VATICANO, 20 de mar de 2014 às 14:08
Joaquín Navarro-Valls, que foi o diretor do Escritório de Imprensa da Santa Sé por mais de 20 anos durante o pontificado do Beato João Paulo II, agradece a Deus pela publicação das memórias mais íntimas do Beato Wojtyla, as quais o Pontífice polonês ordenou queimar antes de sua morte.
As memórias foram publicadas no livro “Estou nas mãos de Deus. Anotações pessoais 1962-2003”, publicado em fevereiro em polonês e italiano por decisão de seu secretário pessoal, o hoje Cardeal Stanislaw Dziwisz.
“Graças a Deus aqueles papéis não foram queimados”, explicou Navarro-Valls ao ser perguntado sobre a publicação em uma entrevista concedida ao Grupo ACI no último dia 14 de março em Roma.
Os escritos recolhem algumas meditações do Pontífice sobre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Navarro-Valls assegurou que a publicação do texto, é sem dúvida um bem para a Igreja, como já o foram outras publicações deste tipo no caso de outros beatos ou Santos.
“Há um livro –continuou o ex-porta-voz do Vaticano-, que se chama “Vem, sê a minha luz”, da Beata Madre Teresa de Calcutá, é um livro comovedor, estupendo, foi traduzido a todas as línguas. Esse livro está constituído por todas as cartas que esta mulher, Madre Teresa, enviava a seus diretores espirituais ao longo dos anos, e muitas dessas cartas ela dizia a seu diretor espiritual: ‘Quando tiver terminado de ler, destrua este documento’. Era a sua vontade. Graças a Deus que nenhum, nenhum de seus diretores espirituais queimou esse documento e o conservou, e graças a Deus porque possibilitou a publicação desse livro magnífico onde se vê a vida interior desta mulher”.
“Se aconteceu alguma coisa assim com João Paulo II, eu digo: ‘Graças a Deus que aqueles papéis não foram queimados, porque têm um valor. Não um valor histórico ou de biblioteca, um valor de conhecer a fundo a vida interior dessa pessoa’. Eu acredito que seja justo que estes papéis não tenham sido queimados”, indicou.
O Beato João Paulo II será canonizado junto com o Beato João XXIII na Praça de São Pedro em uma cerimônia dirigida pelo Papa Francisco no próximo dia 27 de abril, festa da Divina Misericórdia.
Navarro-Valls, jornalista e médico espanhol que acompanhou João Paulo II durante muitas de suas viagens ao exterior, lembra que quando soube da notícia da canonização se dirigiu ao pontífice falecido em oração: “Disse-lhe, obrigado João Paulo II, pela obra mestra que fez com a sua vida e que pudemos ver os que estivemos perto de ti”.
Durante seus anos de serviço ao Papa, Navarro-Valls conta que costumava perguntar-lhe por que, apesar de sua grande quantidade de compromissos e seu estado delicado de saúde insistia em viajar por todo mundo.
“Havia uma época em que as pessoas saiam ao encontro do pároco, da Igreja, agora é o pároco, o sacerdote o que tem que sair ao encontro das pessoas”, respondia-lhe o Papa Wojtyla.
“Ele se considerava como um sacerdote que ia ao encontro das pessoas, e daí a necessidade que tinha de viajar por todo o mundo. Agora, penso também que com essas viagens e com a atenção que a imprensa mundial acompanhou essas viagens, milhares de imagens de televisão em todo mundo, nos jornais, na rádio... fazia com que o tema de Deus, que parecia ser um tema dormido na nossa cultura contemporânea, ficasse no primeiro plano da atenção dos meios”.
Para Navarro-Valls esta insistência missionária e sua relação com os meios de comunicação faziam parte do ministério do Beato Wojtyla: “O resultado era colocar no primeiro plano da atenção das pessoas a instabilidade do tema de Deus, que era uma coisa da qual nossa cultura tinha uma grande necessidade”, e “os meios estavam fascinados com o que este homem ia fazendo por todo mundo”.
Por último, Navarro-Valls, assegurou que a principal estratégia do pontífice para conquistar os meios foi que ele mesmo “era o melhor testemunho do que dizia”.
“Convencia também porque as pessoas se davam conta de que tudo isso que ele pregava, ele vivia e o vivia completamente. Falamos da intensidade de sua vida de oração, falamos de sua devoção à Virgem... Isto foi, eu acho, uma das imagens que ficarão aí e que convencem de João Paulo II. Ele era o melhor testemunho de tudo o que estava dizendo e as pessoas o seguiam”, concluiu.
Depois da morte de João Paulo II Navarro-Valls trabalhou por 15 meses com o Papa Bento XVI, foi substituído no cargo pelo sacerdote jesuíta Padre Federico Lombardi, e atualmente é presidente do Conselho assessor da Universidade Campus Biomédico de Roma.