. Não deixá-los aí. Mas utilizá-los bem, como sempre fez a diplomacia vaticana. Sobretudo, em um momento de emergência. Utilizá-los para conseguir os grandes objetivos do bem da humanidade. Mas quero destacar especialmente que eu estou à completa dependência do Papa.

Esperamos uma Igreja, desde esse ponto de vista, mais protagonista?

Sim, neste sentido o esperamos. Sobretudo, aproveitar melhor estes instrumentos que temos. A rede das Nunciaturas, os contatos que temos nas organizações internacionais…

Alguns vaticanistas indicaram nas últimas horas que a geopolítica vaticana vai estar agora mais longe dos titulares de imprensa. Você o vê assim?

Você sabe muito bem que por inclinação pessoal eu não queria a diplomacia dos grandes titulares, mas sim uma diplomacia que seja efetiva. Nós não buscamos, eu acho, a popularidade. Sinceramente, nenhum de nós o quer, mas quer o efeito. E temos que tomar em conta o que diz o Evangelho: que não saiba sua mão esquerda, o que faz a sua mão direita.

Dom Parolin está trabalhando diretamente, ou assessorando –como se disse- este trabalho que se está fazendo para o caso da Síria?

Não, não. Eu ainda não tomei posse. Absolutamente não. Eu tomarei minhas funções em 15 de outubro e até então exercerei as funções correspondentes. Além disso, já tenho suficiente dor de cabeça com o meu trabalho aqui na Venezuela.

Mas, a minha ideia é que além dos detalhes e as coisas concretas aproveitemos estes instrumentos que temos como Igreja Católica. Estabeleceram-se no transcurso da história, e são valiosas ferramentas que servem para ajudar o mundo.

Conhece já o nome do Núncio que tomará cargo na Venezuela?

Honestamente não. E tampouco sabemos quanto tempo passará em que se realize uma nova nomeação. O que sim lhe posso comentar é que já temos Encarregado de Negócios para o país. Trata-se de Rüdiger Feulner.

O que se leva da Venezuela?

Muitas lembranças íntimas e inesquecíveis. Queria aproveitar para pedir as suas orações, porque a força da oração é poderosa. Experimentei-o nestes 4 anos de presença na Venezuela. Digo-lhes: conservem a fé, revivam esta fé, e façam dela um princípio de renovação da sociedade, que tanto o necessita.

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