MADRI, 20 de set de 2013 às 15:54
Peritos consideram que o pensamento do Papa Francisco está por cima do fato de ser de esquerda ou de direita, coincidem em que a entrevista concedida a Civiltà Cattolica pode ajudar a conhecer melhor o Pontífice, a ver o seu tom "fresco" e "espontâneo", e advertem que não pode ser valorizada como uma encíclica, nem se vê nela descontinuidade com os seus predecessores.
Em declarações a Europa Press, o titular de Direito Eclesiástico do Estado da Universidade Complutense Rafael Palomino considera que os conceitos de "esquerda e direita pouco ajudam a situar o pensamento" de Francisco.
Assim, precisa que a gravidade dos problemas que ele teve que enfrentar o levou a atuar dessa forma "autoritária" que diz, mas adverte que o autoritarismo pode dar-se na "esquerda, na direita e no centro".
Em relação as suas palavras sobre o "matrimônio" homossexual, o aborto e a anticoncepção, Palomino acredita que o Papa está convidando a "falar de forma positiva" e a "não insistir no negativo", mas não está dizendo que "o que antes estava mal, agora está bem", mas está dizendo que a Igreja é mãe e, como tal, "gosta dos seus filhos mesmo que cometam erros".
Sobre o governo da Igreja, aponta que se pode esperar "colegialidade, consulta e reflexão" antes de tomar decisões; "sinceridade e abertura" na hora de dar explicações; assim como "uma luta aberta contra a hipocrisia e a mentira". O que não se pode esperar, conforme precisou, é que o Papa mude os Dez Mandamentos nem que venda o Vaticano para combater a pobreza.
Por outro lado, nas palavras do Pontífice sobre a mulher, Palomino vê "uma nova proposta" afastada do "feminismo tradicional que entende os sexos na leitura da luta de classes". Em qualquer caso, considera que o importante de sua mensagem neste sentido é o convite tanto a homens como a mulheres de descobrir o que podem fazer "fora dos muros de uma igreja".
Por sua parte, o professor da Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra e biógrafo de Bento XVI Pablo Blanco indicou que embora o Papa tenha falado que "jamais" foi "de direita", também não falou que é de esquerda. Segundo ele, representa "um cristianismo pós-ideológico" ainda que admita que com esta revelação o Papa talvez tenha querido "tirar da Igreja esse ar autoritário que provavelmente já teve em mais de uma ocasião".
Em relação aos temas éticos como o aborto e a anticoncepção, acha que o Papa Francisco recorda que requerem um contexto, pois "às vezes, são abordados de forma descontextualizada".
Além disso, sobre as pessoas homossexuais, Blanco assinala que Francisco "não diz nada distinto" do que diz o Catecismo da Igreja, "que estas pessoas devem ser acolhidas também na Igreja", e que ao mesmo tempo, devem ser ajudadas para que sejam "verdadeiramente livres".
Sobre as respostas do Papa a respeito das reformas na Cúria, Blanco acredita que se pode esperar "mais diálogo, transparência e colaboração". "Talvez não demoremos para ver uma Igreja tão romana como católica, como universal", destacou.
A respeito da presença da mulher nos postos de autoridade da Igreja, Blanco vê que Francisco se mostra "em sintonia" com Bento XVI e com João Paulo II –que já disse "que a pessoa mais importante na Igreja depois de Jesus Cristo, não é o Papa nem os bispos nem os sacerdotes mas sim uma mulher: Maria"–. Além disso, acha possível que se vejam "cada vez mais mulheres" no Vaticano.