VATICANO, 24 de mar de 2014 às 14:56
O Papa Francisco reuniu-se neste sábado com cerca de 400 membros da Associação Corallo, que reúne empresas de meios de comunicação, na Sala Clementina, e pediu-lhes fugir do caminho da mentira e da falsidade e de três pecados: a desinformação, a calúnia e a difamação.
O Santo Padre assinalou que “permito-me falar um pouco sobre isto. Para mim, os pecados da mídia, os maiores, são aqueles que seguem pelo caminho da mentira e são três: a desinformação, a calúnia e a difamação”.
“Estes dois últimos são graves, mas não tão perigosos como o primeiro. Por que? Vos explico. A calúnia é pecado mortal, mas se pode esclarecer e chegar a conhecer que aquela é uma calúnia. A difamação é um pecado mortal, mas se pode chegar a dizer: ‘esta é uma injustiça, porque esta pessoa fez aquela coisa naquele tempo, depois se arrependeu, mudou de vida’”.
“Mas a desinformação é dizer a metade das coisas, aquilo que para mim é mais conveniente e não dizer a outra metade. E assim, aquilo que vejo na TV ou aquilo que escuto na rádio não posso fazer um juízo perfeito, pois não tenho os elementos e não nos dão estes elementos. Destes três pecados, por favor, fujam! Desinformação, calúnia e difamação”.
O Santo Padre agradeceu o trabalho realizado por aqueles que fazem parte da Associação Corallo, e recordou que se deve “buscar a verdade com a mídia. Mas não somente a verdade! Verdade, bondade, beleza, as três coisas juntas”.
“O vosso trabalho deve desenvolver-se nestes três caminhos: o caminho da verdade, o caminho da bondade e o caminho da beleza. Mas verdades, bondades e belezas que sejam consistentes, que venham de dentro, que sejam humanas. E, no caminho da verdade, nos três caminhos, podemos encontrar erros, e mesmo armadilhas”.
“’Eu penso, busco a verdade…’: estejais atentos a não tornarem-se intelectuais sem inteligência. ‘Eu vou, busco a bondade…’: estejais atentos a não tornarem-se eticistas sem bondade. ‘Me agrada a beleza…’: estejais atentos a não fazer aquilo que se faz frequentemente, ‘maquiar’ a beleza, buscar os cosméticos para fazer uma beleza artificial que não existe”.
Francisco destacou que “a verdade, a bondade e a beleza é como vem de Deus e estão no homem. E este é o trabalho da mídia, o vosso trabalho”.
O Santo Padre também recordou que o clericalismo “é um dos males da Igreja”, pois “impede o crescimento do leigo”.
O mal do clericalismo “é um mal cúmplice”, indicou, “porque aos sacerdotes agrada a tentação de clericalizar os leigos, mas tantos leigos, de joelhos, pedem para ser clericalizados, pois é mais cômodo, é mais cômodo!. E isto é um pecado num duplo sentido! Devemos vencer esta tentação”.
“O leigo deve ser leigo, batizado, tem a força que vem do seu Batismo. Servidor, mas com a sua vocação laical, e isto não se vende, não se negocia, não se é cúmplice com o outro…Não! Eu sou assim! Porque está na identidade!, ali”.
O Papa recordou que “tantas vezes escutei isto, na minha terra: “Eu na minha paróquia, sabe? Tenho um leigo bravíssimo, este homem sabe organizar… Eminência, porque não o tornamos diácono?”. É a proposta do padre, imediata: clericalizar. Este leigo façamo-o…. E porque? Porque é mais importante o diácono, o padre, do que o leigo?”.
“Não! É este o erro! É um bom leigo? Que continue assim e cresça assim. Porque está na sua identidade de pertença cristã, ali. Para mim, o clericalismo impede o crescimento do leigo”.
“É uma tentação cúmplice a duas mãos. Pois não existiria o clericalismo se não existissem leigos que querem ser clericalizados. Está claro isto?”.
“Harmonia: Também esta é uma outra harmonia, pois a função do leigo não pode fazer o sacerdote, e o Espírito Santo é livre: algumas vezes inspira o padre a fazer uma coisa, outras vezes inspira o leigo”.
Indicando que embora existam as grandes mídias e as pequenas, e recordando o capítulo 12 da Carta de São Paulo aos Coríntios, o Santo Padre indicou que “na Igreja não existe nem grande nem pequeno: cada um tem a sua função, o seu ajuda o outro, a mão não pode existir sem a cabeça”.
“Todos somos membros e também as vossas mídias, quer sejam maiores ou menores, são membros, e harmonizados pela vocação do serviço na Igreja. Ninguém deve sentir-se pequeno, muito pequeno em relação ao outro muito grande. Todos pequenos diante de Deus, na humildade cristã, mas todos temos uma função”.
“Eu faria esta pergunta: quem é mais importante na Igreja? O Papa ou aquela senhora idosa que todos os dias reza o Rosário pela Igreja? Que o diga Deus, eu não posso dizê-lo. Mas a importância é de cada um nesta harmonia, pois a Igreja é a harmonia da diversidade”.
O Papa assinalou que “o Corpo de Cristo é esta harmonia da diversidade, e quem faz a harmonia é o Espírito Santo: Ele é o mais importante de todos. Isto é o que o senhor disse e eu gostaria de destacar. É importante: buscar a unidade e não seguir a lógica de que o peixe grande engole o peixe pequeno”.