WASHINGTON DC, 10 de set de 2013 às 13:44
A Presidente de Direitos da Mulher Sem Fronteiras, Reggie Littlejohn, denunciou que o total de abortos realizados na China pela política do filho único "é maior que toda a população dos Estados Unidos", e muitos deles "são forçados, inclusive estando no nono mês de gravidez" assim como o são as esterilizações e o controle restritivo da natalidade. "Esta é uma verdadeira guerra contra as mulheres", afirmou.
Littlejohn, em diálogo com o grupo ACI, assinalou que os efeitos negativos desta política estão generalizados na sociedade e prejudicam principalmente às mulheres e têm um impacto severo na sua saúde, assim como na saúde mental do país.
"Alguns abortos forçados são tão violentos que as próprias mulheres morrem (…) junto com seus bebês", e as esterilizações forçadas "causam complicações de saúde para toda a vida".
Explicou que o aborto seletivo por sexo dá lugar a "aproximadamente 37 milhões de homens chineses que nunca se casarão porque suas futuras esposas foram eliminadas de forma seletiva, e este desequilíbrio na demografia promove de maneira poderosa o tráfico de mulheres e a escravidão sexual" em todo o sudeste da Ásia.
Inclusive o Departamento de Estado dos Estados Unidos reconhece que "a tradicional preferência pelos filhos homens, (e) as políticas de redução de natalidade" são alguns dos principais fatores para que a China tenha "a taxa mais alta de suicídio feminino de qualquer país do mundo, aproximadamente 590 mulheres ao dia", indicou.
"O aborto forçado destroça as mulheres psicologicamente", expressou Littlejohn e pediu que "aqueles que se opõem à política ajudem as mulheres no país a resistir às pessoas que as obrigam a abortar ou abandonar suas filhas".
Na China há "119 meninos nascidos por cada 100 meninas", além disso, as baixas taxas de fertilidade, entre "1.5 a 1.7 filhos por mulher - muito abaixo do nível de substituição de 2,1", são a criação de uma sociedade que "está envelhecendo antes de fazer-se rica".
A organização que Littlejohn preside, traduziu um artigo de uma mulher da província de Guangdong no sul da China, Lili Zeng, que foi publicado recentemente no site de notícias chinês Tianya, onde relata que "dois dias antes de nascer o meu bebê, sete funcionários de planejamento familiar me seguraram e me forçaram a abortá-lo por meio de uma injeção, porque não tinha uma permissão de nascimento".
Zeng assinalou que mesmo eles tendo tentado abortar o seu bebê, seu filho nasceu com vida, mas morreu logo depois. Narrou que um oficial de planejamento da família lhe disse: "Eu sou apenas um executor da política. Se eu não estivesse aqui, haveria outra pessoa que teria feito a mesma coisa que eu e seu destino teria sido o mesmo".
Posteriormente o funcionário expressou que "se você quer culpar alguém, culpe a política (do filho único)".
Relatos como estes, onde as mulheres chinesas podem contar seu drama ao mundo, nos últimos meses são cada vez mais numerosos nas redes sociais.
No ano passado, o ativista cego pró-vida Chen Guangcheng foi notícia internacional por escapar da prisão domiciliar na China e pedir para ser levado aos Estados Unidos.
Guangcheng trabalhou para documentar os "horríveis" casos de violações dos direitos humanos em relação à política do filho único na China, falando contra esterilizações e abortos forçados, assim como outros "sofrimentos dos que não se fala" que a política ocasiona nas mulheres, explicou Littlejohn naquela oportunidade.