VATICANO, 23 de set de 2013 às 15:20
O Papa Francisco explicou que todas as pessoas estão chamadas a viver o amor e a caridade concreta, especialmente com as pessoas mais necessitadas como os pobres e detentos, e que estas obras de solidariedade devem ser feitas de coração e com humildade, já que não podem ser "um assistencialismo para tranquilizar consciências".
Assim o indicou o Santo Padre ontem em Cagliari (Itália) no seu encontro com os detentos e com um grupo de pobres que recebe assistência da Cáritas local na Catedral. O Papa disse "obrigado a todos por estarem aqui, hoje. Nos seus rostos vejo cansaço, mas também esperança. Sintam-se amados pelo Senhor, e também por tantas pessoas boas, que com as suas orações e com as suas obras, ajudam a aliviar os sofrimentos do próximo".
"Eu me sinto em casa aqui. Aqui sentimos de uma maneira forte e concreta que somos todos irmãos. Aqui o único Pai é o nosso Pai celeste, e o único Mestre é Jesus Cristo. E a primeira coisa que quero compartilhar convosco é a alegria de ter Jesus como mestre e modelo de vida. Todos nós temos dificuldades, todos. Todos os que estão aqui, todos, temos misérias... fragilidade. Ninguém aqui é melhor do que os outros, todos somos iguais diante do Pai. Todos".
O Papa disse logo que "olhando a Jesus vemos que escolheu o caminho da humildade e do serviço... não foi indeciso, nem indiferente: fez uma eleição e a levou adiante até o final. Escolheu fazer-se homem, e como homem fazer-se servo, até a morte na cruz. Este é o caminho do amor, não há outro. Daí que a caridade não é um simples assistencialismo, e menos ainda, um assistencialismo para tranquilizar consciências. Não, isso não é amor, isso é negócio! O amor é gratuito. A caridade, o amor, são uma eleição de vida".
"Não há outro caminho para este amor: ser humildes e solidários. Esta palavra ‘solidariedade’, nesta cultura do descartável, onde o que não serve se joga fora... para ficar somente aqueles que se sentem justos... puros...limpos. Pobrezinhos!.. Esta palavra ‘solidariedade’ corre o risco de ser apagada do dicionário porque incomoda, porque obriga a olhar o outro e entregar-se a ele com amor.".
Mas o caminho da humildade e da solidariedade, acrescentou o Papa, não foram os padres que inventaram, procedem de Jesus e "não é um moralismo ou um sentimento... A humildade de Cristo é real, é a escolha de ser pequeno, de estar com os pequenos, com os excluídos, de estar entre nós, pecadores. Mas atenção, não é uma ideologia! É uma forma de ser e de viver que parte do amor, que parte do coração de Deus Pai".
É um caminho que "não basta olhar, é preciso segui-lo... Jesus não veio ao mundo para fazer-se ver... É um caminho e um caminho serve para percorrê-lo", destacou, agradecendo aos detentos o esforço por segui-lo "também no cansaço, no sofrimento, entre as paredes de uma prisão". Também agradeceu a todas as pessoas que se dedicam às obras de misericórdia, animando-as a prosseguir e advertindo que as obras de caridade se devem fazer sempre "com ternura, e sempre com humildade!".
O Santo Padre afirmou deste modo que "às vezes também se serve aos pobres com arrogância. Estou seguro de que já o viram... Algumas pessoas se gabam, enchem a boca com os pobres; instrumentalizam os pobres por interesses pessoais ou do próprio grupo. Eu sei, é humano, mas não está bem!.... E digo mais: é pecado! É um pecado grave, porque é ‘usar’ os necessitados, os que necessitam, que são a carne de Jesus, para a ‘minha vaidade’. É um pecado grave! Seria melhor que estas pessoas ficassem em casa!"
Para seguir Jesus no caminho da caridade é preciso "ir com Ele às periferias existenciais... Para o Bom Pastor, o que está perdido e se despreza é objeto de maior atenção. Na Igreja os primeiros, são aqueles que têm mais necessidade: humana, espiritual, material".
Seguindo Cristo no caminho da caridade "semeamos esperança... Os que têm responsabilidades políticas e civis têm uma tarefa, que como cidadãos é preciso sustentar ativamente. Alguns membros da comunidade cristã estão chamados a dedicar-se a este campo da política, que é uma forma alta de caridade, como dizia Paulo VI".
O Papa Francisco ressaltou finalmente que "como Igreja todos temos uma grande responsabilidade que é a de semear a esperança com obras de solidariedade, procurando sempre colaborar da melhor forma com as instituições públicas, no respeito das respectivas competências. A Caritas é expressão da comunidade, e a força da comunidade cristã é fazer crescer a sociedade desde o interior, como a levedura... Não se deixem roubar a esperança, ao contrário: semeiem-na".