VATICANO, 3 de out de 2013 às 23:47
"Olhando para a nossa realidade atual, pergunto-me se compreendemos esta lição da Pacem in terris. Pergunto-me se as palavras justiça e solidariedade estão somente no nosso dicionário ou se todos trabalhamos para que se transformem em realidade", disse o Papa Francisco hoje ao receber os participantes do encontro do Pontifício Conselho Justiça e Paz para comemorar o 50º aniversário da citada encíclica do Papa João XXIII que será canonizado junto com João Paulo II em 27 de abril de 2014.
A Pacem in Terris (Paz na terra), como recordou o Santo Padre, escreveu-se no período mais crítico da guerra fria, quando a humanidade temia encontrar-se a bordo um conflito mundial pelo enfrentamento entre os Estados Unidos e a União Soviética. Com ela João XXIII lançava um dramático chamado pela paz aos responsáveis pelo poder.
"Era um grito aos homens, mas era também uma súplica dirigida ao Céu. O diálogo que então começou laboriosamente entre os grandes blocos opostos levou durante o pontificado de um outro Beato, João Paulo II, à superação daquela fase e à abertura de espaços de liberdade e de diálogo.? As sementes de paz plantadas pelo Beato João XXIII trouxeram frutos. Porém, embora tenham caído muros e barreiras, o mundo continua a ter necessidade de paz e o apelo da Pacem in terris permanece fortemente atual".
A encíclica de João XXIII afirma que o fundamento da construção da paz consiste "na origem divina do homem, da sociedade e das próprias autoridades, que empenha os indivíduos, as famílias, os vários grupos sociais e os Estados a viver relações de justiça e solidariedade.? É tarefa então de todos os homens construir a paz, com o exemplo de Jesus Cristo, através destes dois caminhos: promover e praticar a justiça, com verdade e amor; contribuir, cada um segundo as suas possibilidades, com o desenvolvimento humano integral, segundo a lógica da solidariedade".
A consequência de recordar a origem divina da pessoa, da sociedade e da mesma autoridade não é outra que "o valor da pessoa, a dignidade de cada ser humano, de promover, respeitar e proteger sempre. E não são somente os principais direitos civis e políticos que devem ser garantidos, afirma o Beato João XXIII – mas se deve também oferecer a cada um a possibilidade de acessar efetivamente os meios essenciais de subsistência, a comida, a água, a casa, os cuidados de saúde, a educação e a possibilidade de formar e sustentar uma família".
"Estes são os objetivos que têm uma prioridade absoluta na ação nacional e internacional e são a medida da bondade. Disso depende uma paz duradoura para todos".
Certamente, disse o Santo Padre, "a Encíclica afirma objetivos e elementos que são agora adquiridos pelo nosso modo de pensar, mas é preciso perguntar-se: eu estou realmente na realidade? Depois de cinquenta anos, refletem-se no desenvolvimento das nossas sociedades?".
"A Pacem in Terris não tinha a intenção de afirmar que seja tarefa da Igreja dar indicações concretas sobre temas que, em sua complexidade, devem ser deixados à livre discussão. Sobre matérias políticas, econômicas e sociais não é o dogma a indicar as soluções práticas, mas sim o diálogo, a escuta, a paciência, o respeito ao outro, a sinceridade e também a disponibilidade de rever a própria opinião. No fundo, o apelo à paz de João XXIII em 1962 buscava orientar o debate internacional segundo estas virtudes".
O Papa explicou logo que "a crise econômica mundial, que é um sintoma grave da falta de respeito pelo homem e pela verdade com os quais foram tomadas decisões por parte dos Governos e dos cidadãos, nos dizem com clareza".
"A Pacem in Terris traça uma linha que vai da paz a construir no coração dos homens a um repensar o nosso modelo de desenvolvimento e de ação em todos os níveis, para que o nosso mundo seja um mundo de paz". "Pergunto-me -finalizou Francisco- se estamos dispostos a acolher este chamado".