NOVA IORQUE, 6 de fev de 2014 às 13:26
O diretor da Liga Católica nos Estados Unidos, Bill Donohue, escreveu uma aguda crítica ao relatório que o Comitê dos Direitos da Criança da ONU apresentou ontem no qual pede ao Vaticano mudar a sua postura em relações a temas como o aborto e a homossexualidade para, supostamente, superar o problema dos abusos sexuais. O líder católico rebateu uma a uma as imprecisões e mentiras do documento de 15 páginas.
Bill Donohue assinala que o texto “não contém nenhuma nota de rodapé ou qualquer outro modo de explicação, mas proporciona uma grande quantidade de provas quanto a sua verdadeira agenda”. “O comitê da ONU utiliza o abuso sexual de menores como pretexto para seu verdadeiro objetivo: quer que o Vaticano se submeta a sua autoridade, e não apenas nos casos que envolvem o direito internacional: quer que a Igreja Católica mude o Direito Canônico e adote uma ética sexual secular. Desse modo, constitui um dos mais ambiciosos esforços nunca antes efetuados por um comitê da ONU, que é também profundamente ignorante dos dados”.
Na página 3 do relatório, prossegue Donohue, “o comitê assinala que a Santa Sé deve ‘adotar as medidas necessárias para retirar todas as suas reservas e para garantir a primazia da Convenção [da ONU] sobre as leis e regulamentos internos’. (Sua ênfase) é bastante explícita: ‘o Comitê recomenda que a Santa Sé faça um estudo exaustivo de seu marco normativo, em particular, do direito canônico, com o fim de garantir o pleno cumprimento da Convenção’".
Em outras palavras, continua, “o ensinamento da Igreja Católica, o magistério, quer dizer, o Papa em comunhão com os bispos, deve ceder ante a ONU. Isso equivaleria a pedir ao Congresso dos Estados Unidos que se assegure de que suas leis se ajustem às da ONU”, algo que considera uma mostra de uma “arrogância” sem igual.
Nas páginas 12 e 13, indica Donohue, o comitê diz que não quer somente que a Igreja Católica mude os seus ensinamentos sobre o aborto e a anticoncepção, como também diz que a Igreja tem que fazer mais em relação ao HIV/AIDS.
“É dolorosamente óbvio que estes especialistas não pensaram bem este assunto. Ou seja: se todo mundo seguisse os ensinamentos da Igreja quanto à sexualidade, não teríamos este problema em primeiro lugar. Para sermos exatos, os que adquirem o HIV/AIDS em geral o fazem porque vivem uma vida imprudente, em claro contraste com a súplica da Igreja pela abstinência”.
O comitê está tão determinado em mandar na Igreja que exige uma mudança no Direito Canônico e se dirige ao Vaticano “para pedir que as escolas católicas troquem os seus livros de texto e eliminem supostos ‘estereótipos de gênero’. Isto não é apenas mais um exemplo de seu abuso de poder, mas também o comitê não proporciona uma só evidência para sustentar sua exigência”.
Donohue comenta logo que “alguém deveria dizer a estes especialistas que o Vaticano não diz às escolas católicas que livros de texto ou planos de estudo devem adotar. Mas para os fanáticos do controle, o delegar é um conceito difícil de entender”.
O comitê instrui logo ao Vaticano sobre a necessidade de ter "programas de conscientização", insistindo na "formação sistemática" para aqueles que trabalham com menores. “Acaso não sabem quem começou com estas iniciativas? Nós não somos os que carecem de programas de capacitação obrigatórios: os culpados se encontram em outras comunidades religiosas e nas escolas públicas. Isto explica por que o abuso sexual não é um problema nas comunidades católicas atualmente como se é um problema em outros lugares. O comitê tem que ficar ao dia, caso realmente tenha um verdadeiro interesse no tema”.
Na página 8 o comitê pede ao Vaticano que ponha fim aos castigos corporais, assinalando que deve modificar "as leis, tanto do Direito Canônico como da Cidade do Vaticano". Ironicamente, a ONU detalha como dez mil crianças sírias foram assassinadas e torturadas nos últimos três anos.
As crianças na Síria, explica Donohue são violentadas sexualmente e fisicamente "com objetos de metal, látegos e bastões de madeira e metal" e também lhes arrancam as unhas das mãos e dos pés. Recebem choques elétricos nos genitálias e são queimadas com cigarros. A maioria destes atos de barbárie são cometidos por agentes do governo. “Entretanto, não há nenhums pedido para que as autoridades sírias cedam ante a ONU. Estão muito ocupados perguntando-se se a irmã Mary Alice está batendo em algum aluno inquieto com uma régua”.
Bill Donohue precisa que “a única tentativa de contribuir com provas é um fracasso colossal: na página 7 cita as Lavanderias da Madalena como uma instituição que obrigou às moças a ‘trabalhar em condições análogas à escravidão e foram frequentemente objeto de um trato desumano, cruel e degradante, assim como de abuso físico e sexual’. Isto é uma mentira total: o Relatório McAleese, uma investigação autorizada pelo governo irlandês, mostra que nada disso é verdade”.
Finalmente, o relatório diz que a Igreja precisa pôr fim à prática das “caixas para bebês”. Em muitos países há estas caixas junto a orfanatos. Ficam aí para permitir que moças grávidas fora do casamento ou que não podem cuidar dos seus bebês, permitam que outros criem os seus pequenos.
Isto conclui Donohue, “é uma prática humana e se pratica amplamente na Coréia do Sul. O que não é humano é matar os bebês no útero, que é justamente o que o comitê das Nações Unidas recomenda. Por pura demagogia, não há forma de superar este relatório. É tão malicioso como impreciso”.