LIMA, 13 de dez de 2013 às 14:15
Em entrevista exclusiva com o Grupo ACI, o Arcebispo de Bogotá e Presidente da Conferência Episcopal da Colômbia, Cardeal Rubén Salazar, assegurou que apesar das dificuldades e das controvérsias, "os Bispos da Colômbia estamos firmemente convencidos de que o diálogo é o melhor caminho para pôr fim a tantos anos de violência".
O Cardeal Rubén Salazar recordou também que "a paz é um dom de Deus", por isso "a oração é, sem dúvida, uma das maiores contribuições que, como discípulos do Senhor, podemos fazer à paz da Colômbia".
Continuando, o Grupo ACI apresenta a entrevista concedida pelo Presidente da Conferência Episcopal da Colômbia:
Grupo ACI: Em um balanço geral como vê os avanços do diálogo de paz entre o Estado colombiano e as FARC?
Cardeal Salazar: Os Bispos da Colômbia estamos firmemente convencidos de que o diálogo é o melhor caminho para pôr fim a tantos anos de violência. Apesar das dificuldades do processo de negociações, os resultados obtidos até o momento nos confirmam nesta certeza. Com efeito, conseguiu-se avançar em uma série de acordos parciais sobre temas muito relevantes para a vida da Nação.
Justamente por isso, a Igreja apoiou e continuará apoiando estes esforços de paz.
Grupo ACI: Este processo gerou divisão entre muitos colombianos, vários dos quais estão sentindo um sabor de que se está cedendo muito aos guerrilheiros. Como a Igreja realiza um trabalho de reconciliação e união diante deste panorama?
Cardeal Salazar: Os colombianos, todos, desejamos viver em paz. Esse é um desejo comum que nos une. É compreensível que o processo de negociações suscite controvérsia e debate na opinião pública. Acho que esse debate contribui para o desenvolvimento do processo porque evidencia o nosso respeito à sã diversidade. O debate deve ser feito em alto nível, sem desqualificações ou ataques pessoais que em nada contribuem à autêntica busca de uma convivência pacífica.
Nesse contexto, durante este período, a Igreja desenvolveu diversas ações pastorais para ambientar a paz: jornadas de oração, peregrinações, foros e encontros. Sobretudo, estamos fazendo-nos presentes naquelas regiões que sofreram, com particular intensidade, o rigor da violência, estando muito comprometidos no acompanhamento às vítimas e às comunidades, abrindo caminho à reconciliação e ao perdão.
Grupo ACI: No que diz respeito à Igreja, tanto à hierarquia como aos leigos católicos, como podemos garantir que este seja um processo, que, mais que corroborar as injustiças já feitas e marcar "um novo começo" na relação, traga justiça à Colômbia?
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Cardeal Salazar: Não se trata de jeito nenhum de fazer "um novo começo". O processo de negociações deve encontrar saídas jurídicas e políticas que facilitem a plena reinserção à vida social dos envolvidos em armas, garantindo também os direitos prioritários das vítimas à verdade, à justiça e à reparação. O processo deve evitar qualquer aparência de impunidade. Nesse sentido, acho que as experiências de outros países que viveram exitosos processos de paz e de reconciliação podem ser muito úteis para encaminhar corretamente os nossos esforços.
Grupo ACI: O Papa se referiu, repetidamente, às vítimas da violência, e isso diz respeito de forma particular à Colômbia. Como a Igreja no país ajudou essas vítimas inocentes?
Cardeal Salazar: A Igreja está firmemente convencida de que o caminho da paz passa pelo reconhecimento da dignidade das vítimas e pela tutela de seus direitos à verdade, à justiça e à reparação. Há muitos anos viemos trabalhando em seu acompanhamento integral, conseguindo articular uma sólida rede de apoio psicossocial e espiritual que contribuiu, enormemente, para sanar as feridas da violência.
Além disso, em diversas regiões do país, viemos trabalhando na socialização da "Lei de Vítimas e Restituição de terras" que foi também fruto da nossa iniciativa. Nesse âmbito, há muito por fazer porque é necessário que essas disposições legais, aprovadas pelo Congresso, sejam implementadas com maior celeridade e eficácia.
Por outra parte, em repetidas ocasiões, os Bispos têm reafirmado a necessidade de que o processo de negociações abra maiores espaços de participação que permitam escutar e atender os legítimos requerimentos das vítimas da violência. O processo não lhes pode dar as costas, mais ainda quando —como pude comprovar— são precisamente as vítimas da violência as primeiras dispostas a apoiar a paz e a reconciliação.
Grupo ACI: Tanto narcotraficantes como guerrilheiros utilizaram o argumento das desigualdades sociais na Colômbia para justificar suas atividades. Como a sociedade deve responder frente a essas desigualdades, e evitar que a onda de violência na Colômbia continue?
Cardeal Salazar: Não se pode justificar o uso da violência. A Igreja entende que o final do conflito armado requer melhorar as condições para atacar as causas que o originam. Precisamente por isso, o episcopado colombiano refletiu e se pronunciou, em suas últimas assembleias plenárias, sobre questões tão importantes como a situação crítica do setor de saúde, a delicada questão agrícola, etc.
Nós bispos estamos firmemente persuadidos de que só o estabelecimento de uma ordem social mais justa e equitativa poderá garantir-nos uma paz estável e duradoura. Precisamente por isso atualizamos, muito recentemente, nossa proposta de mínimos para a paz e a reconciliação. Um texto programático fruto de anos de estudo e reflexão das comunidades, que aborda as causas do conflito armado e social, apresentando também algumas propostas concretas para conseguir soluções aos problemas que dificultam nossa convivência pacífica.
Grupo ACI: Qual é o papel da oração para a pacificação do país?
Cardeal Salazar: A paz é um dom de Deus e uma tarefa que cada um de nós está chamado a assumir como um compromisso pessoal de fé. Por isso, a oração é, sem dúvida, uma das maiores contribuições que, como discípulos do Senhor, podemos fazer à paz da Colômbia. A oração, com efeito, dispõe-nos a abrir nossos corações ao perdão e à reconciliação que tanto necessitamos, transformando-nos em verdadeiros construtores de paz e de reconciliação. Daí que os bispos peçamos uma oração especial pela paz nestas festas natalinas.