VATICANO, 28 de mar de 2014 às 14:08
O Secretário do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Pe. Miguel Ángel Ayuso, afirmou que a devoção que cristãos e muçulmanos compartilham pela Virgem Maria é um fator importante que contribui para criar sentimentos de amizade entre os fiéis de ambas as religiões, um fato que acontece no Líbano e que é exemplo para outros países.
O sacerdote fez esta reflexão durante o 8º Encontro de Oração Islâmico-cristão ocorrido no dia 25 de março por ocasião da Solenidade da Anunciação do Senhor, celebrada no Líbano por cristãos e muçulmanos e que motivou o Governo a declará-la em 2010 como festa nacional.
Esta festa, afirmou o Pe. Ayuso, é “um verdadeiro exemplo da longa convivência entre muçulmanos e cristãos que caracteriza a história do Líbano, em meio a tantas dificuldades, e constitui também um testemunho para tantas outras nações”.
“Desde o Concílio Vaticano II a Igreja Católica reconhece que os muçulmanos honram a Maria, a Virgem mãe de Jesus, e inclusive a invocam com piedade... Maria é mencionada várias vezes no Corão. O respeito por ela é tão evidente que quando é nomeada no Islã acrescenta-se a expressão ‘Alayha l- salam’ (A paz esteja com ela). Os cristãos se unem de bom grau a esta invocação. Também devo mencionar os santuários dedicados a Maria aos que acodem muçulmanos e cristãos. Em particular, aqui, no Líbano, como esquecer o Santuário de Nossa Senhora do Líbano em Harissa?”, assinalou.
Nesse sentido, disse que “a devoção cria sentimentos de amizade: é um fenômeno aberto a todos e todas. As experiências culturais que nossas comunidades podem compartilhar fomentam a colaboração, a solidariedade, o reconhecimento mútuo como filhas e filhos de um Deus único que pertence à mesma família humana. Por isso a Igreja se dirige com estima aos fiéis do Islã. Com eles ao longo destes 50 anos, tratou de construir um diálogo de amizade e respeito mútuo”.
Do mesmo modo, assinalou que o diálogo entre ambas as religiões “procura estabelecer relações regulares com as instituições e organizações muçulmanas com o fim de promover o entendimento e a confiança mútua, a amizade e, quando possível, a colaboração”.
“Na metodologia do diálogo inter-religioso e, portanto, do diálogo entre cristãos e muçulmanos, devemos recordar que o diálogo é uma comunicação de duas vias... baseia-se no testemunho da própria fé e, ao mesmo tempo, na abertura à religião do outro. Não é trair a missão da Igreja, e muito menos um novo método de conversão ao cristianismo”, esclareceu.
Nesse sentido, explicou que “no documento ‘Diálogo e anúncio’, publicado conjuntamente em 1991 pela Congregação para a Evangelização dos Povos e o Conselho para o Diálogo Inter-religioso se fala de quatro formas diversas de diálogo inter-religioso: o diálogo da vida, o diálogo das obras, o diálogo dos intercâmbios teológicos e o diálogo da experiência religiosa. Estas quatro formas testemunham que não se trata de uma experiência reservada aos especialistas”.
O Pe. Ayuso concluiu recordando a exortação apostólica “Marialis Cultus”, promulgada em 1974 pelo Papa Paulo VI, a qual apresenta Maria como a virgem que escuta, a virgem que reza, a Virgem no diálogo com Deus. “Mas também é a imagem de um modelo de diálogo de busca quando, dirigindo-se ao arcanjo Gabriel, pergunta-lhe: ‘Como será possível?’ Maria, modelo para os muçulmanos e os cristãos, é também modelo de diálogo, já que ensina a acreditar, a não fechar-se em certezas adquiridas, mas a abrir-se aos outros e a permanecer disponíveis”, afirmou.