ROMA, 18 de out de 2013 às 10:41
O jornalista italiano Nello Scavo, que viajou até a Argentina para conhecer a história do então sacerdote Jorge Bergolgio –hoje Papa Francisco- com a ditadura militar de Jorge Rafael Videla, constatou a inocência do agora Pontífice e confirmou que arriscou a sua vida para salvar vários perseguidos, entre eles o seu pai espiritual, o Pe. Orlando Yorio e o sacerdote jesuíta Francisco Jalics.
O caso foi arquivado na Argentina como "o Caso Yorio-Jalics" e foi utilizado em particular pelo jornalista Horacio Verbitsky e círculos próximos à presidente Cristina Kirchner para atacar o Arcebispo de Buenos Aires, Cardeal Jorge Mario Bergoglio, hoje Papa Francisco, como cúmplice do regime que se instaurou na Argentina entre 1976 e 1983.
Durante a ditadura militar, o fato de trabalhar nas vilas misérias ajudando os mais pobres era interpretado como um ato comunista. Em março de 1976 foram capturados os sacerdotes Jalics e Yorio, próximos ao Pe. Bergoglio.
Os sacerdotes foram detidos por conhecer uma catequista considerada pelo regime como guerrilheira e foram submetidos a longos interrogatórios nos quais lhes teriam feito acreditar que seu amigo, o Pe. Bergoglio, estava do lado do regime e os tinha traído.
Enquanto isso, o Padre Bergoglio encontrava-se arriscando a vida para libertá-los. Fez um acordo com o capelão militar que celebrava a Missa na casa de Videla para que fingisse que estava doente e Bergoglio o substituísse no cargo, para estar mais perto dos militares e ter acesso a mais informação sobre os sacerdotes sequestrados.
"Tratava-se de uma operação muito perigosa, porque as pessoas que o viram celebrar Missa na casa de Videla, diriam que ele era um amigo do regime. Mas ele não se importava com isso, mas aproveitou esta circunstância para encontrar os chefes da ditadura", explicou o jornalista ao Grupo ACI.
Segundo Scavo, o Papa se encontrou com os chefes da ditadura em pelo menos quatro ocasiões, e quando teve a certeza que seus amigos tinham sido sequestrados pela Armada Naval da Argentina se dirigiu a seu Almirante, Emilio Massera, para pedir a sua libertação.
Scavo explica que a reconstrução deste episódio "é dramática", porque Massera recebeu Bergoglio como um amigo e este pelo contrário, cansado de fingir cordialidade, reagiu de maneira inesperada: "Massera, tens que libertá-los o mais rápido possível!", exigiu.
O jornalista Scavo explica que o Pe. Bergoglio deixou Massera contrariado, não tinha outra saída e no dia seguinte, cinco meses depois de sua captura, os sacerdotes Jalics e Yorio foram libertados.
Depois de meses de tortura Yorio e Jalics saíram da prisão acreditando terem sido traídos pelo Pe. Bergoglio, mas finalmente compreenderam que o Pe. Bergoglio nunca esteve por trás de sua prisão.
O Pe. Yorio morreu no ano 2000, e o Pe. Jalics, que vive atualmente na Alemanha, visitou no dia 5 de outubro deste ano ao Papa Francisco em um encontro privado no Vaticano.
Ademais, em um comunicado publicado em março no site oficial dos Jesuítas na Alemanha, o Padre Francisco Jalics descartou enfaticamente que o Papa Francisco tivesse alguma responsabilidade no sequestro de 1976.
"Desde a minha declaração de 15 de março deste ano recebi muitas perguntas, assim que eu gostaria de acrescentar o seguinte. Sinto-me quase obrigado a fazê-lo, porque alguns comentários dizem o contrário do que queria dizer", afirmou.
"Estes são os fatos: Nem Orlando Yorio nem eu fomos denunciados pelo Padre Bergoglio".
"Antes, eu me inclinava a pensar que nós tínhamos sido vítimas de uma denúncia. Mas, no final dos anos 90 entendeu, depois de muitas conversações, que esta hipótese era infundada". "Portanto, é errôneo afirmar que nossa captura se realizou por iniciativa do Padre Bergoglio", concluiu.
O jornalista Scavo explica que estas afirmações de Jalics "estão por cima de qualquer acusação contra Bergoglio e deveriam fechar este capítulo para sempre". "Sem dúvida sempre haverá o típico grupo de interesses que tentará acusar de algo a este Papa extraordinário, mas também extraordinariamente revolucionário", conclui Scavo.
No fim de setembro deste ano, Scavo apresentou em Roma seu livro "A lista de Bergoglio", uma investigação a partir de testemunhos reais que enumera casos específicos nos quais o então sacerdote Bergoglio ajudou centenas de pessoas a escapar do terror da ditadura militar mediante uma rede clandestina de salvamento.
Poucos dias depois de sua eleição ao pontificado, outra importante voz da Argentina, Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do prêmio Nobel da Paz por denunciar os abusos da ditadura militar argentina durante os anos setenta, confirmou que o Pe. Bergoglio "não teve nada a ver com a ditadura e não foi um de seus cúmplices".