REDAÇÃO CENTRAL, 13 de set de 2013 às 18:00
Importantes meios de comunicação seculares de todo o mundo anunciaram nesta quarta-feira e quinta-feira que o Papa Francisco estaria considerando acabar com o celibato como condição para a ordenação sacerdotal. Entretanto, diversas autoridades eclesiais, assim como a mesma entrevista que deu origem aos chamativos titulares, assinalam que o Pontífice não tem nenhum plano de acabar com esta disciplina eclesiástica.
Os jornais de todo o mundo que anunciaram que o Papa Francisco estava considerando a "revolucionária" decisão, não se apoiaram em nenhuma declaração do Pontífice, mas na entrevista que o atual Núncio Apostólico na Venezuela e Secretário de Estado nomeado, Dom Pietro Parolin, concedeu ao jornal venezuelano "El Universal".
Durante a longa entrevista, o Arcebispo que assumirá a Secretaria de Estado em outubro, falou sobre diferentes temas, diplomaticamente evitando a um jornalista que queria fazer com que ele aceite posições "reformistas", como assentir aos comentários do teólogo dissidente suíço Hans Küng, ou coincidir com a convocatória de um Concílio Vaticano III.
Uma breve parte da entrevista incluiu o seguinte intercâmbio:
Jornalista: O celibato não é....
Dom Parolin: Não é um dogma da Igreja e se pode discutir porque é uma tradição eclesial.
Esta foi a frase sobre a qual os meios construíram não apenas a hipótese de que o futuro Secretário de Estado "abria a porta" à discussão sobre o celibato; mas que mesmo Papa Francisco o estava fazendo.
Em efeito, um comentarista consultado pela influente rede televisiva norte-americana NBC, Thomas Groome, professor de teologia de Boston College, assinalou que "dificilmente Parolin teria feito este comentário se não tivesse a impressão de que o Papa estaria aberto a ter esta conversação".
Entretanto, Groome e outros peritos consultados pelos meios seculares ignoraram a primeira parte da entrevista de El Universal, onde Dom Parolin assinala claramente que ainda está por familiarizar-se com os objetivos do Pontífice.
"A verdade", diz Parolin na entrevista, "é que não falei muito com ele e penso que quando tiver a graça e a oportunidade, perguntarei a ele o porquê desta eleição. Assim não saberia dizer qual foi a razão pela qual o Papa pensou em mim. Posso dizer, entretanto, que me sinto muito afim a sua maneira de entender a Igreja e, sobretudo, a seu estilo de simplicidade e de proximidade às pessoas, a seu ânimo de escutá-las e de tentar, seriamente, que a Igreja possa voltar a ter uma presença significativa no mundo de hoje".
Consultado sobre a entrevista concedida pelo futuro Secretário de Estado, o porta-voz da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, assinalou que "o que o Arcebispo Parolin falou é totalmente consistente com o ensinamento da Igreja".
Em efeito, para a Igreja, o celibato sacerdotal é uma disciplina, não um dogma. Portanto, a diferença do dogma, pode teoricamente mudar.
Entretanto, os meios seculares internacionais ignoraram importantes passagens da mesma entrevista, em que Dom Parolin explicou o valor do celibato.
Segue abaixo uma parte de como continuou a pequena passagem da entrevista citada no mundo inteiro:
Jornalista: "A que época se remonta o celibato?"
Dom Parolin: "Aos primeiros séculos. Depois, a implementação se aplicou durante todo o primeiro milênio, mas a partir do Concílio de Trento se insistiu muito nisso. É uma tradição e esse conceito permanece na Igreja porque ao longo de todos estes anos ocorreram acontecimentos que contribuíram para desenvolver a revelação de Deus. Esta finalizou com a morte do último apóstolo (São João). O que aconteceu depois foi um crescimento na compreensão e atuação da revelação.
Jornalista: A propósito do celibato...
Dom Parolin: O esforço que a Igreja fez para estatuir o celibato eclesiástico deve ser considerado. Não se pode dizer, simplesmente, que pertence ao passado. É um grande desafio para o Papa porque ele possui o ministério da unidade e todas essas decisões devem assumir-se como uma forma de unir à Igreja, não de dividi-la. Então se pode falar, refletir e aprofundar sobre estes temas que não são de fé definida e pensar em algumas modificações, mas sempre ao serviço da unidade e tudo segundo a vontade de Deus. Não se trata do que eu gosto, mas sim de sermos fiéis ao que Deus quer para a sua Igreja.
Em outra passagem da mesma entrevista, quando o jornalista tenta apresentar o Papa Francisco como um "revolucionário" que trará mudanças radicais, o Arcebispo Parolin esclarece:
"Assim é. Mas essas mudanças não podem colocar em perigo a essência da Igreja, que tem uma continuidade na história proveniente de sua fundação por Jesus Cristo. Então se deve ser fiel. A Igreja nunca poderá mudar ao ponto de adaptar-se completamente ao mundo. Se o fizesse e se perdesse nele, já não cumpriria sua missão de ser sal e luz para todos".
Mais adiante Dom Parolin continua: "E quero destacar o tema da continuidade porque às vezes parece (e não sei se exagero) que o Papa Francisco vai revolucionar tudo, mudar tudo".
Jornalista: "Não é isso o que se espera dele?"
Dom Parolin: "Espera-se que ele ajude à Igreja a ser Igreja de Jesus e a cumprir a sua função. Isso é o que devem fazer todos os papas. Mas a Igreja tem uma Constituição, uma estrutura, uns conteúdos que são os da fé e que ninguém pode mudar".
Em meio da tormenta de titulares mediáticos sobre o suposto "fim do celibato"; a jornalista da revista "Time", Elizabeth Dias, escreveu um breve, mas incisivo comentário com o título: "por que a política sobre o celibato para os sacerdotes católicos não vai mudar proximamente".
Dias explica que Dom Parolin não fez mais que explicar a antiga e tradicional diferença na Igreja entre dogma e disciplina. O celibato é, em efeito, uma disciplina. Entretanto, a jornalista de "Time" recorda que nenhuma disciplina importante mudou na história recente da Igreja; e conclui assinalando que, por essa razão, "Dom Parolin destaca que ‘as mudanças não podem colocar em perigo a essência da Igreja, que tem uma continuidade na história proveniente de sua fundação por Jesus Cristo’".