ROMA, 6 de jan de 2014 às 11:11
Em seu diálogo com a União de Superiores Generais, realizada no dia 29 de novembro de 2013 e publicada pela revista La Civiltà Cattolica, o Papa advertiu que a vida religiosa não é um refúgio e que o clericalismo é um dos males mais terríveis que devem ser vencidos na casas de formação e nos seminários; assim mesmo assinalou que embora todos somos pecadores, não se deve receber aqueles candidatos “corruptos”.
“A formação dos candidatos é fundamental. Os pilares da formação são quatro: espiritual, intelectual, comunitário e apostólico. O fantasma a ser combatido é a imagem da vida religiosa entendida como refúgio e consolo ante um mundo ‘externo’ difícil e complexo. Os quatro pilares devem interagir desde o primeiro dia de ingresso ao noviciado, e não devem ser estruturados em sequência. Deve haver uma interação”, afirmou.
O Santo Padre também advertiu que a cultura atual é “muito mais rica e conflitiva” que a de anos atrás, e diante disto é preciso hoje uma atitude distinta.
“Por exemplo: não se resolve os problemas simplesmente proibindo fazer isto ou aquilo. É necessário muito diálogo, muita confrontação. Para evitar os problemas, em algumas casas de formação, os jovens apertam os dentes, buscando não cometer erros evidentes, sujeitos a regras muito sorridentes, à espera de que um dia lhes digam: ‘Muito bem, terminou a formação”. Isto é hipocrisia, fruto do clericalismo, que é um dos males mais terríveis”, advertiu.
Francisco recordou que em seu encontro com os bispos da América Latina e o Caribe em julho do ano passado pediu “vencer esta tendência ao clericalismo, também nas casas de formação e nos seminários. Eu o resumo em um conselho que uma vez recebi de um jovem: ‘se quer ir adiante, pense claramente e fale obscuramente’. Era um claro convite à hipocrisia. É necessário evitá-lo a toda costa”.
Durante o diálogo, o Santo Padre também explicou que o diálogo com os jovens dever ser sincero, sério e sem medo. “É necessário considerar que a linguagem de hoje dos jovens em formação é distinta daquela dos que os precederam: vivemos uma mudança de época”.
“A formação é uma obra artesanal, não policial. Temos que formar o coração. Do contrário formaremos pequenos monstros. E depois, estes pequenos monstros formam o povo de Deus. Isto realmente me arrepia”, expressou.
Nesse sentido, recordou que ao momento de formar um religioso ou sacerdote, deve-se pensar no Povo de Deus. “É preciso formar pessoas que sejam testemunhas da ressurreição de Jesus (...). Pensemos naqueles religiosos que têm o coração ácido como o vinagre: não foram feitos para o povo. Enfim: não temos que formar administradores, mas pais, irmãos, companheiros de caminho”, assinalou.
Finalmente, advertiu que “se um jovem que foi convidado a sair de um Instituto religioso por causa de problemas de formação e por motivos sérios e depois é aceito em um seminário, é outro grande problema. Não estou falando de pessoas que se reconhecem pecadores: todos somos pecadores, mas não todos somos corruptos. Que se aceite os pecadores, mas não os corruptos”.
Nesse sentido, o Santo Padre afirmou que a grande decisão de Bento XVI ao confrontar os casos de abusos “nos deve servir de exemplo para ter a coragem de assumir a formação pessoal como um sério desafio, tendo sempre em mente o povo de Deus”.
Este extenso diálogo foi difundido na sexta-feira, 3, pela revista da Companhia do Jesus em inglês, italiano e espanhol e pode ser descarregado no link: http://www.laciviltacattolica.it/articoli_download/extra/Despierten_al_mundo.pdf